sexta-feira, 17 de abril de 2015


ENTREVISTA: PRISCILA MONTEIRO FALA SOBRE A MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL






A educadora Priscila Monteiro fala da importância do trabalho com matemática no ensino infantil. Ela diz que nessa fase a disciplina estrutura conceitos que serão desenvolvidos futuramente



A educadora Priscila Monteiro é assessora de redes públicas e escolas particulares para o trabalho com matemática na educação infantil, trabalha na organização Alfabetização Solidária e fez parte da elaboração dos RCNEI (Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil) em Matemática. Na entrevista, ela fala da importância da disciplina na educação infantil. Priscila
destaca o papel da matemática no desenvolvimento do potencial argumentativo dos alunos e afirma que os professores precisam levar em conta os conhecimentos que as crianças adquiriram
fora da escola, em suas famílias, nos jogos, na TV, por exemplo.


DIÁRIO NA ESCOLA – Deve haver trabalho com matemática na educação infantil?PRISCILA – As crianças, desde bem pequenas, pensam sobre o mundo que as cerca e procuram compreendê-lo. Um trabalho intencional com as áreas de conhecimento, entre elas a matemática, contribui para que as crianças elaborem e sistematizem conhecimentos. No entanto, é importante considerar que a educação infantil engloba o período de zero a 6 anos, portanto é necessário se ter em conta as características próprias das crianças de cada faixa etária, suas necessidades, prioridades e sua forma de conhecer o mundo. Na prática, no início, as crianças devem ter uma aproximação global com os conteúdos. Não se trata de trabalho matemático, mas atividades com calendários, com músicas que veiculam séries numéricas. Até com bebês, é possível desenvolver uma consciência espacial que é a gênese do trabalho com matemática. Com
bebês, a ocupação do espaço, estar em berços ou circular pelo chão, são noções que ajudam posteriormente a fundamentar a geometria. Há pesquisas realizadas por educadores portugueses que afirmam que a mulher tem mais dificuldade nessa fundamentação porque brinquedos infantis para meninas são parados, exigem menos movimentos que as bolas, carrinhos e brincadeiras dos meninos. Os professores precisam ter consciência disso.



DIÁRIO NA ESCOLA – Como deveria ser feito esse trabalho?
PRISCILA –O trabalho didático deve necessariamente levar em conta a natureza do objeto de conhecimento e o processo pelo qual as crianças passam ao construí-lo. Por um lado, é importante que a escola trabalhe com os conhecimentos matemáticos tal como aparecem nas práticas sociais, o que significa dizer, trabalhar desde sempre (com crianças bem pequenas) com conteúdos bastante complexos. Sabemos que as crianças constroem seus
conhecimentos matemáticos por meio de sucessivas reorganizações ao longo das suas vidas. Elaboram uma série de idéias e hipóteses provisórias antes de compreender um objeto em toda sua complexidade. Nessa abordagem, complexidade e provisoriedade são didaticamente inseparáveis. O professor precisa levar em conta os conhecimentos que as crianças adquiriram fora da escola (em suas famílias, nos jogos, na TV...), propondo-lhes situações de aprendizagem nas quais precisem utilizar esse conhecimentos para construir novos. Ao invés de esperar respostas imediatas no início das atividades coletivas, o professor precisa dar tempo para que as crianças pensem - individualmente ou em pares - precisa retomar as idéias expressas pelas crianças para que seus companheiros possam pensar sobre elas e devolver ao grupo - em forma de problemas a resolver - afirmações feitas só por algumas crianças.




DIÁRIO NA ESCOLA – Qual a maneira de colocar os conhecimentos em ação?
PRISCILA – Respeitar o que as crianças sabem é colocar esses conhecimentos em ação. Como sugestões práticas de atividades, o educador pode procurar selecionar para as crianças músicas que intencionalmente veiculem séries numéricas. Pode propor circuitos de movimento que promovam a aproximação global. Com isso, as crianças começam a entender a complexidade dos
conteúdos.




DIÁRIO NA ESCOLA – A forma como se trabalha matemática na Educação Infantil, atualmente, está longe da ideal?PRISCILA –O principal caminho para um bom trabalho em matemática na educação infantil é a formação continuada de professores. Cada vez mais, as propostas de formação de professores tem se voltado para a demanda dos próprios professores. Eles querem ajuda para responder aos problemas que enfrentam no dia-a-dia. Na maioria das vezes, estes problemas estão vinculados ao ensino ou à aprendizagem escolar de determinados conteúdos. Dentre eles, conteúdos matemáticos. Partindo de sua própria prática e refletindo sobre ela os professores podem de fato aprimorá-la, na direção da melhoria da aprendizagem das crianças. Outra questão que deve ser
destacada é que existem pesquisas didáticas sobre matemática e educação infantil que são ignoradas. Há um movimento já de 20 anos, na França, que um grande número de pessoas não conhece. É necessário que haja uma apropriação deste conhecimento. Os RCNEI (Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil) são um caminho, pois estão amparados nessas pesquisas. 


DIÁRIO NA ESCOLA – Qual a finalidade de desenvolver a disciplina no infantil?PRISCILA – Fundamental para estruturar um trabalho futuro. A gênese do que acontece com bebês é diferente quando eles são deixados no berço, no quadrado, de quando eles podemengatinhar pelo espaço. A experiência que a criança tem em relação aos números também estrutura um trabalho posterior. As crianças devem ser estimuladas a estabelecer relações. Por exemplo, um aluno sobe na balança e se confunde: ‘deixe ver quanto eu custo?’, ‘34 ou 43 são diferentes?’ Estes questionamentos e as respostas a eles são condições estruturantes para trabalhos com cálculos mentais que serão feitos mais para frente. Portanto, é fundamental um trabalho consistente na educação infantil que embase os conhecimentos que serão aprofundados mais tarde.

DIÁRIO NA ESCOLA – Quais conteúdos devem ser trabalhados no infantil?PRISCILA – Os RCNEI propõem a organização dos conteúdos em matemática da seguinte maneira: números e sistema de numeração - envolve contagem, registro de quantidades próprios das crianças, série numérica convencional. É importante, por exemplo, introduzir na sala de aula a numeração escrita tal como ela é, e trabalhar a partir dos problemas inerentes à sua utilização grandezas e medidas espaço e forma .

DIÁRIO NA ESCOLA – O objetivo do trabalho com matemática na educação infantil é uma preparação para o fundamental?PRISCILA – Nenhum segmento da educação deve ser considerado como preparatório para o posterior. A educação infantil precisa ser valorizada como um direito em si, o que implica em formulação de políticas públicas para garantir o acesso e o ensino de qualidade para todas as crianças nesta faixa etária. Falar em ensino de qualidade significa assumir compromisso com a aprendizagem das crianças. Desta forma, podemos dizer que os conteúdos matemáticos trabalhados na educação infantil deveriam ser estruturantes para os trabalhados no ensino fundamental, mas não preparatórios.

