sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O CADERNO

O caderno

Ouça a célebre música "O Caderno" de Toquinho e depois de fazer uma viagem pela trajetória maravilhosa de sua vida e de seus filhos, leia a reportagem da Nova Escola, que faz uma radiografia sobre o que diz um caderno a respeito de seu dono:



O que dizem os cadernos dos alunos

Por Verônica Fraidenraich

Anotações dos alunos revelam a maneira como o professor ensina e dão pistas para escolher os temas da formação continuada

Para ajudar o docente a melhorar a prática profissional, o coordenador pedagógico conta com ferramentas importantes - como os planos de aula elaborados pelo professor, os resultados das provas e a observação da atuação em sala de aula. Mas há outro recurso muito útil para orientá-lo no planejamento dos encontros de formação para a equipe: os cadernos dos alunos.

A argentina Adriana Díaz, no livro Enseñar Matemática en la Escuela Primaria, explica que, para o estudante, o caderno é o lugar no qual ele guarda os registros do que e como aprendeu. "É onde escreve a história de sua aprendizagem", acrescenta. Sendo assim, as atividades anotadas nas folhas de papel revelam a relação entre o aprendizado da criança e a condição de ensino oferecida pelo professor.

"Se a turma tirou nota ruim em ortografia, por meio do caderno é possível observar como o assunto foi discutido na sala de aula e, assim, orientar o professor em seu planejamento", explica Regina Scarpa, coordenadora pedagógica de NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR. O coordenador deve deixar claro que não se trata de exercer uma fiscalização, mas observar de que forma os conteúdos são trabalhados, que tipo de anotação as crianças fazem e como o educador realiza as correções para, com base nisso, saber o que é preciso discutir nas reuniões de formação continuada.

A coordenadora pedagógica Fabiana Bargieri, da Escola Projeto Vida, em São Paulo, diz que os cadernos ajudam a detectar, por exemplo, se o professor não perdeu o foco de um conteúdo: "Se a aula era sobre as nações indígenas e eu vejo no registro das crianças anotações sobre as casas dos índios, os rituais e as plantas medicinais, tudo no mesmo dia, chamo o docente para uma reunião, peço que reflita sobre o uso do tempo didático e questiono se o aluno teve tempo de registrar tantas informações."

Esse tipo de observação se torna mais eficaz quando é feita com certa periodicidade e com a comparação de dois ou três cadernos, sempre de estudantes com diferentes níveis de conhecimento da mesma turma (leia outras dicas no quadro abaixo). Note se existem análises e reflexões dos alunos usando palavras próprias. Em caso positivo, isso significa que o professor está explorando os conhecimentos prévios no processo de ensino (mais detalhes sobre essa e outras questões nos quatro exemplos). O uso de diferentes estratégias para resolver uma mesma operação matemática, por exemplo, indica que houve espaço para a turma pensar, valorizando assim o cálculo mental.

Os cadernos também revelam se há propostas diferenciadas que abranjam a diversidade de saberes dos alunos - essencial para que todos possam estabelecer uma relação com o que está sendo ensinado e consigam, assim, avançar, cada um no seu ritmo.

Outra questão importante é avaliar se as anotações são de autoria própria ou simples cópias do quadro-negro ou dos livros didáticos disponíveis. "É essencial que o estudante faça registros com base nas conclusões que ele tira, depois de um processo de pesquisa e discussão, de forma a construir um conhecimento que tenha sentido para ele", afirma Priscila Monteiro, formadora do Instituto Avisa Lá, em São Paulo, e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.

As produções das crianças não podem ser adulteradas. Os erros devem permanecer, fazendo com que o conhecimento seja visto como um processo e não como um produto do que foi escrito no quadro. As correções feitas pelo professor também pedem atenção: ao dar a devolutiva por escrito aos alunos, não basta colocar o sinal de certo ou errado, um "parabéns" ou "precisa melhorar". Para que todos avancem, é preciso explicar o que está errado e por quê, levando-os assim a refletir sobre como raciocinaram ao fazer a proposta. Também é possível avaliar se há continuidade entre as atividades e as sequências didáticas e se elas oferecem um desafio crescente. "A intenção é que os conhecimentos construídos anteriormente sirvam para resolver os problemas seguintes", afirma Priscila Monteiro.
Dicas na observação

Para chegar à pauta

- Examine entre dois e quatro cadernos diferentes por vez.

- Escolha registros de alunos com diferentes níveis de conhecimento de uma mesma turma.

- Para definir o que pode se tornar conteúdo de formação da equipe, anote os problemas que aparecem com mais regularidade e os que são comuns a mais de um docente.

- Feita a análise, apresente ao grupo as práticas que mais chamaram a atenção e pedem uma revisão e avise que elas serão trabalhadas nos próximos encontros pedagógicos.

- Se um professor tem uma dificuldade específica, trabalhe o tema em reuniões individuais.

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