segunda-feira, 20 de abril de 2015

TEXTOS


O Docinho da Formiga


Num dia muito lindo, de sol e céu azul o formigueiro todo trabalhava avidamente, pois logo chegariam o inverno e tempos difíceis. A mamãe formiga trabalhava e cuidava também de suas formiguinhas, tinha muitas delas, mas uma era muito danadinha. Sempre se metia em encrenca e confusão, pois se afastava do formigueiro, de tanto que gostava de tudo saber.
Todos sabemos que é muito bom saber das coisas, mas quando somos pequenos devemos sempre ouvir os mais velhos, principalmente a mamãe, o papai, a vovó e o vovô.
 - Por que?
 - Ora, eles sabem das coisas! Já aprenderam antes e naturalmente vão passar para os menores.
 - Bem, voltando à formiguinha Bibica, era assim seu nome,gostava muito de mexer em tudo e, às vezes, tentava carregar folhas bem maiores que ela, e conseguia, porque a formiga tem muita força.
Até ai a mamãe dela não se preocupava,mas sim com o que ela comia. Sempre estava dizendo para Bibica comer menos açúcar. Era demais como gostava de docinhos, coisas doces como dizia.
Uma tarde viu no chão umas bolinhas, comeu uma e gostou muito. Eram docinhos e foi comendo, comendo, comendo...  De repente não viu mais nada, só ouvia sua mamãe chamando muito longe... Ficou assim por muito tempo. Quando finalmente conseguiu acordar já havia passado um dia inteiro.
 - Bibica, disse a mamãe, que te sirva de lição formiguinha danada! Nem tudo que é docinho se pode comer! Você precisa aprender a ver e saber o que põe na boca, formiguinha danada.Não sabe o trabalho que deu, pois comeu remédio de humano. Sempre que for comer alguma coisa precisa saber o que é. Às vezes os humanos jogam remédio para nós comermos e aí é o fim! Aprenda Bibica, só coma aqui no formigueiro que é a sua casa.
Ouvindo a história toda, Luisa arregalou os olhos e disse:
 - Mamãe eu só vou comer aqui em casa e nunca vou querer o docinho da formiga.
 - Isso mesmo filhinha, também para comer tem que se aprender.
Agora vamos descansar um pouquinho, e não pensar no docinho da formiga.
Com histórias simples se pode evitar muitos acidentes!

Marlene B. Cerviglieri





Você sabia que o sorvete foi inventado muito antes da geladeira e do freezer?
Isso mesmo! Embora a origem dessa delícia refrescante tenha se perdido no tempo, é provável que o sorvete tenha surgido na China há cerca de 3.000 anos. No início, ele era mais parecido com a atual raspadinha, não levava leite e geralmente era feito com neve, suco de frutas e mel.
Apesar de estar cercada de lendas e muitas controvérsias, sabe-se que a história do sorvete tem uma forte ligação com a evolução das técnicas de refrigeração. Em 1100 a.C., os chineses já sabiam como conservar o gelo formado naturalmente no inverno para usá-lo durante o verão. Afinal, ninguém ia querer ficar tomando sorvete num frio de lascar, não é mesmo?
Até a criação do refrigerador mecânico, no final do século XIX, um cozinheiro, para servir sorvetes ou outras sobremesas e bebidas geladinhas em dias de calor, dependia de suprimentos naturais de gelo, retirados de lagos e rios durante o inverno ou do alto das montanhas.
Para que fosse conservado, esse gelo era armazenado em depósitos subterrâneos revestidos com materiais isolantes, como madeira, e coberto com serragem. Desde que houvesse um sistema adequado para o escoamento da água, o gelo podia ser guardado dessa forma por meses ou até anos.

Atividade enviada por Marta França para Professores Solidários.