DIÁRIO NA ESCOLA – A matemática no infantil pode ajudar a desenvolver o conceito de cidadania nas crianças?PRISCILA – Com o desenvolvimento da consciência matemática, os pequenos podem, por exemplo, questionar quanto um determinado produto custa. Esta pesquisa de preços e a conseqüente comparação de números, têm um objetivo social: o aluno passa a entender o que é mais barato, mais caro e descobre como o sistema se organiza. Além disso, nessa fase em que as crianças ainda não sabem comparar, dentro de uma prática de uso social, elas podem aprender porque um número é maior que o outro. Porém o que considero mais importante para o conceito de cidadania, é a utilização da matemática para desenvolver o potencial argumentativo dos alunos. Para isso, a disciplina não pode ser vista só como uma ciência exata e absoluta do dois mais dois dá quatro. Os professores precisam provocar as crianças para que elas saibam argumentar e consolidar um conhecimento.

DIÁRIO NA ESCOLA – Pode exemplificar?PRISCILA – Quando o aluno do infantil tem que anotar uma determinada quantidade de coisas ele não usa a escrita de numerais, desenha pauzinhos, risca palitinhos. O educador quer que ele use o numeral 5, pois é mais econômico, porém para a criança é mais coerente usar cinco marcas que um número só. Isso tem uma lógica grande, como cinco coisas podem ser representadas por um número apenas? Para que a criança evolua, a atividade deve criar um problema para o
registro dela. O professor pode pedir que ela registre, 105 coisas. As marcas, palitinhos, pauzinhos, não são eficientes neste caso pois seriam muitos. Um número é mais rápido. É interessante que isso aconteça para que professores e crianças discutam e argumentem. Essa argumentação é a grande formação de cidadania: pensar e refletir para validar respostas e conhecimentos, não apenas pedir que o aluno aceite. Nós decoramos a propriedade que diz que a
ordem dos fatores não altera o produto. Mas esse conhecimento é sem valor se não for a conclusão de algo que se construiu, que levou o aluno a entender que dois multiplicado por três é a mesma coisa que três multiplicado por dois. Essa é a conclusão de um conhecimento construído por outro que não deve ser ensinada e nem aceita como um conhecimento pronto. Alunos e professores devem ter argumentos para respaldar os caminhos da matemática. esse exercício é
fundamental para formar cidadãos que saibam questionar fatos, determinações, deveres e que saibam argumentar sobre seus direitos.


ENTREVISTA - MAGDA BECKER SOARES


"LETRAR É MAIS QUE ALFABETIZAR"



Nos dias de hoje, em que as sociedades do mundo inteiro estão cada vez mais centradas na escrita, ser alfabetizado, isto é, saber ler eescrever, tem se revelado condição insuficiente para responder adequadamente às demandas contemporâneas. É preciso ir além da simples aquisição do código escrito, é preciso fazer uso da leitura e da escrita no cotidiano, apropriar-se da função social dessas duas práticas; é preciso letrar-se. O conceito de letramento, embora ainda não registrado nos dicionários brasileiros, tem seu aflorar devido à insuficiência reconhecida do conceito de alfabetização. E, ainda que não mencionado, já está presente na escola, traduzido em ações pedagógicas de reorganização do ensino e reformulação dos modos de ensinar, como constata a professora Magda Becker Soares, que, há anos, vem se debruçando sobre esse conceito e sua prática.
"A cada momento, multiplicam-se as demandas por práticas de leitura e de escrita, não só na chamada cultura do papel, mas também na nova cultura da tela, com os meios eletrônicos", diz Magda, professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "Se uma criança sabe ler, mas não é capaz de ler um livro, uma revista, um jornal, se sabe escrever palavras e frases, mas não é capaz de escrever uma carta, é alfabetizada, mas não é letrada", explica. Para ela, em sociedades grafocêntricas como a nossa, tanto crianças de camadas favorecidas quanto crianças das camadas populares convivem com a escrita e com práticas de leitura e escrita cotidianamente, ou seja, vivem em ambientes de letramento.
"A diferença é que crianças das camadas favorecidas têm um convívio inegavelmente mais freqüente e mais intenso com material escrito e com práticas de leitura e de escrita", diz. "É prioritário propiciar igualmente a todos o acesso ao letramento, um processo de toda a vida".
(ELIANE BARDANACHVILI)






- O que levou os pesquisadores ao conceito de "letramento", em lugar do de alfabetização?- A palavra letramento e, portanto, o conceito que ela nomeia entraram recentemente no nosso vocabulário. Basta dizer que, embora apareça com freqüência na bibliografia acadêmica, a palavra não está ainda nos dicionários. Há, mesmo, vários livros que trazem essa palavra no título. Mas ela não foi ainda incluída, por exemplo, no recente Michaelis, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa , de 1998, nem na nova edição do Aurélio, o Aurélio Século XXI , publicado em 1999. É preciso reconhecer também que a palavra não foi incorporada pela mídia ou mesmo pelas escolas e professores. É ainda uma palavra quase só dos "pesquisadores", como bem diz a pergunta. O mesmo não acontece com o conceito que a palavra nomeia, porque ele surge como conseqüência do reconhecimento de que o conceito de alfabetização tornou-se insatisfatório.



- Por quê?
- A preocupação com um analfabetismo funcional [terminologia que a Unesco recomendara nos anos 70, e que o Brasil passou usar somente a partir de 1990, segundo a qual a pessoa apenas sabe ler e escrever, sem saber fazer uso da leitura e da escrita], ou com o iletrismo, que seria o contrário de letramento, é um fenômeno contemporâneo, presente até no Primeiro Mundo.



- E como isso ocorre?
- É que as sociedades, no mundo inteiro, tornaram-se cada vez mais centradas na escrita. A cada momento, multiplicam-se as demandas por práticas de leitura e de escrita, não só na chamada cultura do papel, mas também na nova cultura da tela, com os meios eletrônicos, que, ao contrário do que se costuma pensar, utilizam-se fundamentalmente da escrita, são novos suportes da escrita. Assim, nas sociedades letradas, ser alfabetizado é insuficiente para vivenciar plenamente a cultura escrita e responder às demandas de hoje.



- Qual tem sido a reação a esse fenômeno lá fora?
- Nos Estados Unidos e na Inglaterra, há grande preocupação com o que consideram um baixo nível de literacy da população, e, periodicamente, realizam-se testes nacionais para avaliar as habilidades de leitura e de escrita da população adulta e orientar políticas de superação do problema. Outro exemplo é a França. Os franceses diferenciam illettrisme muito claramente illettrisme de analphabétisme . Este último é considerado problema já vencido, com exceção para imigrantes analfabetos em língua francesa. Já illettrisme surge como problema recente da população francesa. Basta dizer que a palavra illettrisme só entrou no dicionário, na França, nos anos 80. Em Portugal é recente a preocupação com a questão do letramento, que lá ganhou a denominação de literacia, numa tradução mais ao pé da letra do inglês literacy .



- O que explica o aparecimento do conceito de letramento entre nós?
- Não se trata propriamente do aparecimento de um novo conceito, mas do reconhecimento de um fenômeno que, por não ter, até então, significado social, permanecia submerso. Desde os tempos do Brasil Colônia, e até muito recentemente, o problema que enfrentávamos em relação à cultura escrita era o analfabetismo, o grande número de pessoas que não sabiam ler e escrever. Assim, a palavra de ordem era alfabetizar. Esse problema foi, nas últimas décadas, relativamente superado, vencido de forma pelo menos razoável. Mas a preocupação com o letramento passou a ter grande presença na escola, ainda que sem o reconhecimento e o uso da palavra, traduzido em ações pedagógicas de reorganização do ensino e reformulação dos modos de ensinar.



- Como o conceito de letramento, mesmo sem que se utilize este termo, vem sendo levado à prática?
- No início dos anos 90, começaram a surgir os ciclos básicos de alfabetização, em vários estados; mais recentemente, a própria lei [Lei de Diretrizes e Bases, de 1996] criou os ciclos na organização do ensino. Isso significa que, pelo menos no que se refere ao ciclo inicial, o sistema de ensino e as escolas passam a reconhecer que alfabetização, entendida apenas como a aprendizagem da mecânica do ler e do escrever e que se pretendia que fosse feito em um ano de escolaridade, nas chamadas classes de alfabetização, é insuficiente. Além de aprender a ler e a escrever, a criança deve ser levada ao domínio das práticas sociais de leitura e de escrita. Também os procedimentos didáticos de alfabetização acompanham essa nova concepção: os antigos métodos e as antigas cartilhas, baseados no ensino de uma mecânica transposição da forma sonora da fala à forma gráfica da escrita, são substituídos por procedimentos que levam as crianças a conviver, experimentar e dominar as práticas de leitura e de escrita que circulam na nossa sociedade tão centrada na escrita.



- Como se poderia, então, definir letramento?
- Letramento é, de certa forma, o contrário de analfabetismo. Aliás, houve um momento em que as palavras letramento e alfabetismo se alternavam, para nomear o mesmo conceito. Ainda hoje há quem prefira a palavra alfabetismo à palavra letramento - eu mesma acho alfabetismo uma palavra mais vernácula que letramento, que é uma tentativa de tradução da palavra inglesa literacy , mas curvo-me ao poder das tendências lingüísticas, que estão dando preferência a letramento. Analfabetismo é definido como o estado de quem não sabe ler e escrever; seu contrário, alfabetismo ou letramento, é o estado de quem sabe ler e escrever. Ou seja: letramento é o estado em que vive o indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive: sabe ler e lê jornais, revistas, livros; sabe ler e interpretar tabelas, quadros, formulários, sua carteira de trabalho, suas contas de água, luz, telefone; sabe escrever e escreve cartas, bilhetes, telegramas sem dificuldade, sabe preencher um formulário, sabe redigir um ofício, um requerimento. São exemplos das práticas mais comuns e cotidianas de leitura e escrita; muitas outras poderiam ser citadas.



- Ler e escrever puramente tem algum valor, afinal?- Alfabetização e letramento se somam. Ou melhor, a alfabetização é um componente do letramento. Considero que é um risco o que se vinha fazendo, ou se vem fazendo, repetindo-se que alfabetização não é apenas ensinar a ler e a escrever, desmerecendo assim, de certa forma, a importância de ensinar a ler e a escrever. É verdade que esta é uma maneira de reconhecer que não basta saber ler e escrever, mas, ao mesmo tempo, pode levar também a perder-se a especificidade do processo de aprender a ler e a escrever, entendido como aquisição do sistema de codificação de fonemas e decodificação de grafemas, apropriação do sistema alfabético e ortográfico da língua, aquisição que é necessária, mais que isso, é imprescindível para a entrada no mundo da escrita. Um processo complexo, difícil de ensinar e difícil de aprender, por isso é importante que seja considerado em sua especificidade. Mas isso não quer dizer que os dois processos, alfabetização e letramento, sejam processos distintos; na verdade, não se distinguem, deve-se alfabetizar letrando .



- De que forma?
- Se alfabetizar significa orientar a criança para o domínio da tecnologia da escrita, letrar significa levá-la ao exercício das práticas sociais de leitura e de escrita. Uma criança alfabetizada é uma criança que sabe ler e escrever; uma criança letrada (tomando este adjetivo no campo semântico de letramento e de letrar, e não com o sentido que tem tradicionalmente na língua, este dicionarizado) é uma criança que tem o hábito, as habilidades e até mesmo o prazer de leitura e de escrita de diferentes gêneros de textos, em diferentes suportes ou portadores, em diferentes contextos e circunstâncias. Se a criança não sabe ler, mas pede que leiam histórias para ela, ou finge estar lendo um livro, se não sabe escrever, mas faz rabiscos dizendo que aquilo é uma carta que escreveu para alguém, é letrada, embora analfabeta, porque conhece e tenta exercer, no limite de suas possibilidades, práticas de leitura e de escrita. Alfabetizar letrando significa orientar a criança para que aprenda a ler e a escrever levando-a a conviver com práticas reais de leitura e de escrita: substituindo as tradicionais e artificiais cartilhas por livros, por revistas, por jornais, enfim, pelo material de leitura que circula na escola e na sociedade, e criando situações que tornem necessárias e significativas práticas de produção de textos.



- O processo de letramento ocorre, então, mesmo entre crianças bem pequenas...
- Pode-se dizer que o processo começa bem antes de seu processo de alfabetização: a criança começa a "letrar-se" a partir do momento em que nasce numa sociedade letrada. Rodeada de material escrito e de pessoas que usam a leitura e a escrita - e isto tanto vale para a criança das camadas favorecidas como para a das camadas populares, pois a escrita está presente no contexto de ambas -, as crianças, desde cedo, vão conhecendo e reconhecendo práticas de leitura e de escrita. Nesse processo, vão também conhecendo e reconhecendo o sistema de escrita, diferenciando-o de outros sistemas gráficos (de sistemas icônicos, por exemplo), descobrindo o sistema alfabético, o sistema ortográfico. Quando chega à escola, cabe à educação formal orientar metodicamente esses processos, e, nesse sentido, a Educação Infantil é apenas o momento inicial dessa orientação.



- O processo de letramento ocorre durante toda a vida escolar?
- A alfabetização, no sentido que atribuí a essa palavra, é que se concentra nos primeiros anos de escolaridade. Concentra-se aí, mas não ocorre só aí: por toda a vida escolar os alunos estão avançando em seu domínio do sistema ortográfico. Aliás, um adulto escolarizado, quando vai ao dicionário, resolver dúvida sobre a escrita de uma palavra está retomando seu processo de alfabetização. Mas esses procedimentos de alfabetização tardia são esporádicos e eventuais, ao contrário do letramento, que é um processo que se estende por todos os anos de escolaridade e, mais que isso, por toda a vida. Eu diria mesmo que o processo de escolarização é, fundamentalmente, um processo de letramento.



- Em qualquer disciplina?
- Em todas as áreas de conhecimento, em todas as disciplinas, os alunos aprendem através de práticas de leitura e de escrita: em História, em Geografia, em Ciências, mesmo na Matemática, enfim, em todas as disciplinas, os alunos aprendem lendo e escrevendo. É um engano pensar que o processo de letramento é um problema apenas do professor de Português: letrar é função e obrigação de todos os professores. Mesmo porque em cada área de conhecimento a escrita tem peculiaridades, que os professores que nela atuam é que conhecem e dominam. A quantidade de informações, conceitos, princípios, em cada área de conhecimento, no mundo atual, e a velocidade com que essas informações, conceitos, princípios são ampliados, reformulados, substituídos, faz com que o estudo e a aprendizagem devam ser, fundamentalmente, a identificação de ferramentas de busca de informação e de habilidades de usá-las, através de leitura, interpretação, relacionamento de conhecimentos. E isso é letramento, atribuição, portanto, de todos os professores, de toda a escola.



- Mas seria maior a responsabilidade do professor de Português?- É claro que o professor de Português tem uma responsabilidade bem mais específica com relação ao letramento: enquanto este é um "instrumento" de aprendizagem para os professores das outras áreas, para o professor de Português ele é o próprio objeto de aprendizagem, o conteúdo mesmo de seu ensino.



- Muitos pais reclamam do fato de, hoje, os grandes textos de literatura, nos livros didáticos, darem lugar a letras de música, rótulos de produtos, bulas de remédio. O que essa ênfase nos textos do dia-a-dia tem de positivo e o que teria de negativo?
- É verdade que o conceito de letramento, bem como a nova concepção de alfabetização que decorre dele e também das teorias do construtivismo que chegaram ao campo da educação e do ensino nos anos 80, trouxeram um certo exagero na utilização de diferentes gêneros e diferentes portadores de texto na sala de aula. É realmente lamentável que os textos literários, até pouco tempo atrás exclusivos nas aulas de Português, tenham perdido espaço. É preciso não esquecer que, exatamente porque a literatura tem, lamentavelmente, no contexto brasileiro, pouca presença na vida cotidiana dos alunos, cabe à escola dar a eles a oportunidade de conhecê-la e dela usufruir. Por outro lado, tem talvez faltado critério na seleção dos gêneros. Por exemplo: parece-me equivocado o trabalho com letras de música, que perdem grande parte de seu significado e valor se desvinculadas da melodia: é difícil apreciar plenamente uma canção de Chico Buarque ou de Caetano Veloso lendo a letra da canção como se fosse um poema, desligada ela da música que é quem lhe dá o verdadeiro sentido e a plena expressividade. Parece óbvio que devem ser priorizados, para as atividades de leitura, os gêneros que mais freqüentemente ou mais necessariamente são lidos, nas práticas sociais, e, para as atividades de produção de texto, os gêneros mais freqüentes ou mais necessários nas práticas sociais de escrita. Estes não coincidem inteiramente com aqueles, já que há gêneros que as pessoas lêem, mas nunca ou raramente escrevem, e há gêneros que as pessoas não só lêem, mas também escrevem. Por exemplo: rótulos de produtos são textos que devemos aprender a ler, mas certamente não precisaremos aprender a escrever. Assim, a adoção de critérios bem fundamentados para selecionar quais gêneros devem ser trabalhados em sala de aula, para a leitura e para a produção de textos, afastará os aspectos negativos que uma invasão excessiva e indiscriminada de gêneros e portadores sem dúvida tem.




- A condução do processo de letramento difere, no caso de se lidar com uma criança de classe mais favorecida ou com uma de classe popular?- Em sociedades grafocêntricas como a nossa, tanto crianças de camadas favorecidas quanto crianças das camadas populares convivem com a escrita e com práticas de leitura e escrita cotidianamente, ou seja, umas e outras vivem em ambientes de letramento. A diferença é que crianças das camadas favorecidas têm um convívio inegavelmente mais freqüente e mais intenso com material escrito e com práticas de leitura e de escrita do que as crianças das camadas populares, e, o que é mais importante, essas crianças, porque inseridas na cultura dominante, convivem com o material escrito e as práticas que a escola valoriza, usa e quer ver utilizados. Dois aspectos precisam, então, ser considerados: de um lado, a escola deve aprender a valorizar também o material escrito e as práticas de leitura e de escrita com que as crianças das camadas populares convivem; de outro lado, a escola deve dar oportunidade a essas crianças de ter acesso ao material escrito e às práticas da cultura dominante. Da mesma forma, a escola que serve às camadas dominantes deve dar oportunidade às crianças dessas camadas de conhecer e usufruir da cultura popular, tendo acesso ao material escrito e às práticas dessa cultura.



- Como deve ser a preparação do professor para que ele "letre"? Em que esse preparo difere daquele que o professor recebe hoje?
- Entendendo a função do professor, de qualquer nível de escolaridade, da Educação Infantil à educação pós-graduada, como uma função de letramento dos alunos em sua área específica, o professor precisa, em primeiro lugar, ser ele mesmo letrado na sua área de conhecimento: precisa dominar a produção escrita de sua área, as ferramentas de busca de informação em sua área, e ser um bom leitor e um bom produtor de textos na sua área. Isso se refere mais particularmente à formação que o professor deve ter no conteúdo da área de conhecimento que elegeu. Mas é preciso, para completar uma formação que o torne capaz de letrar seus alunos, que conheça o processo de letramento, que reconheça as características e peculiaridades dos gêneros de escrita próprios de sua área de conhecimento. Penso que os cursos de formação de professores, em qualquer área de conhecimento, deveriam centrar seus esforços na formação de bons leitores e bons produtores de texto naquela área, e na formação de indivíduos capazes de formar bons leitores e bons produtores de textos naquela área.



ENTREVISTA: HELOÍSA PRIETO




A escritora Heloisa Prieto explica como é possível incentivar alunos do ensino infantil e fundamental a gostar de ler. Ela também dá sugestões de obras que ajudam a incorporar a leitura no cotidiano escolar das crianças.



Palavra de escritora



A escritora infanto-juvenil Heloisa Prieto, nascida em uma família de contadores de histórias, tem cerca de 40 títulos publicados, coleciona quatro dos mais importantes prêmios da literatura infantil do Brasil e já escreveu textos para teatro, cinema e para TV, onde participou do programa Castelo Rá-Tim-Bum. Entre os livros que Heloisa escreveu, estão Lá Vem História e Lá Vem História Outra Vez, da Companhia das Letras; Balada, da editora Brinque Book e a série
Mano Descobre, em parceria com o jornalista Gilberto Dimenstein. Atualmente, ela faz doutorado na Usp, estudando o processo de criação de narrativas míticas.
Heloisa concedeu entrevista ao Diário na Escola, falando sobre literatura, leitura, rodas de histórias e livros indicados para crianças do ensino infantil e fundamental, bem como sobre a postura dos professores diante do desafio de trazer a literatura para a vida dos alunos. Ela deu dicas como, por exemplo, a de que o leitor iniciante não tem a obrigação de ler uma obra toda, do começo ao fim. Ele pode saltar capítulos, ler trechos ou até devorar o livro sem interrupções, se estiver empolgado. “O conselho que eu daria para que a leitura seja incorporada no cotidiano da criança é que os pais e educadores a considerem como fonte de conhecimento, mas também de lazer”, disse. A seguir, acompanhe a entrevista completa com uma das principais autoras da literatura infanto-juvenil brasileira da atualidade.



