sábado, 14 de março de 2015








UMA ESCOLA EM CRISE
Havia uma certa escola apelidada de Escola dos Pesadelos. Trabalhar e estudar
nela era um verdadeiro martírio. Os alunos viviam agitados, não se respeitavam,
freqüentemente se agrediam. No semestre anterior, um aluno havia ferido outro,
deixando-o paraplégico com uma bala na coluna.
Muitos professores estavam ansiosos, deprimidos, amedrontados devido ao
clima da escola. Os alunos viviam alienados, ansiosos e irritados. Para muitos, o último   lugar em que queriam estar era dentro da sala de aula. Raramente alguém tinha interesse em aprender.
Estudar, assimilar o conhecimento, fazer provas era uma chatice  insuportável.
Os conflitos eram tão graves que diariamente se chamava o policiamento.
A  escola deixou de ser um canteiro de paz e se converteu num canteiro de medo.
Nada  parecia mudar o caos dessa escola.
Certa vez, um professor de física, que deu uma nota baixa para três alunos, foi
ameaçado de morte. Temendo pela sua vida, abandonou a escola. Foi o décimo
professor a desistir de trabalhar na escola no último ano.

UM NOVO PROFESSOR DE FÍSICA FOI CONTRATADO, ROMANOV. TINHA APENAS 1,55 M DE ALTURA, ERA FRANZINO, MAGRO E APARENTEMENTE TÍMIDO. AO VÊ-LO, ALGUNS ALUNOS, COM UM SORRISO SARCÁSTICO, PENSARAM: "COITADO! ESSE NÃO DURA UMA SEMANA. SE O ANTIGO
PROFESSOR, QUE TINHA 1,90 M E ERA MUSCULOSO, NÃO SUPORTOU A AMEAÇA, ESSE SERÁ  FACILMENTE DOMINADO", IMAGINAVAM.

No primeiro dia de Romanov um grave problema ocorreu. Um aluno agressivo e
autoritário, apelidado de Gigante, colocou a lixeira da sala ao lado da porta para o
professor tropeçar. Romanov entrou eufórico, estava animado em se apresentar, nem olhou para o chão. O pequeno professor jamais sofreu uma queda tão feia. Quase  quebrou a perna.
A CLASSE NÃO CONTEVE O RISO, EMBORA ALGUNS TIVESSEM PENA DO MESTRE. ROMANOV LEVANTOU-SE SERENAMENTE, TIROU O PÓ DA CALÇA E MOMENTOS DEPOIS FITOU A FACE DE TODA A TURMA. NÃO DISSE PALAVRA ALGUMA, MERGULHOU NUM PROFUNDO SILÊNCIO. NO COMEÇO, NINGUÉM SE AQUIETOU. OS MINUTOS SE PASSARAM E A PLATÉIA COMEÇOU A FICAR INCOMODADA.
O SILÊNCIO DO NOVO PROFESSOR PENETROU POUCO A POUCO NA MENTE DOS ALUNOS E OS INQUIETOU. NUNCA VIRAM UMA REAÇÃO COMO ESSA. ESPERAVAM BRONCAS E SERMÕES, MAS FORAM INUNDADOS POR UM GRITANTE E PERTURBADOR SILÊNCIO. QUINZE MINUTOS DEPOIS, TODOS ESTAVAM CALADOS.