            A escola de dona Ostra fica lá no fundo do mar.
            Nesta escola, as aulas são muito diferentes.
            O Dr. Camarão, por exemplo, dá aulas aos peixinhos menores:
            - Um peixe inteligente presta atenção àquilo que come. Não come minhoca com anzol dentro. Nunca!
            O peixe elétrico ensina a fazer foguetes:
            - Quando nosso foguete ficar pronto, vamos à terra.
            Os homens não vão a Lua?
            E o maestro Villa-Peixes ensina aos alunos lindas canções:
            “Como pode o peixe vivo
            Viver fora d’ água fria...”
            Os alunos desta escola não são apenas peixes.
            Há, por exemplo, Estela, a pequena estrela-do-mar, tão graciosa, que é a primeira aluna da aula de balé.
            Há Lulita, a pequena lula, que é a primeira em caligrafia porque já tem, dentro dela, pena e tinta.
            E há o siri-patola, que só sabe andar de lado e por isso nunca acompanha a aula de ginástica.
            Mas nem todos os alunos são bem-comportados.
            Quando o Dr. Camarão se distrai, escrevendo na concha, Peixoto, o peixinho vermelho, solta bolhas tão engraçadas que os outros riem, riem.
            O Dr. Camarão se queixa:
            - Estes meninos estão ficando muito marotos, fazem estripulias nas minhas barbas!
            No fim do ano, Dona Ostra, que é uma professora muito moderna, leva seus alunos para uma excursão pelo fundo do mar.
            Naquele ano, os preparativos para a excursão foram animadíssimos.
            Vocês sabem, o melhor da festa é esperar por ela.
            Um grande ônibus foi contratado para levar os alunos e professores.
            Ônibus marítimo, é claro, puxado por cavalos-marinhos.
            No dia da partida, todas as mamães foram despedir-se dos filhinhos e todas faziam muitas recomendações:
            - Veja lá, hein? Não vá chegar à beira do ar, e cuidado com as gaivotas!
            - Meu filho, não chegue perto do peixe-elétrico quando ele estiver ligado. É muito perigoso!
            - Adeus, adeus, boa viagem, aproveitem bem!
            E eles aproveitaram mesmo.
            Que beleza é o fundo do mar!
            E como aprenderam!
            - Veja, dona Ostra, que peixão tão grande, dando de mamar ao peixinho!
            - Aquilo não é peixe, não, é uma baleia. As baleias são de outra família. Por isso dão de mamar aos filhotes.
            E aprenderam muitas outras coisas. Viram os peixes-voadores, que davam grandes mergulhos no ar; viram os golfinhos, que são parentes das baleias, inteligentíssimos.
            E os tubarões, muito emproados, que andam sempre com seus ajudantes, os peixes-pilotos.
            O mais emproados de todos é o Barão Tubarão.  Mora num grande castelo de madrepérola, com seu filho, o Tubaronete.

            Naquela noite, acamparam perto do castelo do Barão.
            Todos ajudaram a armar o acampamento e, quando tudo ficou pronto, juntaram-se e começaram a cantar;
            “Roda, roda, roda,
            pé, pé, pé.
            Caranguejo só é peixe
            Na enchente da maré...”
            Ouvindo aquela cantoria, o Tubaronete veio espiar o que havia.Ele era um peixe muito mal-educado, não ia á escola, nem nada, era um verdadeiro “play-peixe”.
            Começou a caçoar de todos, a imitar o jeito de cada um, que é uma coisa muito feia.
            Dona Ostra ficou aborrecida.
            - Olhe aqui, menino, se você quiser, pode ficar, mas tem que se comportar direitinho, como os outros.
            Tubaronete era mesmo muito mal-educado.
            Avançou para dona Ostra, vermelhinho de raiva:
            - Eu não preciso de vocês, seus peixes de água doce, seus peixes de lata!
            E arrancou a pérola de dona Ostra e fugiu, espirrando água para todos os lados.
            Dona Ostra se pôs a chorar:
            - Ai, minha pérola! Como é que vou passar sem ela? Já estava tão acostumada...
            - Ah, dona Ostra, não se aflija, não - disse Peixoto, que, apesar de pequenininho, era muito valente.
            - Eu vou já ao castelo buscar a pérola. Se ele não devolver, falo com o pai dele!
            Dona Ostra empalideceu:            - Ai, não vai não! Eu tenho tanto medo de tubarão, ainda mais de tubarão barão.
            - Eu vou, sim. Se a gente ficar de braços cruzados, sua pérola não volta nunca mais.
            Chegando ao palácio do Barão, Peixoto bateu as barbatanas com toda a força:PLAC, PLAC, PLAC!
            Veio atender ao portão uma senhora enguia, de uniforme preto e touquinha branca na cabeça.
            - Boa noite, dona Cobra, diga ao Tubaronete que aqui está o Peixoto, que quer falar com ele sem demora – disse o peixinho.
            - Cobra, não! Dobre a língua, ouviu? Meus patrões não têm tempo a perder com senhores Peixotos...
            E foi entrando, sem querer escutar o que Peixoto estava dizendo. Mas Peixoto não desanimou.
            Rodeou a casa até que encontrou uma janela meio aberta e foi entrando, mesmo sem convite.
            Lá estavam o Barão e o Tubaronete jantando.
            Peixoto, com o coração batendo muito, adiantou-se:
            - Desculpe, seu Barão, eu ir entrando assim, mas tenho umas contas a ajustar aqui com o seu filho. Cadê a pérola de dona Ostra? Devolva já, já!
            Tubaronete até engasgou de susto:
            - Eu ia devolver, eu ia, sim! Tome a pérola, eu estava brincando...
            O Barão Tubarão levantou-se, furioso:
            - De que é que vocês estão falando? Pelo que vejo, o senhor meu filho já aprontou mais uma das suas! É a vergonha da família Tubarão! Vou-lhe aplicar um castigo tremendo!
            Peixoto ficou com pena de Tubaronete:
            - Olhe, seu Barão, eu acho que o Tubaronete é assim, por que ele não sabe nada. Por que é que ele não vai á escola como os outros peixes?
            O Barão não disse nada, mas, no ano seguinte, Tubaronete foi o primeiro aluno que se matriculou na escola de dona Ostra.
            Faz muito tempo que essa história se passou.
            Tubaronete já não é mais aquele peixe sem educação que era naquele tempo. Ele, agora, é aluno de dona Ostra, dos mais aplicados. É ele quem apaga a concha para os professores, e é agora o melhor amigo do Peixoto.
            Os dois combinaram que, quando se formarem, vão ser sócios.
            Vão fundar uma grande agência de turismo, para fazerem sempre outras viagens pelo fundo do mar.
                                                                                                   Ruth Rocha


            Há muito tempo, não havia zebras, mas havia muitos burros.
            Os burros trabalhavam pesado todos os dias.
Não tinham tempo para brincar e nem para descansar, carregavam fardos pesados o dia inteiro e os levavam por longas distâncias, percebendo que nunca ninguém agradecia o trabalho que realizavam.
            Então, os burros foram ver um velho sábio e contaram o seu problema.
            O velho sábio pensou, pensou...
            Estava de acordo com os burros, eles trabalhavam muito duro, então o sábio quis ajudá-los.
            De repente o velho sábio disse:
– Tenho uma ideia:
– Qual é a ideia? – perguntaram os burros.
            – Vou pintá-los! – disse-lhes o velho sábio – eu os pintarei e ninguém saberá que são burros...
            O velho sábio foi buscar as tintas e regressou em poucos minutos com duas latas, uma cheia de tinta branca e a outra com tinta preta.
            O velho começou a pintá-los. Primeiro os pintou com tinta branca e depois desenhou as listras pretas sobre a tinta branca.
            Quando terminou, os burros não se pareciam mais com o que eram.
            – Já não se parecem com burros, então vou chamá-los de zebras.
            As zebras foram tranquilas pastar em um campo. Ninguém as atrapalhou e não precisaram trabalhar, ao invés disso se deitaram na grama e adormeceram.
            Passado pouco tempo, outros burros viram as zebras e lhes perguntaram de onde elas eram. As zebras contaram então o segredo e todos os burros correram a ver o velho sábio.
            – Faça-nos zebras também, por favor... – pediram ao sábio.
E assim o velho pintou mais e mais burros, quanto mais os pintava, mais burros apareciam.
Ele não conseguia trabalhar mais depressa, e pronto, os burros começaram a ficar impacientes, pisoteavam o chão com força, davam coices e a bagunça se formou de tal maneira que derrubaram as latas de tinta.
Acabou-se a pintura!
Os burros pintados correram a se juntar com as zebras e os outros burros impacientes, tiveram que voltar ao antigo trabalho.
Esta é a razão porque burros e zebras habitam a Terra.
No entanto, esta também é a razão de saber por que a paciência é importante.

