quinta-feira, 30 de abril de 2015

ENTREVISTAS


REVISTA PROFISSÃO MESTRE
Alessandra Assad

Ele é um profundo conhecedor de Gente. Cesar Romão nasceu em São Paulo, onde fundou e presidiu por 20 anos uma das maiores empresas da área metalúrgica no Brasil. É dele o Projeto de reconhecimento internacional "Fábrica de Gente", que, ao longo de 19 anos, reintegrou à sociedade três mil meninos de rua, através do trabalho e profissionalização especializada.
Autor dos livros "Tudo vai dar certo", "Tente outra vez", "Fábrica de gente" e "A semente de Deus", e com um currículo invejável (Bacharel em Direito pela Universidade Mackenzie, Pós-Graduado e Especialista em Administração pela Universidade São Judas Tadeu, tem MBA em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas, é Habilitado em Didática do Ensino Superior e Prática de Magistério pela Universidade São Judas Tadeu, acumula diversos cursos de extensão nos EUA) ele ainda tem tempo para ser Membro do Conselho da Escola Superior de Gestão Strong (Conveniada FGV Management), motivador da Força da Paz da ONU integrada por Militares do Exército Brasileiro e.dedicar-se à sua empresa de Consultoria e Comunicação.
Em entrevista exclusiva à revista Profissão Mestre, o conferencista e professor, com atuação de expositor e facilitador em congressos e seminários Educacionais, defende a idéia que mais vale o que se aprende, do que aquilo que se ensina. Para ele, os professores hoje têm de procurar ser generalistas, conhecer muito além de sua área de ensino para poderem ensinar e compreender esta nova geração de alunos, que necessita de uma nova geração de professores.

Profissão Mestre - Como é a profissão de educador hoje em dia?
CR
 - Profissionalmente, em se tratando de conhecimento e atualização, nunca se teve um tempo como este, graças à globalização das informações e as possibilidades de pesquisa em diversas partes do mundo, sem sair de seu escritório. Os educadores de hoje têm a possibilidade de cada vez mais buscarem aperfeiçoamento de seus conhecimentos aumentando suas competências, e quem ganha com isto são os alunos, pelo motivo de estarem diante de professores bem preparados.
Financeiramente, ainda há muito que se fazer em nível geral, desde o ensino primário até o universitário. É impressionante que nosso governo ainda não tenha notado o poder que a educação tem na formação de um país melhor e nem o quanto economizariam em programas sociais. Outro ponto é a expansão de Faculdades e Universidades particulares, criando novas oportunidades para os profissionais de ensino, mas ainda seguindo uma política de remuneração ultrapassada e incompatível com as necessidades profissionais dos professores.
Eu pessoalmente tenho minha atuação nesta área com muita paixão e pretendo num futuro próximo me dedicar ainda mais nesta atividade, que segundo D. Pedro I: "se pudesse escolher uma profissão escolheria a de professor".
Uma profissão gratificante e de novos rumos sempre uma profissão do futuro, afinal as pessoas caminham sob a terra há 12 milhões de anos e a única coisa que vêem repetindo neste tempo todo é o processo de aprendizado.

PM - Motivação hoje é causa ou conseqüência para um professor?
CR
 - Nem causa, nem conseqüência. Muito mais que isso é um instrumento didático, que torna o professor um elemento educativo, com capacidade de contagiar através de persuasão. Uma vez que toda informação apresentada de maneira que tenha emoção, é mais fácil de ser assimilada e difundida, não só no mercado educacional, mas em todos os contextos de expansão de informação, a motivação é hoje elemento primordial. Ela tem efeito contagiante, auxilia na credibilidade, mostra empenho e demonstra carisma, assim como interesse nos alunos.

