quinta-feira, 1 de outubro de 2015

REPENSAR A PRÁTICA COM OS COLEGAS


Pacto traz avanços ao formar professores, mas diversidade de teorias prejudica resultados



Repensar a prática com os colegas

Alfabetização na mira. Raphael Salimena
"Ainda temos, infelizmente, professores com uma formação inicial precária", diz Fátima Fonseca. Para ela, o pacto pode ajudar na solução do problema ao oferecer formação continuada. Essa possibilidade de debate foi apontada pelos professores da rede municipal de São Paulo como um dos principais destaques do Pnaic. "Favoreceu muito para os participantes o pensar e repensar a prática o tempo todo: poder voltar para o grupo de formação e debater o que havia sido feito em sala, como o aluno compreendeu, quais os avanços e as dificuldades deles", diz Fátima Antonio.

São várias as metodologias de alfabetização apresentadas no programa, que não segue uma orientação teórica única. "O Pnaic tenta abarcar tudo", diz Fátima Fonseca. Essa miscelânea implica aplicar uma variedade de atividades sem se aprofundar no questionamento sobre o que se entende por alfabetizar uma criança - discussão essencial. "Quando se defende que alfabetizar é levar o aluno a conhecer sílabas e juntar as letras para ler e escrever, algumas propostas do pacto dão conta. Mas se a perspectiva de que ler e escrever são ações intelectuais e não mecânicas, de que formar leitores e escritores competentes vai muito além de só codificar e de que a criança precisa conseguir fazer uso da linguagem escrita em suas diferentes formas, algumas atividades são questionáveis e não bastam", completa.

Questionamento semelhante é feito por Marisa Garcia, doutora em Educação e consultora do Programa Ler e Escrever, da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. "Defendo a boa intenção do programa, mas o material didático é ruim, algo mais próximo da cartilha." O Ministério da Educação (MEC) enviou às escolas livros didáticos, manuais do professor, jogos pedagógicos e softwares educativos, além de dicionários de Língua Portuguesa e obras literárias.

Para Marisa, falta ao Pnaic voltar-se para a criança. "O programa está centrado só no ensino, e não no processo de aprendizagem. Ele não leva em conta o tempo que a criança precisa para se apropriar do sistema de escrita, algo muito mais complexo do que se tratar de um código de escrita. Falta também discutir conhecimentos didáticos, e não só a metodologia." Tanto para que ocorra um aprofundamento sobre as questões que envolvem o processo de aprendizagem no ciclo de alfabetização quanto para minimizar eventuais falhas na formação inicial do professor, é preciso tempo. "Um ano não é suficiente para que ocorra uma mudança na prática do professor, para ele desconstruir o que está cristalizado na sua prática e estudar para que uma nova forma de trabalhar tenha espaço", diz Marisa.

Esse ponto, porém, foi revisto. Segundo Fátima Antonio, este ano, além da formação em Matemática, com a mesma carga horária de 2013 - 200 horas para os orientadores e 120 horas para os alfabetizadores -, a formação em alfabetização vai continuar, com mais 40 horas. Pela proposta inicial, em 2015 os orientadores ficariam disponíveis para formar alfabetizadores que não participaram dos primeiros anos de formação do Pnaic. "Mas há a possibilidade de nova reavaliação no fim deste ano e de que as turmas atuais também continuem com as aulas de Matemática e Língua Portuguesa no próximo." Mais do que ampliar a carga horária, o que se espera é a transformação do pacto em um programa de formação efetivamente continuada. "Essa não pode ser uma política pontual. Precisa ser permanente, uma formação garantida dentro do trabalho na escola pública", conclui Luciana, da UFRGS.

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