                                                               Conto de Uganda recontado por Ned Jansen



Mudanças no galinheiro mudam as coisas por inteiro.


O Sol estava resfriado e tinha tomado uma aspirina. Mesmo assim, o nariz continuava a pingar, muito roxo-rosado, que é a cor do nariz do Sol, quando ele está resfriado.
Como o Sol estava muito chateado, sentindo calafrios, que são uns arrepios que sacodem a gente quando a febre é alta, pegou no telefone e telefonou para a Lua.
A Lua ouviu o telefone tocar, mas, como estava ocupada, chamou o Dragão, que é o cachorrinho dela.
O Dragão atendeu assim:
- Alô! Casa de dona Lua Nova!
O Sol, muito rouco, disse que precisava falar com ela, mas o Dragão respondeu que a dona Lua Nova estava ocupada e não podia atender.
O Sol ficou danado da vida, teve mais vinte e oito arrepios, sua febre aumentou até milhões de graus e gritou, quase sem voz:
- Anda logo, dona Lua Nova tem quem me atender!!!
O Dragão largou o telefone enganchado no dedo de um astronauta que ia passando e foi chamar dona Lua Nova.
Ele, o Dragão, era um tipo acostumado a obedecer a qualquer pessoa que falasse mais alto, muito nervoso, cuspindo um fogo bem fraquinho pelo nariz, tal como dizem que os dragões fazem. Era só dizer qualquer coisa, ele fazia, sem perguntar.
Como o Dragão tinha ouvido dizer que dragão soltava foguinho pelo nariz, ele também soltava, bem devagarzinho...
Não é que gostasse, achava até que não era muito agradável soltar fogo e puxar fumaça pro pulmão, mas fazia.
Dona Lua Nova foi atender, furiosa:
-Alô!!!
- Quem fala?
- É dona Lua Nova, seu Sol idiota! Manda chamar e depois fica perguntando
quem é?
- É que estou rouco e não escuto direito! - respondeu o Sol. Dona Lua ficou ainda mais furiosa com a resposta e falou:
- Diga logo qual é a pressa do assunto, estou ocupada!
- Fazendo o quê? - perguntou o Sol.
- Lendo o jornal no banheiro e fazendo o que não é da sua conta!
- É que eu estou com gripe, muito doente, estou com febre, muito alta, tomei aspirina e não adiantou. Deitei, me cobri, não adiantou. Então estou avisando que hoje não vou poder trabalhar, talvez a senhora possa dar um jeito.
- Quer dizer que hoje não vai ter dia?
- É! - espirrou o Sol. - Atchim!
- Quer dizer que o pessoal da Terra vai ter duas noites seguidas, sem um dia no meio?
- Atchim! - respondeu o Sol.
O espirro foi tão forte, que desligou o telefone.
Dona Lua Nova ficou nervosíssima. [...]
- Jeremias!
Esqueci de dizer que o Dragão se chamava Severino, mas a Lua, só de implicância, mudou o nome dele.
            O Dragão nem reclamou, porque aceitava as coisas com muita mansidão.
            - Senhora? - respondeu Severino, que era dragão e atendia pelo nome de Jeremias.
            - Apronta meu café, vou ter que sair novamente. O Sol está gripado, não pode trabalhar hoje. [...]
O Dragão trouxe pão, manteiga, geléia de jabuticaba, ovos estrelados e leite. A Lua comeu tudo e virou Lua Cheia, toda redonda. [...]
Quando a Lua Cheia apareceu novamente no céu, de dia, foi um espanto!
O galo ia cantar, olhou pra cima, não viu o Sol e ficou de boca aberta, sem entender onde o dia tinha ido parar.
            Como não havia Sol, o galo ficou chateadíssimo e começou a implicar com a galinha:
            - O galinheiro está uma desordem, você é péssima dona-de-casa, não cuida direito dos pintinhos, etc, etc, etc e tal.
            A galinha reparou que o Sol não estava no céu e que a Lua tinha voltado.
            Como o Sol é patrão do galo e galo tem mania de mandar em galinha, a galinha pensou, pensou, pensou e concluiu:
            - Se o galo não pode cantar porque o Sol sumiu do céu, é porque o galo não manda coisa alguma, porque, se mandasse, cantava. O galo implica comigo porque sou fraca, fraca.
Sou fraca, mas se eu resolver mudar, eu mudo!
A galinha subiu no poleiro, tomou coragem e falou:
- Se a casa está em desordem, a culpa é minha, mas também é do galo. Afinal, a casa é nossa. Ele que ajude... e se os pintinhos estão malcuidados é porque meu marido só faz cantar de galo, esquece de conversar com os filhos, esquece de ser amigo da gente.
            Aí, ela ficou tão nervosa, tão nervosa, que abriu a boca
e cantou:
            - Cocoricó!
            Quando a galinha cantou, o Dragão descobriu que tinha chegado a hora dos fracos...
            Pegou um pára-quedas e desceu lá de cima, gritando:
            - Meu nome não é Jeremias, meu nome é Severino!
Aí, a Lua pensou:
- Se o Sol está doente, por que será que eu tenho que trabalhar, sem receber um pagamento extra?
            A Lua foi pedir trezentos e cinqüenta e oito reais pro Sol, como pagamento por trabalhar fora do horário.
O Sol, quando ouviu falar em pagamento, ficou logo bom. Mais um dia de gripe seria muito caro.
O Dragão começou a exigir respeito e voltou a ser chamado pelo nome verdadeiro: Severino.
            Deixou também de fazer o que não gostava, passando a não soltar mais fogo
pelo nariz.
            Agora, o mais importante mesmo foi que a galinha aprendeu a cantar.
            Afinal... as mudanças no galinheiro,
mudaram as coisas por inteiro!
Sylvia Orthof. Retirado de: Contos de estimação. Rio de Janeiro: Objetiva, 20