PM - Violência, baixo salário, competição pela atenção dos alunos...Como o professor pode manter sua motivação?
CR
 - Eu reconheço que a didática de ensino deve mudar muito e se adaptar novamente. Nós progredimos da "palmatória" ao "laptop". Não falta muito para progredirmos para um reconhecimento salarial mais justo e para métodos com mais resultados em reter a atenção dos alunos na difusão da informação. Professores se motivam por suas novas descobertas, por suas novas pesquisas e o desejo de ver seu trabalho discutido numa sala de aula.

PM - O senhor tem passagens por vários congressos educacionais. Como o professor, em geral, vê a sua situação?
CR
 - As perspectivas são muito boas, as possibilidades de trabalho estão crescendo, o nível de informação está se superando e a classe está se integrando cada vez mais. Basta ver o número de professores em Congressos há alguns anos atrás comparados com lotação dos Congressos de hoje. Existem até professores que pensam em fundar uma cooperativa educacional e conduzirem Universidades Cooperativadas por todo Brasil. Eis aí o professor empreendedor, indo além da atuação em sala de aula.

PM - Qual o perfil de uma instituição de ensino motivadora?
CR
 - Uma Instituição motivadora é aquela que respeita o aluno, os seus ideais; vai além do banco da escola, difunde conhecimentos privilegiados, conduz sua didática num caminho de resultados e mais do que colocar informação nos cérebros coloca inspiração no coração e desenvolve a crença de que o aluno poderá construir uma brilhante carreira com o curso que está vivenciando.

PM - Como conciliar um plano de carreira de professor com a motivação?
CR
 - Ser professor, mais do que uma carreira, acredito que seja uma missão, que exige total conhecimento de aptidão e desenvolvimento de competência. Infelizmente, como em outras profissões, encontramos profissionais extremamente bem sucedidos e outros nem tanto. No Brasil, o processo de valorização dos professores ainda está engatinhando. Não temos uma política que possa realmente reconhecer a importância e a grandiosidade desta profissão. O descobrimento de sua aptidão para lecionar, é a primeira referência motivadora. A segunda é encontrar meios para que sua profissão lhe dê condições de existência dentro de suas necessidades. A terceira, é reconhecer que mesmo um ótimo professor tem sempre algo para aprender.

PM - Fale um pouco sobre seu projeto Fábrica de Gente. Como o professor pode aplicar conceitos semelhantes em sala de aula?
CR
 - Na verdade, os conceitos, a experiência do livro e a vivência, são conceitos para serem discutidos em sala de aula, como um Case, capaz de causar reflexões profundas no universo humano e social. Narro toda história do projeto em meu livro com o mesmo título: "Fábrica de Gente", que encontra-se em todas em livrarias do Brasil, que também é adotado em diversas Faculdades e Universidades.

PM - Como o professor pode ajudar os alunos a motivarem-se em sala de aula? É preciso dar show, contar piadas, como em aulas de cursinho? A motivação do aluno é externa ou interna?
CR
 - Nada de show, nada de piadas...É preciso nos dias de hoje conhecimento de transmissão de informações, saber como o cérebro atua, como recebe e armazena informações. Conhecimento de relacionamento humano, assim como comportamento. De nada adianta uma avalanche de informações se o aluno não aprende nem 1%. Mais vale o que se aprende, do que aquilo que se ensina. Professores têm de estar sempre dispostos a se relacionarem ao nível do aprendizado. Tenho sugerido a muitos deles em Congressos nos quais faço palestras, que procurem o curso de oratória de Reinaldo Polito, é fundamental nos dias de hoje não só passar informações, mas como passar estas informações de maneira nutritiva e com resultados positivos. Alguns professores não se preocupam em conhecer como as informações podem ser transferidas de maneira agradável, apenas dão aula.
PM - Quais as características que o educador deve ter para dar melhores aulas e entusiasmar seus alunos pelo estudo?
CR
 - Conhecimento; espírito de pesquisa; causar reflexões; causar muitas dúvidas; comunicação verbal; conhecer bem cada um de seus alunos; ele mesmo, o professor, tem de estar entusiasmado; mostrar-se interessado pela situação dos alunos e ter informações privilegiadas.