DIÁRIO NA ESCOLA – A arte de narrar histórias está em vias de extinção?HELOISA PRIETO – As histórias estão em todo lugar, por exemplo, no outdoor que contém uma
microcena de namoro, no comercial da televisão, nas novelas, nas revistas de fofocas, no rádio, nos videoclipes, nos filmes, romances, revistas em quadrinhos, vivemos num mundo dominado por milhares de narrativas. O ritual tradicional de contar histórias acompanha o ser humano desde as cavernas rupestres e sempre existirá, mesmo que a conversa hoje em dia trate de lendas urbanas e que seu conteúdo seja em um shopping-center.



DIÁRIO NA ESCOLA – Qual a importância dos momentos de leitura, rodas de história, para alunos e professores?
HELOISA – Quanto mais o educador tiver consciência da permanência das histórias e menos preconceito com relação ao mundo moderno, no sentido de tentar compreender a linguagem dos quadrinhos, dos jogos de RPG (nos quais os participantes atuam como personagens de uma história), dos blogs na Internet, do videogame e do videoclipe, mais facilidade terá em estabelecer vínculos entre o mundo do jovem moderno e o universo da literatura tradicional. O ritual formal da leitura é muito importante, mas o professor também deve considerar a inteligência do jovem. Quando um educador considera a geração da Internet como um recipiente a ser preenchido por conhecimentos livrescos restritos a uma concepção romântica da literatura, esvazia toda possibilidade de diálogo e de troca com o jovem habituado ao mundo virtual.



DIÁRIO NA ESCOLA – Quais são as histórias que encantam as crianças dos ensinos infantil e fundamental?
HELOISA – Contos de fadas e literatura fantástica constituem um gênero literário que é considerado como o mais apreciado por jovens e crianças. Porém, isso não exclui o leitor adulto que também pode encantar-se com as peripécias do Mago Merlin ou rei Arthur. Já a literatura de aventuras, como os clássicos Conde de Monte Cristo, Os Meninos da Rua Paulo, Os Capitães de Areia, Drácula, são histórias para jovens de todas as idades. Finalmente, as fábulas, tanto as
tradicionais, de Esopo, quanto as modernas, como os livros de Ana Maria Machado e Ruth Rocha, sempre divertem e instruem crianças e professores. Impossível não rir de Marcelo, Marmelo,
Martelo (Ruth Rocha) ou refletir com os problemas de Raul da Ferrugem Azul (Ana Maria Machado).



DIÁRIO NA ESCOLA – Normalmente, as crianças têm um certo receio de livros maiores, com textos mais longos e sem muita ilustração. Por que isso acontece? Como o professor pode trabalhar para desconstruir essa idéia?HELOISA –Atualmente, os dois livros mais vendidos para jovens em livrarias são a coleção Harry Potter e o Senhor dos Anéis. Os livros são longos, sem ilustrações e todos têm a obrigação de tê-los em suas mochilas. Os jovens gostam de livros longos, mesmo que os leiam saltando capítulos. Quem tem dificuldade de incorporar este material em sala de aula é o professor, habituado a trabalhar com o apoio da ilustração, com o texto curto, em formato de conto. Creio que o professor deve procurar maneiras de capacitar-se para o ensino da literatura de aventuras, (Os Três Mosqueteiros na versão integral tem 1,2 mil páginas). Porém, há livros de qualidade a respeito de como desenvolver a leitura criativa no universo do jovem e da criança. Cecilia Meirelles tem uma obra interessante sobre esse assunto, bem como Fanny Abramovich, Ana Maria Machado, de minha própria safra há o título Quer Ouvir uma História?, da editora Angra.

DIÁRIO NA ESCOLA – Como incorporar a leitura no cotidiano das crianças?
HELOISA –O conselho que eu daria para que a leitura seja incorporada no cotidiano da criança é que os pais e educadores a considerem como fonte de conhecimento, mas também de lazer. Já vi pais proibindo filhos de comprarem livros que não estivessem na lista dos professores. Porém, todo mundo deve ter uma boa quota de literatura de entretenimento. Daniel Pennac, um educador francês dizia que todo leitor tem direito de abandonar um livro, saltar capítulos, ler sem parar, enfim... Em casa, sempre ajuda montar uma pequena estante no quarto e, quando possível, levar os filhos numa livraria dando-lhes liberdade de comprar livros de seu próprio interesse. Na escola, é sempre bom quebrar o mito de que a leitura depende de uma compreensão definitiva. Um bom livro contém muitos níveis de interpretação. Quando o professor reduz a mensagem a um único caminho determinado por ele, na verdade, limita o espaço de reflexão que a literatura libera. Um autor como Shakespeare pode ser lido durante toda uma vida e a cada leitura se descobre uma nova camada de conhecimento.
DIÁRIO NA ESCOLA – Quais são as dicas para o professor inserir na sua prática as rodas de leitura como atividade permanente sem tornar a história apenas um exercício escolar, mantendo seu encantamento?
HELOISA –Para que o professor crie um clima gostoso com as crianças na hora de contar uma história é preciso que ele goste da história que escolheu. Quem sabe narrar com gosto, conta histórias num acampamento, debaixo de uma mangueira, à beira da praia, no ônibus. É preciso também que o professor tenha sensibilidade para perceber as histórias que mais encantam seus alunos e i7nky, a escritora russa, radicada no Brasil, que foi amiga de Monteiro Lobato e é considerada a Sherazade brasileira (Sherazade é a personagem contadora de histórias no livro As Mil e Uma Noites). Narrar é uma forma de pensar o mundo. Se a professora está na manicure e começa a contar um caso que aconteceu com ela, está praticando esta arte ancestral
que nunca entrará em extinção porque estrutura o pensamento humano.

Heloisa Prieto afirma que existem duas formas de leitura: A primeira é a leitura que dá prazer, que diverte; a segunda, é a leitura que deve ser feita como observação e apreciação do estilo do autor, do talento que ele tem para escrever. Para ela, a criança pode pertencer a uma “família de livros” diferente da dos pais dela e isso deve ser respeitado. “A relação com histórias e livros é complicada e merece especial atenção”, diz. Ela também dá sugestões de obras que ajudam a incorporar a leitura no cotidiano escolar das crianças

ENTREVISTA

PRÁTICAS LETRADAS

Maria da Graça Costa Val falou sobre os desafios da alfabetização, sobre os conhecimentos que as crianças têm da língua, sobre cultura e práticas de leitura e escrita, novas tecnologias e práticas alfabetizadoras, entre outras reflexões.
A educadora é formada em Letras pela UFMG, com mestrado em Língua Portuguesa e doutorado em Educação, atua na prática de ensino de Língua Portuguesa. Através do CEALE (Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação da UFMG), Maria da Graça participou e coordenou vários projetos de políticas públicas voltados para a formação de professores de Ensino Fundamental e Médio, para o PNLD (Plano Nacional do Livro Didático) de Ensino Fundamental e para a elaboração de propostas curriculares no Estado de Minas Gerais.
Entre os livros da educadora estão: Redação e Textualidade, (Martins Fontes, 1991); Professor-leitor, aluno-autor, reflexões sobre a avaliação do texto escolar, (Formato/CEALE, 1998, co-publicação com Evangelista, Aracy); Reflexões sobre práticas escolares de produção de textos: o sujeito autor, (Autêntica/CEALE, organizado com Rocha, Gladys, 2003); Texto, textualidade e textualização, (In: Pedagogia Cidadã: cadernos de formação – Língua Portuguesa, UNESP, 2004.)