O Pequeno Herói da Holanda


A Holanda é um país cuja maior parte do território fica abaixo do nível do mar. As pessoas construíram enormes muralhas chamadas diques para impedir o Mar do Norte de invadir a terra, inundando-a completamente, a partir de então, desde muitos séculos o povo se esforça para manter as muralhas resistentes, a fim de que o país continue seco e em segurança.
Até as crianças pequenas sabem que os diques precisam ser vigiados constantemente e que um buraco do tamanho de um dedo pode ser algo extremamente perigoso.
Há muitos anos, vivia na Holanda um menino chamado Peter. Seu pai era uma das pessoas responsáveis pelas comportas dos diques. Sua função era abri-las e fechá-las para que os navios pudessem sair dos canais em direção ao mar aberto.
Numa tarde do início do outono, quando Peter tinha oito anos, a mãe o chamou enquanto brincava: - Venha cá, Peter. Vá levar esses bolinhos do outro lado do dique para o seu amigo cego. Se você andar ligeiro e não parar para brincar, vai chegar em casa antes de escurecer.
O menino gostou da tarefa e partiu feliz da vida. Ficou um bom tempo com o pobre cego, contando-lhe sobre o passeio da vinda e o sol e as flores e os navios lá do mar.
De repente, lembrou-se da mãe dizendo para voltar antes de escurecer, despediu-se do amigo e tomou o rumo de casa.
Quando passava pelo canal, percebeu como as chuvas tinham feito subir o nível da água e que elas estavam batendo forte contra o dique, e pensou nos diques da casa do pai:
− Que bom que eles são tão fortes! Se quebrassem, o que seria de nós? Esses campos lindos ficariam inundados! − Meu pai sempre diz as águas estão "zangadas". Parece que ele acha que elas estão zangadas por ficarem presas tanto tempo.
O menino parava a toda hora para pegar umas florzinhas azuis que cresciam à beira do caminho, ou para escutar o barulhinho dos coelhos andando pela relva. Mas, com maior frequência, sorria ao pensar no pobre cego que tão poucos prazeres tinha e tanto apreciava suas visitas.
De repente, percebeu que o sol estava se pondo e escurecia rápido:
− Minha mãe vai ficar preocupada − pensou ele − já correndo para chegar logo em casa.
Nesse exato momento, ouviu um barulho. Parecia água respingando! O menino parou e foi procurar de onde vinha. Encontrou um buraquinho no dique por onde estava correndo um fio de água. Qualquer criança na Holanda morre de medo só de pensar num vazamento dos diques. Peter compreendeu o perigo imediatamente, se a água passasse por um buraco qualquer, de pequeno ele logo se tornaria grande e todo o país seria inundado.
O menino prontamente percebeu o que deveria fazer. Jogou fora as flores, desceu a encosta lateral do dique e enfiou o dedo no furo.
A água parou de vazar! E Peter ficou pensando com seus botões:
− Ahá! As águas zangadas vão ficar presas. Posso contê-las com meu dedo. A Holanda não vai ser inundada enquanto eu estiver aqui.
Correu tudo bem no início, mas logo escureceu e esfriou. O menino começou a gritar bem alto:
− Socorro! Alguém venha até aqui! Mas ninguém ouviu; ninguém veio ajudar.
Foi fazendo cada vez mais frio; o braço começou a doer e a ficar dormente. Ele tornou a gritar:
− Será que ninguém vai vir aqui? Mãe! Mãe!
Mas ela já tinha procurado pelo menino muitas vezes desde que o sol se fora, olhando pelo caminho do dique até onde a vista alcançava, e decidiu voltar para casa e fechar a porta, achando que ele havia decidido passar a noite com o amigo cego, e estava disposta a ralhar com ele no dia seguinte de manhã por ter ficado fora de casa sem sua permissão.
Peter tentou assobiar, mas os dentes batiam de frio. Pensou no irmão e na irmã, aconchegados no calor de suas camas, e no pai e na mãe queridos.
− Não posso deixá-los afogar. Preciso ficar aqui até que alguém venha, mesmo que passe a noite inteira.
A lua e as estrelas brilhavam, iluminando o menino recostado numa pedra junto ao dique. A cabeça pendeu para o lado, os olhos fecharam, mas Peter não adormeceu, pois a toda hora esfregava a mão que estava detendo o mar zangado.
− De alguma forma, eu vou agüentar! pensava ele. E passou a noite inteira ali, contendo as águas com seu dedinho.
De manhã, bem cedinho, um homem a caminho do trabalho achou ter ouvido um gemido enquanto passava por cima do dique. Inclinou-se na borda e encontrou o menino agarrado à parede da muralha.
− O que aconteceu? Você está machucado?
− Estou contendo a água do mar! − gritou Peter. − Mande vir socorro logo!
O alerta foi dado imediatamente. Chegaram várias pessoas com pás, e logo o furo estava consertado.
Peter foi levado para casa, ao encontro dos pais, e rapidamente todos ficaram sabendo que ele lhes havia salvo as vidas naquela noite e até hoje, ninguém se esquece do corajoso Pequeno Herói da Holanda.