PM - Aluno desmotiva? Por que?
CR
 - Aluno não pode desmotivar dentro do conceito educacional porque ele é o motivo do professor estar lá. Quando um professor acredita que os alunos estão tirando seu entusiasmo de dar aulas, é o momento dele refletir e se fazer as seguintes perguntas: 1a) O que devo parar de fazer? 2a) O que não estou fazendo? ; 3a) O que devo fazer? Um professor desta nova era da educação, deve desenvolver competências e habilidades não só na matéria que ministra, mas em relacionamento e comportamento dos alunos; conhecer mais sobre este item, causa mudança de paradigmas, mudança de atitudes, mudança de conceitos, mudança de hábitos, que são necessárias para estabelecer um relacionamento nutritivo, que motive não só o aluno como também o professor.

PM - Como deve ser o relacionamento professor/aluno?
CR
 - A barreira ao longo dos tempos inserida na história pela robustez de muitos professores, fez com que esporádicos professores que contassem uma piada e se mostrassem alegres, levassem uma vantagem e tanto no ensino, mas por outro lado, em pesquisa que realizei junto a alunos, descobri uma coisa interessante: os alunos se lembram em 99% dos casos, apenas dos professores que foram mais exigentes com eles. Isto prova que exigir resultados dos alunos deve fazer parte do relacionamento, assim como respeito e confiança.

PM - Alguns afirmam que, com os pais cada vez mais ocupados, as crianças cada vez mais tempo nas escolas, está havendo uma dificuldade dessa nova geração trabalhar com emoções. Como o senhor vê essa questão?
CR
 - Hoje, os professores têm de procurar serem generalistas, conhecerem muito além de sua área de ensino para poderem ensinar e compreender esta nova geração de alunos, que necessita de uma nova geração de professores. Tenho dito, que pais ao terem filhos atualmente deveriam ter de obter um diploma sobre como criar estas novas crianças, estes novos jovens. Muitos pensam que a escola tem de fazer tudo, evitar tudo...e sabemos que milagres são um outro departamento do Universo Celestial.
Pais nunca podem estar ocupados demais para darem atenção educacional aos seus filhos, nunca...Nenhuma escola do mundo consegue salvar um aluno condenado pela ausência de pais. Talvez a aproximação maior das escolas junto aos pais, com um número maior de reuniões e até um curso de profundidade pudesse auxiliar as coisas ficarem melhor. A convivência em família é fundamental em qualquer processo educacional. Um aluno nunca deve sentir-se sozinho em sua escalada do conhecimento.

PM - O senhor disse: Um dos maiores problemas do mundo atual, não é conseqüência da globalização, da inflação ou da diferença social, mas sim a dificuldade que as pessoas têm de sonhar. O professor deve ensinar a sonhar, em um mundo onde a competência matemática e o domínio da tecnologia parece ser a única coisa que importa ou, pelo menos, é assim que muitas empresas agem?
CR
 - Um professor deve ensinar a sonhar sim, a sonhar que o aprendizado que está ministrando pode ser um ótimo companheiro para se obter tudo aquilo que o aluno pensa conseguir em sua vida, que o conhecimento é o caminho do saber, e o saber auxilia no caminho do ter e do ser.

PM - O que um professor deve passar para seus alunos para que eles planejem seu próprio futuro e sucesso?
CR
 - Um professor deve sempre fornecer o maior número de informações e conhecimentos possíveis. Estas são as ferramentas, além de deixar claro ao aluno que em determinado momento de sua trajetória, ele pode precisar de um martelo, ou de um simples prego, ou até mesmo saber que um dia Alexandre o Grande espirrou. Só planeja que tem informações para planejar.

