sábado, 24 de outubro de 2015

FORMAÇÃO DE PALAVRAS

 
Sabemos que a língua portuguesa utiliza diferentes recursos para criar novas palavras. Conhecê-los é importante  não apenas para compreender a estrutura interna dos vocábulos, mas também entender como os diferentes processos de formação interferem no sentido dos enunciados.
Quanto a sua formação, as palavras da língua portuguesa podem ser consideradas primitivasderivadas ou compostas:
  • Palavras primitivas são aquelas que não foram formadas a partir de outra já existente na língua. Exemplos: flor, pedra, fogo, casa.
  • Palavras derivadas são aquela que se formam a partir de outras palavras da língua pelo acréscimo de morfemas derivacionais (prefixos e/ou sufixos). Exemplos: floricultura, empedrar, fogaréu, caseiro.
  • Palavras compostas são aquelas que se formam a partir da reunião de duas ou mais palavras (ou radicais). Exemplos: pontapé (ponta + pé); azul-claro (azul + claro), couve-flor (couve + flor) etc.
derivação
  • Prefixal – É o processo de formação de palavras pelo emprego de um prefixo. Exemplos: subsolo, hipertensão, antecipar, próclise, inválido. regredir, ultrapassagem etc.
  • Sufixal – É o processo de formação de palavras pelo emprego de um sufixo. Exemplos: papelada, ferimento, pensativo, crueldade, bicharada, sinusite, vinhedo, ouvinte, chuvisco etc.
  • Prefixal e sufixal – É o processo de formação de palavras pelo emprego de um prefixo e sufixo de forma independente. Exemplos: deslealmente, infelizmente etc.
  • Parassintética (ou parassíntese) – É o processo de formação de palavras pelo emprego simultâneo de um prefixo e um sufixo. Exemplos: enraivecer, aportuguesar, expatriar, desalmado etc.
  • Regressiva – É o processo de formação de palavras que permite derivar o substantivo a partir do infinitivo. Exemplos: o abalo (abalar), a busca (buscar), a perda (perder), a troca (trocar) etc.
  • Imprópria (ou conversão) – É o processo de formação em que uma palavra muda de classe gramatical sem que a sua forma original seja alterada. Exemplos: O bonito é ver as pessoas felizes. (O termo “bonito” geralmente funciona como adjetivo, mas, no caso, assume o papel de substantivo).
Observações importantes! 
  • Os prefixos empregados na derivação das palavras podem ser de origem grega ou latina.
  • Com relação aos sufixos, temos os nominais, os verbais e o adverbial.
    Alguns exemplos: garfada (nominal), lamaçal (nominal) / florescer (verbal), manusear (verbal) / loucamente (adverbial), incrivelmente (adverbial).
  • Em português, o sufixo -mente é o único que deriva advérbios.
Uma dúvida muito comum: Qual é a diferença entre a derivação prefixal e sufixal e a derivação parassintética
Resposta: Na derivação prefixal e sufixal, os dois afixos (prefixo e sufixo) são colocados de forma independente, ou seja, um deles pode ser retirado e a palavra continua fazendo sentido. Por  exemplo: deslealmente. Se retirarmos o prefixo des-, a palavra lealmente continua existindo. Se retirarmos o sufixo -mente, a palavra desleal continua existindo. Na derivação parassintética isso não acontece. Se retirarmos o prefixo ou o sufixo da palavra, a que sobra deixa de ter sentido. Por exemplo: enraivecer. Se retirarmos o prefixo en-, a palavra raivecer não tem sentido. Se tirarmos o sufixo -ecer, a palavra enraiv também não tem sentido.
composição
  • Composição por justaposição – É o processo de formação de palavras na qual dois ou mais radicais são combinados sem sofrer alteração em sua forma. Exemplos: amor-perfeito, bem-te-vi, flor-de-maio, guarda-costas, girassol, passatempo, porta-bandeira, quebra-cabeça, sexta-feira, vaivém etc. 
  • Composição por aglutinação – É o processo de formação de palavras na qual dois ou mais radicais sofrem alterações em sua forma ao serem combinados para formar uma palavra. Exemplos: aguardente (água + ardente), embora (em + boa + hora), planalto (plano + alto), pernalta (perna + alta), pernilongo (perna + longo), pontiagudo (ponta + agudo) etc.
Observações importantes: 
  • As palavras formadas por justaposição podem vir ou não escritas com hífen.
  • Ao contrário do que observamos na justaposição, a aglutinação provoca mudança nos fonemas originais e no acento tônico dos radicais envolvidos no processo.
  • Os radicais gregos e latinos participam da formação de muitas palavras da língua por meio do processo de composição. (cromoterapia, cronômetro, dicloreto, quilograma, xilogravura etc)
um ou mais radicais
outros processosAlém da derivação e da composição, a língua portuguesa também faz uso de outros processos de palavras:
  • Abreviação (redução) – Criação de palavras através de formas reduzidas. Exemplos: tevê, cine, milico, portuga, delega, boteco, fessor, pneu, fone, metrô etc.
  • Siglonimização – Criação de palavras através da união das letras iniciais que compõem um nome. Exemplos: MAM, ONU, PIB, UFRJ, FCC etc.
  • Onomatopeia – Criação de palavras que imitam sons de seres animados ou inanimados. Exemplos: bangue-bangue, tique-taque, pingue-pongue etc
  • Empréstimo Linguístico (estrangeirismo) – Introdução de palavras vindas de outros idiomas. Exemplos: pizza, link, mouse, blog etc.
  • Neologismo – Criação de palavras novas, formadas de outras já existentes, na mesma língua ou não. Exemplos: presidenciável, carreata, roqueiro, deletar, inverdade etc.
  • Hibridismo – Criação de palavras com morfemas de línguas diferentes. Exemplos: sociologia (latim + grego), automóvel (grego + latim), burocracia (francês + grego), sambódromo (africano + grego), cibernauta (inglês + latim) etc.
  • Palavra-valise (combinação ou amálgama) – Criação de uma palavra a partir da junção de partes de duas ou mais palavras , como um cruzamento lexical. Exemplos: portunhol (português + espanhol), aborrecente (aborrecer + adolescente), showmício (show + comício) etc.
E para terminar: 
Não há como não citar Guimarães Rosa (1908 – 1967) e Manoel de Barros (1916 – 2014), quando estudamos a formação das palavras. Os dois escritores brasileiros foram mestres na hora de inventá-las. Dizem até que Guimarães Rosa poderia ter escrito um imenso dicionário com seus neologismos. Já Manoel de Barros, “manobreiro” das palavras,  adotava um comportamento de desarrumar palavras. O que mais dava prazer ao escritor era  “fazer defeitos nas frases”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário