quarta-feira, 18 de maio de 2016

A arte de envelhecer


Conta um jovem universitário que, no seu primeiro dia de aula, o professor se apresentou e pediu que todos procurassem conhecer alguém que não conheciam ainda. 
Ele ficou de pé e olhou ao redor, quando uma mão lhe tocou suavemente no ombro. Deu meia volta e viu uma velhinha enrugada, cujo sorriso lhe iluminava todo seu ser. 
Ela lhe falou sorrindo: "Oi, gato. Meu nome é Rose. Tenho oitenta e sete anos. Posso lhe dar um abraço?" 
O moço riu e respondeu com entusiasmo: "Claro que pode!" 
Ela lhe deu um abraço muito forte. 
"Por que a senhora está na Universidade, numa idade tão jovem, tão inocente?" perguntou-lhe o rapaz. 
Rindo, ela respondeu: "Estou aqui para encontrar um marido rico, casar-me, ter uns dois filhos, e logo me aposentar e viajar." 
"Eu falo sério", disse seu jovem colega. "Quero saber o que a motiva a enfrentar esse desafio na sua idade." 
Rose respondeu gentil: "Sempre sonhei em ter uma educação universitária e agora vou ter." 
Depois da aula, ambos caminharam juntos, por longo tempo, e se tornaram bons amigos. 
Todos os dias, durante os três meses seguintes, saíam juntos da classe e conversavam sem parar. 
O jovem universitário estava fascinado em escutar aquela "máquina do tempo". Ela compartilhava com ele sua sabedoria e experiência. 
Durante o curso, Rose se fez muito popular na Universidade. Fazia amizades onde quer que fosse. 
Gostava de se vestir bem e se alegrava com a atenção que recebia dos outros estudantes. 
Ao término do último semestre, Rose foi convidada para falar na festa de confraternização. Naquele dia, ela deu a todos uma lição inesquecível. 
Logo que a apresentaram, ela subiu ao palco e começou a pronunciar o discurso que havia preparado de antemão. Leu as primeiras frases e derrubou os cartões onde estavam seus apontamentos. 
Frustrada e um pouco envergonhada, se inclinou sobre o microfone e disse simplesmente: 
"Desculpem que esteja tão nervosa. Não vou poder voltar a colocar meu discurso em ordem. Assim, permitam-me simplesmente dizer-lhes o que sei." 
Enquanto todos riam, ela limpou a garganta e começou: 
"Não deixamos de brincar porque estamos velhos; ficamos velhos porque deixamos de brincar. 
Há alguns segredos para manter-se jovem, ser feliz e triunfar. 
Temos que rir e encontrar o bom humor todos os dias. 
Temos que ter um ideal. Quando perdemos de vista nosso ideal, começamos a morrer. 
Há tantas pessoas caminhando por aí, que estão mortas, e nem sequer sabem! 
Há uma grande diferença entre estar velho e amadurecer. Se vocês têm dezenove anos e ficam um ano inteiro sem fazer nada produtivo, se converterão em pessoas de vinte anos. 
Se eu tenho oitenta e sete anos e fico por um ano sem fazer nada de útil, completarei oitenta e oito anos. 
Todos podemos envelhecer. Não requer talento nem habilidade para isso. O importante é amadurecer, encontrando sempre a oportunidade na mudança. 
Não me arrependo de nada. Nós, de mais idade, geralmente não nos arrependemos do que fizemos, mas do que não fizemos. 
E, por fim, os únicos que temem a morte são os que têm remorso." 
Terminou seu discurso cantando "A rosa". Pediu a todos que estudassem a letra da canção e a colocassem em prática em suas vidas. 
Rose terminou seus estudos e, uma semana depois da formatura, morreu tranquilamente, enquanto dormia. 
Mais de dois mil estudantes universitários assistiram as honras fúnebres, para render tributo à maravilhosa mulher que lhes ensinou, com seu exemplo, que nunca é demasiado tarde para chegar a ser tudo o que se pode e deve ser.
Apenas Uma Canção de Amor

Envelhecer - Albert Camus
"Envelhecer é o único meio de viver muito tempo.
A idade madura é aquela na qual ainda se é jovem, porém com muito mais esforço.
O que mais me atormenta em relação às tolices de minha juventude, não é havê-las cometido...é sim não poder voltar a cometê-las.
Envelhecer é passar da paixão para a compaixão.
Muitas pessoas não chegam aos oitenta porque perdem muito tempo tentando ficar nos quarenta.
Aos vinte anos reina o desejo, aos trinta reina a razão, aos quarenta o juízo.
O que não é belo aos vinte, forte aos trinta, rico aos quarenta, nem sábio aos cinquenta, nunca será nem belo, nem forte, nem rico, nem sábio...
Quando se passa dos sessenta, são poucas as coisas que nos parecem absurdas.
Os jovens pensam que os velhos são bobos; os velhos sabem que os jovens o são.
A maturidade do homem é voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufruía quando se era menino.
Nada passa mais depressa que os anos.
Quando era jovem dizia:
“verás quando tiver cinquenta anos”.
Tenho cinquenta anos e não estou vendo nada.
Nos olhos dos jovens arde a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz.
A iniciativa da juventude vale tanto a experiência dos velhos.
Sempre há um menino em todos os homens.
A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente.
Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam sós.
Feliz é quem foi jovem em sua juventude e feliz é quem foi sábio em sua velhice.
Todos desejamos chegar à velhice e todos negamos que tenhamos chegado.
Não entendo isso dos anos: que, todavia, é bom vivê-los, mas não tê-los."

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