A GRANDE LIÇÃO
Acalmada a platéia, Romanov a chocou, soltou uns gritos incompreensíveis, que
assustaram a todos os alunos. Após o choque, ele começou a fazer movimentos com as mãos, como se fosse um catedrático em artes marciais. Os olhos dos alunos não
conseguiam acompanhar seus movimentos.
De repente, o professor virou uma cambalhota no ar. Os alunos, atônitos, não
acreditaram no que viram, o espaço parecia tão curto para um movimento tão fantástico.
Parecia um filme.
Finalmente entenderam que estavam diante de um grande mestre do karatê, um
magnífico faixa preta. Romanov já ganhara inúmeras medalhas em muitas competições.
Treinou os alunos a lutar e se dominar, era valente, corajoso e admirado. MAS DEIXOU  TUDO PARA SER UM PROFESSOR.
E, como professor, queria treinar seus alunos a pensar sobre dois mundos, o
mundo em que estão (o físico) e o mundo de que são (o psíquico). Após deixar a platéia  embasbacada com sua habilidade, bradou com voz poderosa:
— Quem colocou o cesto do lixo para que eu tropeçasse?
Gigante se encolheu. Começou a tremer os lábios. Sua insegurança o denunciou.
Aproximando-se dele, olhou firmemente nos seus olhos e abalou-o:
— O poder de um ser humano não está na sua musculatura, mas na sua
inteligência. Os fracos usam a força, os fortes usam a sabedoria. Que tipo de força você
tem usado? — perguntou o mestre.
Gigante não respondeu. O professor perguntou qual era o seu nome. O jovem
falou rapidamente. Perguntou se ele tinha apelido. Ao saber seu apelido, o professor
balançou  a cabeça e fez uma pergunta para a classe:
— QUEM AGRIDE OS OUTROS É FRACO OU FORTE?
Romanov ensinava através da arte da pergunta. A ARTE DA PERGUNTA ABRIA AS JANELAS DA MENTE DOS ALUNOS E OS FAZIA PENSAR SOBRE VÁRIOS ÂNGULOS UM MESMO PROBLEMA, DESENVOLVENDO ÁREAS NOBRES DA INTELIGÊNCIA.
QUERIA QUE ELES PENSASSEM DE MANEIRA AMPLA E ABERTA.
Contrariamente ao que sempre acreditaram, a turma respondeu:
— Quem agride é fraco!
— Então aqueles que promovem guerras e atos violentos são fracos. Quem usa a
agressividade e não a sua inteligência é frágil. Em seguida, voltou para a classe e
acrescentou: — Todavia, para mim o Gigante não é fraco, mas um grande ser humano. Tenho certeza de que ele tem um excelente potencial intelectual. Ele precisa somente  descobrir esse potencial.

A platéia ficou paralisada com suas palavras. Atônitos, os estudantes se
perguntavam: "Como ele conseguiu elogiar um aluno do qual todos os professores
procuram manter distância?"
 E, dirigindo-se ao Gigante, abriu-lhe a mente. Disse-lhe:
— Você me machucou, mas para mim você não é um problema nem um inimigo. Saiba que você não é mais um número na classe, mas um ser humano especial.
Se você me permitir, gostaria de conhecê-lo melhor e ter a oportunidade de ser seu
amigo. — Em seguida, estendeu-lhe a mão.
O PEQUENO PROFESSOR TORNOU-SE GRANDE NA PERSONALIDADE DO ALUNO VIOLENTO, QUE  NÃO AMAVA NEM RESPEITAVA NINGUÉM. A IMAGEM DE ROMANOV FOI ARQUIVADA NOS SOLOS DO INCONSCIENTE DE GIGANTE DE MANEIRA PRIVILEGIADA.
A partir daí, Gigante, que detestava física, passou a curti-la.

QUEM AMA SEU  MESTRE, AMA A MATÉRIA QUE ELE ENSINA.
 QUEM NÃO AMA SEU PROFESSOR, DIFICILMENTE AMARÁ SUAS IDÉIAS. ROMANOV ACREDITAVA NESSA TESE.

Vários alunos também se comoveram com o episódio. Romanov não tinha
apenas conhecimento lógico sobre física, ele conhecia o território da emoção, por isso era um professor fascinante, sabia resolver conflitos em sala de aula. Rompeu o ciclo da agressividade, começou a surpreender e tratar com gentileza seus agressores.

A ESCOLA DOS PESADELOS COMEÇOU A RECEBER OS RAIOS SOLARES DOS SONHOS, O SONHO DA SABEDORIA, DA GENEROSIDADE, DA FÉ NA VIDA. A DOR SE TRANSFORMOU NUM GOLPE DE AMOR NO PEQUENO E INFINITO MUNDO DE UMA SALA DE AULA.
           (TEXTO RETIRADO DO LIVRO DE  AUGUSTO CURY  : FILHOS BRILHANTES, ALUNOS FASCINANTES)



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