PM - A Universidade não é mais a sede do saber a informação está disponível no mercado da informática, nos computadores de última geração e até nas bancas de jornal. Qual o papel da universidade hoje?
CR
 - O que está disponível é a informação, não o conhecimento, que significa transformar informação em resultado aplicável. A Universidade tem de encontrar maneiras de fazer estas informações atuarem na vida dos alunos e da sociedade de forma produtiva.

PM - As escolas poderiam melhorar muito o ensino, sabendo o que seu aluno pensa. O aluno deveria ser tratado mais como cliente que como aluno. O aluno só é notado quanto atrasa a mensalidade. Qual a causa deste comportamento social da escola? Onde encontrar a solução para o problema?
CR
 - "Aluno não pode pensar, e deve entrar mudo e sair calado, quem manda aqui é a escola...", eu já ouvi está frase... Quanto mais as escolas souberem sobre seus alunos, quanto mais informações tiverem sobre eles, mais poderão estar próximas de decisões importantes para fortalecer o relacionamento e oferecer benefícios a ambos os lados. A política do Cliente seria uma boa regra para a criação de uma base de atuação, até porque hoje as escolas concorrem entre si, basta notar as propagandas.
Este comportamento social das escolas é puro despreparo com relação às novas fronteiras da administração. Como exemplo posso citar a Faculdade Strong de Administração em Santo André, conveniada a FGV, que possui um tratamento muito especial com todos os alunos, vale conhecer, é um bom Case.

PM - Por que o símbolo da educação ainda é caderno cheio de escrita?
CR
 - Escrever não é saber. Sou a favor de no primeiro dia de aula, o professor dar todas as questões que irão cair nas provas do ano e passar o ano discutindo as respostas até o dia da prova. Educação hoje é discussão de idéias, oferecer o essencial para gravar o primordial.

PM - O senhor recentemente deu palestras para o exército brasileiro e forças de paz da ONU, baseadas em seus livros. Como foi essa experiência? Um professor de exército é o mesmo que um professor de escola primária em algum ponto? Qual?
CR - Uma experiência magnífica, fui para ensinar e aprendi muito. É impressionante a capacidade de ensino desta organização, o Exército Brasileiro. Não, de maneira alguma, professores de Exército possuem um preparo que todo professor do mercado educacional sonharia, eu teria imenso prazer em lhe falar sobre o processo de ensino do Exército, quem sabe numa outra oportunidade, a educação do Brasil descobriria um modelo e tanto, e o Gen.de Exército Francisco Roberto de Albuquerque ficaria orgulhoso de saber que o processo "Braço forte e mão amiga" iria ensinar muitos brasileiros. Penso que o ponto comum entre eles é que são professores.

PM - O senhor afirmou que o Brasil é um país em busca de uma identidade. Como o professor pode fazer seus alunos buscarem essa identidade?
CR
 - Na verdade alunos não buscam identidade, eles criam identidade. Nossa história começou a ser escrita nos bancos de escola, e ainda é. Talvez seja esta a razão que me faz crer que fazer os alunos refletirem e discutirem com as ferramentas que a escola lhes dá através da metodologia de ensino é um poderoso instrumento na formação de pessoas.

PM - É possível para um professor que ganha pouco e precisa pagar as suas contas em dia e trabalha muito o dia inteirinho, muitas vezes em três turnos até, unir a paixão do trabalho com o lazer e conseguir se motivar? É possível motivar ganhando pouco?
CR - Ao longo da história, sinto que faltou aos professores um pouco de ousadia. É evidente que a profissão em termos de remuneração, principalmente na Rede Pública precisa ser revista. Vencer essa dificuldade requer criatividade, foco em buscar novos mercados, abandonando sua zona de conforto. Ganhar pouco hoje não é sinônimo de que se vá ganhar pouco durante toda profissão. Hoje não basta o professor ser inteligente, ele tem que ser criativo. Uma pessoa inteligente inventou a roda. Uma pessoa criativa colocou um eixo entre duas rodas.

Fonte: www.profissaomestre.com.

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