Diário na Escola – Quais são os desafios de alfabetizar em um mundo de mudança?Maria da Graça Costa Val – O desafio é que não basta alfabetizar. É preciso formar o aluno para participar com desenvoltura e autonomia das práticas letradas usuais na sociedade. Se essas práticas mudam tão rapidamente, em função de novas demandas e novas possibilidades tecnológicas, é preciso formar alunos reflexivos, críticos, com capacidade e disponibilidade para aprender e descobrir por conta própria.

Diário na Escola – Hoje o acesso à informação vinculada à língua escrita é acessível de maneira igualitária. Mesmo assim os professores anseiam por um teste, um material que prove, demonstre os conhecimentos que as crianças possuem sobre a língua, acreditando que isso possibilitaria que elas aprendessem mais e melhor. Isso seria reforçar uma política de discriminação?
Maria da Graça Costa Val – A questão é o que se entende por “conhecimentos que as crianças possuem sobre a língua”, mais precisamente, o que se entende por “língua”. No campo das ciências da linguagem, atualmente, não cabe mais dúvida quanto à natureza histórica, social, heterogênea e variável das línguas humanas – todas elas, de qualquer época, de todos os povos, de primeiro e de terceiro mundo. Quer dizer, as línguas humanas mudam no tempo e variam no espaço e na hierarquia social. Nenhuma língua é um bloco homogêneo, cada grupo de falantes tem sua maneira própria de falar, isso é natural, inevitável e funciona muito bem. Isso quer dizer que não existe uma maneira certa de falar que se oponha às outras, que seriam erradas. Todas as maneiras de falar são boas e certas, servem à comunidade de falantes para as suas necessidades de comunicação e de elaboração do pensamento e dos sentimentos. Assim, “os conhecimentos das crianças sobre a língua” são sempre bons e certos. A outra questão é que, historicamente, por necessidades diversas, geralmente ligadas ao exercício do poder e da dominação, as sociedades, ao longo do tempo, acabam definindo uma das maneiras de falar, isto é, uma das variedades lingüísticas, como a variedade padrão, oficial, para ser usada em documentos, aprendida e ensinada na escola, preservada pela ciência e pela literatura, divulgada na imprensa. Por isso, é direito de todo cidadão dominar essa variedade, na leitura e na escrita, para poder usufruir do patrimônio cultural de sua sociedade. Parece que a pergunta centra-se na necessidade de um instrumento que permita ao professor ter um diagnóstico sobre os conhecimentos das crianças quanto à variedade padrão escrita do português. Não há mal nenhum nisso, pelo contrário, quando se tem clareza sobre a natureza heterogênea e variável das línguas humanas. É bom que os professores saibam o que os alunos já conhecem e o que ainda precisam aprender, sobre qualquer objeto de ensino e aprendizagem, para orientarem adequadamente seu trabalho. O cuidado necessário é, no caso do ensino de língua materna, não lidar de forma equivocada e preconceituosa com esse objeto, como se o português fosse só o chamado “português correto”.

Diário na Escola – O que é preciso mudar para gerar novas práticas alfabetizadoras mais democráticas, que permitam a todas as crianças serem alfabetizadas?Maria da Graça Costa Val – É preciso colocar dentro da escola, funcionando, muito material impresso e de outras mídias, de boa qualidade. A idéia do jornal, por exemplo, é ótima. Mas, além do jornal, livros de histórias, livros informativos sobre assuntos diversos, revistas, enciclopédias, internet etc., sejam manuseados pelas crianças. É preciso que os alunos convivam e vivam práticas letradas diversas, ganhando familiaridade e autonomia. Entretanto, assim como só alfabetizar não basta, dedicar-se só a desenvolver práticas voltadas para o letramento também não basta. Uma alfabetização democrática, hoje, é aquela que efetivamente alfabetiza – isto é, capacita as crianças a operarem com o sistema de escrita, lendo e escrevendo – e, ao mesmo tempo, contribui para a ampliação do grau de letramento dessas crianças.

Diário na Escola – Hoje fala-se em formar leitores usuários da cultura escrita. O que significa realmente isso? O que fazer para que isso se torne realidade?
Maria da Graça Costa Val – Na nossa sociedade, quem não é leitor tem possibilidades limitadas de trabalho, lazer, participação cultural e crescimento pessoal. O usuário da cultura escrita lê no outdoor, na televisão, no folheto de propaganda, nas embalagens de produtos comerciais, nos manuais de instruções de aparelhos diversos, na revista, na literatura, nos livros não ficcionais, nos impressos técnicos ligados à sua profissão, na internet, nos documentos pessoais, nas contas a pagar. Formar esse leitor pode começar no primeiro dia de aula das crianças de 4 anos, com o professor lendo textos diversos em voz alta (e demandando o envolvimento dos alunos): histórias, contos de fadas, matérias de suplementos infantis de jornais, instruções de jogos etc. E esse trabalho não tem data para terminar: vai numa espiral, crescendo conforme o desenvolvimento cognitivo e os interesses dos alunos, abrangendo textos cada vez maiores e mais complexos, ligados a um círculo cada vez mais amplo de práticas letradas.

Diário na Escola – Alguns teóricos defendem que as crianças precisam empreender atividades de leitura e escrita para compreender o sistema de escrita. A senhora concorda com isso?
Maria da Graça Costa Val – Com certeza. A gente deve aprender a fazer, fazendo e querendo fazer. Quanto mais a leitura e a escrita tiverem razão de ser e se mostrarem úteis e atraentes para os alunos, mais eles vão se envolver, mais depressa vão querer aprender. Escrever em sala de aula não significa “fazer redação”. Antes de ser capaz de encher uma folha de papel, a criança já pode produzir muitos textos escritos que têm sentido e funcionalidade e que possibilitam reflexões produtivas para a compreensão do sistema alfabético e a ortografia do português. Por exemplo, um crachá com seu nome, etiquetas para as prateleiras do armário da sala de aula, uma agenda com nome, endereço e telefone dos colegas, listas, anotações, avisos, convites etc. Essas atividades podem ser feitas coletivamente, com discussão entre os alunos e o professor, em duplas, em grupos e individualmente. Na leitura é a mesma coisa: há muito texto de circulação social que demanda uma interação compreensiva, interpretativa, que se apóia tanto na decifração do sistema de escrita quanto em elementos do contexto: folhetos de oferta de supermercados, propagandas, receitas culinárias, histórias e poemas ilustrados, instruções de jogos etc.

Diário na Escola – Como a escola encara a diversidade escolar? Como essa diversidade pode favorecer a aprendizagem?
Maria da Graça Costa Val – O mundo é diverso, a humanidade é diversa. Ainda bem. A diferença nos completa, nos diverte, nos abre a mente e o coração. Conhecer idéias, pontos de vista, jeitos diferentes de lidar com as coisas é bom, é positivo. Discutir as próprias idéias, precisar explicitá-las e falar delas com clareza e convicção é um ótimo exercício intelectual. Ouvir o outro, procurar entendê-lo, alterar a própria compreensão das coisas em função da explicação, dos argumentos, das dúvidas ou das dificuldades do outro também é uma maneira reflexiva, consistente e natural de aprender. É nesse sentido que a diversidade pode favorecer a aprendizagem. No entanto, a gente sabe que não é fácil operar com a diversidade no cotidiano da sala de aula, porque aparecem demandas, necessidades e expectativas diferentes e isso pode tornar muito complicado o trabalho do professor de organizar e orientar atividades produtivas para todos os alunos. Algumas diversidades requerem preparação especial do professor: como trabalhar, ao mesmo tempo, com crianças ouvintes e crianças com dificuldades auditivas, por exemplo? Quando o poder público pretende implantar um modelo de escola plural inclusivo, em que haja lugar para a convivência com a diversidade, precisa viabilizar essa pretensão oferecendo aos educadores boas condições de atuação, o que inclui formação especial, tempo remunerado, espaço, material e aparelhamento adequados.

Diário na Escola – Temos vivido em nosso país alguns efeitos da escolha por uma teoria não por reflexão, estudo, pesquisa, mas algumas vezes por modismo. Isso trouxe para o trabalho pedagógico o abandono de diversas práticas e atividades. Em alguns casos, por exemplo, passamos de um professor que sempre deixava copiar para outro que se aterroriza por ter um aluno que quer copiar. Isso evidencia um comodismo ou uma dificuldade de reconceitualizar os conhecimentos, descobrir quando uma prática, atividade, é útil e funcional?
Maria da Graça Costa Val – Isso é um processo social e histórico, difícil e complicado mesmo, como toda mudança social. Gera conflitos, tensões, entusiasmo e resistência. É muito difícil abrir mão dos próprios saberes, das próprias convicções, para abraçar uma novidade que parece deslegitimar toda a nossa história pessoal. Por outro lado, mesmo quando se abraça a novidade teórica, é muito difícil aprender a lidar com ela na prática, conseguir traduzi-la numa atuação consistente. Por outro lado, não há teoria completa, que dê conta satisfatoriamente de todos os aspectos do fenômeno: em geral, as teorias focalizam uma dimensão do problema e abandonam outras. Portanto, em primeiro lugar, pareceme que é preciso manter a tranqüilidade, não se angustiar tanto com a situação. A superação dessas dificuldades, a gente sabe, está no bom senso, no equilíbrio. Acho que estamos, agora, pelo menos no campo das discussões teóricas, vivendo um momento de reconsideração crítica de excessos e radicalismos, uma tentativa de recolocar as coisas no lugar. Hoje se reconhece como indispensável o trabalho da criança de “esmiuçar” o sistema de escrita, lidando com letras, sílabas, palavras, para descobrir os segredos do princípio alfabético e da ortografia do português, assim como se reconhece a necessidade imprescindível de atividades que proporcionem compreensão sobre o funcionamento social e utilidade da escrita. Nesse contexto, há lugar para a cópia inteligente: por exemplo, copiar o nome de objetos para fazer etiquetas que serão usadas na sala de aula, copiar a lista das atividades que serão feitas naquele dia, porque essa lista vai ser apagada do quadro negro.

Diário na Escola – Há professores que resistem ao uso de novas tecnologias. Qual sua opinião sobre a incorporação das tecnologias no trabalho escolar? De que modo o professor pode aproveitá-las no trabalho de produção de texto?
Maria da Graça Costa Val – Em primeiro lugar, o professor precisa dominar as novas tecnologias. Para isso, é necessário que ele tenha acesso aos instrumentos e a uma formação especializada para utilizá-los. Isso faz parte das responsabilidades da escola para com seus profissionais, é a formação em serviço, da qual o poder público precisa cuidar. A incorporação das novas tecnologias ao trabalho escolar é inevitável, porque elas já estão incorporadas à vida social. Usar a internet possibilita escrever textos de gêneros diversos para interlocutores distantes e desfrutar de situações autênticas de comunicação: e-mails, blogs, home pages, sites informativos etc. Usar o computador na escrita de qualquer texto, qualquer trabalho escolar, com orientação adequada do professor de português, permite lidar reflexivamente, por exemplo, com a ortografia, com o processo de monitoração, revisão e reelaboração da escrita on-line, com a formatação e a editoração (tipos de letras, ilustrações, gráficos, tabelas, composição das páginas internas, da capa etc.), tendo em mente os objetivos comunicativos, o destinatário, o modo e a esfera de circulação do texto.

Diário na Escola – Em que medida o bom rendimento do aluno é efetivamente resultado de um bom ensino?
Maria da Graça Costa Val – As crianças, ricas ou pobres, são igualmente inteligentes e capazes de aprender. O bom ensino parte desse princípio. Se as crianças das classes menos favorecidas têm oportunidades mais restritas de aprendizagem extra-escolar, a escola tem que se empenhar na ampliação dessas oportunidades, oferecendo aos alunos acompanhamento e orientação para uso de biblioteca, computador e internet, tempo e espaço para estudo extra-turno etc. Essa, a gente sabe, é a escola que sonhamos, mas também é a escola que precisamos começar a construir agora, batalhando, com as condições que temos.

ENTREVISTA - ANA TEBEROSKY

PRODUÇÃO DE TEXTO

A educadora espanhola Ana Teberosky, cátedra da Universidade de Barcelona, pesquisadora e autora de pesquisas importantes na área da educação, entre elas A Psicogênse da Língua Escrita, em parceria com Emília Ferreiro, obra que trouxe importantes reflexões a respeito da aquisiçao do sistema de escrita, falou com o Diário na Escola na última semana sobre produção de texto no ensino infantil e fundamental.
A pesquisadora esteve no Brasil para um Simpósio promovido pelo CEDAC (Centro de Educação e Documentação para a Ação Comunitária), em São Paulo, voltado para formadores em educação. Na entrevista, Ana Teberosky dissertou sobre a necessidade dos alunos entenderem para que e por que produzem textos, sobre como o educador pode estimular os alunos para essa produção, sobre a possibilidade de usar histórias e imitações no processo criativo e sobre a importância das crianças adquirirem vocabulário, entre outras coisas. A seguir os principais trechos da entrevista.

Diário na Escola – Como a senhora vê a aquisição e produção de texto por parte das crianças?
Ana Teberosky – É difícil falar sobre a produção de texto da criança brasileira, porque as crianças do Norte, do Sul, da costa, da Amazônia, têm muitas diferenças regionais, não há um único tipo de criança brasileira. Porém, há uma identidade. É como na Europa, a criança portuguesa não é muito diferente da criança espanhola, mas elas têm uma cultura escolar
diferente da criança brasileira. Por isso é difícil generalizar comentários sobre o processo de aquisição de textos das crianças de locais diferentes. De qualquer forma, é possível, em qualquer lugar, dizer que para que essa aquisição ocorra, os educadores devem fazer o seguinte questionamento com os alunos: para que são produzidos os textos e por que fazê-los.

Diário na Escola – De que forma os professores devem trabalhar a partir destas questões?
Ana Teberosky – Sobre a questão para que fazê-los, é interessante que se entenda que um adulto, uma pessoa letrada, lê textos com diferentes funções e aspectos subjetivos. O jornal é um texto, o romance é um texto, uma carta é um texto, ler uma notícia é um texto, ler a bula de um medicamento é um texto. Sendo assim, para entender para que se produz textos, educador e alunos devem produzir e interpretar juntos, é importante ficar claro que o resultado concreto da
leitura e da escrita é um texto. Ou pode-se também dizer que na realização do texto há resultados concretos, de leitura e interpretação. Não há ato de leitura sem a escrita – só uma palavra já é um texto. Portanto, na produção do texto, fazemos ao mesmo tempo um ato de leitura e de escrita. Sobre a questão por que fazê-los, a história é outra. O texto é importante na aquisição da leitura e da escrita, portanto é preciso produzir e ler textos. Há muitos processos psicolingüísticos e muitos motivos possíveis num discurso, num texto. Um processo de construção das sintaxes não acontece com a palavra sozinha há todo um processo de produção e compreensão da pontuação, um processo da coerência gráfica. Então, é muito importante que a aprendizagem da leitura e da escrita não seja restrita, há várias formas de produção do texto além da gráfica. A questão da palavra é outra. A ortografia é a palavra. Se o educador for trabalhar com a ortografia, aí a unidade da referência é a palavra, mais que o texto.

Diário na Escola – Qual a maneira de trabalhar a produção de texto sem a palavra escrita, sem a
ortografia? Não é necessária, desde o ensino fundamental, a preocupação de introduzir as regras
e normas cultas da escrita?

Ana Teberosky – Quando começa a produção de texto na pré-escola ou na primeira série, é bom começar com o texto ao mesmo tempo que começar com as letras, com as palavras. Talvez não seja possível que a criança produza um texto graficamente, mas ela pode contar para o adulto e o adulto escrever. Ela pode produzir um texto oralmente, em situação de entrevista, gravando
etc. A produção de texto não é necessariamente gráfica. Quanto às regras gramaticais e ortográficas, a aquisição de algumas delas é possível no início, outras ainda não. O professor tem que chegar a um equilíbrio entre a restrição e a limitação impostas pela aplicação das regras gramaticais e ortográficas na criação do texto, e a liberdade com que se aplica essa mesma atividade, sem utilizar a produção gráfica. Nem tudo deve ser limitado e restringido, nem tudo deve ser livre, pois isso é impossível.

Diário na Escola – Como se deve começar uma narrativa? O professor tem que buscar equilíbrio entre liberdade, desde que seja criativa, e regra formal de escrita?Ana Teberosky – O professor deve começar em cima de uma estrutura narrativa conhecida ou de uma narrativa que tenha um personagem. Nós estamos trabalhando esse tema de equilíbrio de restituição de liberdade. Se você deixa a criança na conversa cotidiana oral, a produção dela é muito pobre, o vocabulário é pobre, curto, a estrutura é muito simples. Mas se você provoca alguma situação na qual a criança tem que imitar a outra ou falar como se fosse um personagem da televisão, falar como se fosse um professor, falar como se fosse um personagem do livro, o nível de instrução dela aumenta. Aumenta muito o vocabulário, a complexidade das sintaxes. Porque a imitação permite incorporar a capacidade de outro. Nós somos a favor do texto livre, mas com atenção para o fato de que, com ele, a criança pode ficar muito sozinha com suas próprias idéias e sem ajuda. Por isso, é interessante que o texto seja criado a partir de alguma estrutura e que o aluno receba ajuda no caso da imitação de personagens ou colegas.

Diário na Escola – A produção de texto é uma ferramenta importante para que a aquisição da leitura aconteça de forma letrada, efetiva?
Ana Teberosky – É muito importante porque permite a realização do jogo discursivo que é uma situação que, sem produção de texto, é impossível. Quando você está, por exemplo, na hora de comer, com a família, normalmente todos falam muito. Mas os temas desses discursos narrativos são muito limitados, para a aquisição da leitura são interessantes temas mais complexos. Em um comentário sobre um livro você pode incorporar muito mais, porque os temas são mais complexos, porque as palavras são mais complexas. Mais da metade do vocabulário de uma língua, de um idioma, só se encontra nos livros. O vocabulário não está na fala cotidiana, ela é muito repetitiva.

Diário na Escola – Qual a importância da apropriação do vocabulário restrito aos livros?
Ana Teberosky – Se você só tiver duas palavras para todo o mundo, o que seria do mundo? Quando a criança é pequena, a criança não fala cão. Ela refere-se ao cachorro somente como au, au. Essa é toda a referência que ela tem do animal. Mas ela pode aprender a referir-se ao cão dela, a partir de outras perspectivas: pode descobrir que o au, au pode ser chamado de cão ou de cachorro, que ele é um animal, mamífero e que au, au é o som que os cães fazem quando latem. São informações sobre o animal, agregadas à expansão do vocabulário.

Diário na Escola – Apropriação da língua é apropriação de conteúdos?
Ana Teberosky – É apropriação de conteúdos, é pensar. Não interessa a fala cotidiana automática, sem reflexão, por exemplo, quando você diz no almoço: “me dá salada”. Isso é automático. Para produzir um texto você tem que pensar a linguagem.

Diário na Escola – Qual sua recomendação para os professores que estão trabalhando produção de texto com os alunos?
Ana Teberosky – Ler muito. Devem ler como adultos, devem ler para os alunos, devem comentar o livro. Sem comentários não adianta, não há progresso. Deve-se falar muito sobre
o livro, não só sobre o conteúdo, mas sobre a linguagem, sobre a capa, as letras, como se lê hoje, sobre o jeito como se lê, sobre as ilustrações.

Diário na Escola – Nesse momento, junto com a leitura, o educador deve pedir para as crianças produzirem textos?
Ana Teberosky – Não tão de imediato, não é só o primeiro passo, há o segundo passo. Por exemplo, se o educador está lendo com os alunos Chapeuzinho Vermelho, ele pode falar sobre o engano do lobo e comparar o erro da história com alguma situação cotidiana. Os alunos podem então fazer narrativas que envolvam enganos como o da história e o que o professor contou.

Diário na Escola – Qual a idade para as crianças iniciarem a produção de texto em casa e na escola?
Ana Teberosky – Depende do estímulo da família e dos professores, mas pode ser em torno de 2 anos ou 3 anos de idade. Na escola também, o quanto antes melhor.

Diário na Escola – O professor pode pedir para a criança um texto por escrito, com algumas normas de gramática, a partir de qual idade?
Ana Teberosky – É possível pedir isso para crianças de 4,5 ou 5 anos de
idade. Depende do que o educador pede e do quanto elas tiveram contato com a leitura e com a escrita. A recomendação para o professor, na verdade, é ler muito, depois comentar, quando a criança produzir um texto, o educador deve ler, comparar,e mostrar que a escrita não existe sem a leitura e a leitura não existe sem escrita. Elas estão juntas. O aluno vai acabar entendendo que
ele deve fazer um texto para alguma coisa, em função de alguma coisa.

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