A HISTÓRIA DO ZÉ ALEGRIA

                                          
Havia uma fazenda onde os trabalhadores viviam tristes e isolados.
Eles estendiam suas roupas surradas no varal e alimentavam seus magros cães com o pouco que sobrava das refeições. Todos que viviam ali trabalhavam na roça do Sr. João, dono de muitas terras, que exigia trabalho duro, pagando pouco.
Um dia chegou ali um jovem agricultor em busca de trabalho. Foi admitido
e recebeu, como todos uma velha casa para morar enquanto trabalhasse ali.
         Vendo a casa suja e abandonada, o jovem resolveu dar-lhe vida nova.
Cuidou da limpeza e, em suas horas vagas, lixou e pintou as paredes com cores alegres e brilhantes, além de plantar flores no jardim e nos vasos.
A casa limpa e arrumada destacava-se das demais e chamava a atenção de todos que por ali passavam.
Ele sempre trabalhava alegre e feliz na fazenda, por isso tinha o apelido de Zé Alegria. Os outros trabalhadores perguntavam:
− Como você consegue trabalhar feliz e sempre cantando com o pouco dinheiro que ganhamos?
O jovem olhou para os amigos e disse:
− Bem, este trabalho hoje é tudo que eu tenho. Ao invés de blasfemar e reclamar, prefiro agradecer por ele. Quando aceitei trabalhar aqui, sabia das condições. Não é justo agora reclamar. Farei com capricho e amor aquilo que aceitei fazer.
Os outros, que acreditavam ser vítimas das circunstâncias, abandonados pelo destino, o olhavam admirados e comentavam entre si:
− Como ele pode pensar assim?".
O entusiasmo do rapaz, em pouco tempo, chamou a atenção do fazendeiro, que passou a observá-lo à distância.
Um dia o Sr. João pensou:
− Alguém que cuida com tanto carinho da casa que emprestei, cuidará com o mesmo capricho da minha fazenda. Ele é o único aqui que pensa como eu. Estou velho e preciso de alguém que me ajude na administração da fazenda.
Num final de tarde, foi até a casa do rapaz e, após tomar um café fresquinho, ofereceu ao jovem o cargo de administrador da fazenda.
O rapaz aceitou prontamente.
Seus amigos agricultores novamente foram lhe perguntar:
− O que faz algumas pessoas serem bem sucedidas e outras não?
A resposta do jovem veio logo:
− Em minhas andanças, meus amigos, eu aprendi muito e o principal é que não somos vítimas do destino. Existe em nós a capacidade de realizar e dar vida nova a tudo que nos cerca. E isso depende da vontade de cada um de nós.
                                                                                              Autor desconhecido


FADA QUE TINHA IDÉIAS


Clara Luz era uma fada, de seus dez anos de idade, mais ou menos, que morava lá no céu, com a senhora fada sua mãe. Viveriam muito bem se não fosse uma coisa:
Clara luz não queria aprender a fazer mágicas pelo livro das fadas.
Clara Luz queria inventar as suas próprias mágicas.
− Mas minha filha, todas as fadas sempre aprenderam por esse livro− dizia a Fada Mãe. Por que só você não quer aprender?
− Não é preguiça, não, mamãe. É que não gosto de mundo parado.
− Mundo parado?
− É que quando alguém inventa alguma coisa o mundo anda. Quando ninguém inventa nada, o mundo fica parado. Nunca reparou?
− Não...
− Pois repare só.
A Fada Mão ia cuidar do serviço, muito preocupada. Ela morria de medo do dia em que a Rainha das Fadas descobrisse que Clara Luz nunca saíra da Lição Um do Livro.
A rainha era uma velha fada muito rabugenta. Felizmente vivia num palácio do outro lado do céu. Clara Luz e sua mãe moravam numa rua toda feita de estrelas, chamada Via Láctea. A casinha delas era de prata e tinha um jardim todo de flores prateadas.
Minha filha faça uma forcinha, passe ao menos para a Lição Dois! − pedia a Fada Mãe, aflita.
− Não vale a pena, mamãe. A Lição Um é tão enjoada, que a dois tem que ser duas vezes pior...
− Mas enjoada por que se ensina a fabricar tapete mágico...
− Já pensou que maravilha saber fazer um tapete mágico?
− Não acho não. Tudo quanto é fada só pensa em tapete mágico. Ninguém tem uma idéia nova!
Clara Luz estava sempre fazendo experiências com sua varinha mágica. Já de manhã cedo, reparava no bule de prata, olhava para ele e tinha uma idéia:
− Tem bico. Dá um bom passarinho.
E transformava o bule em passarinho, mas, o passarinho saía com três asas, duas novas e a do bule que tinha sobrado.
A Fada Mãe entrava na sala e levava um susto danado
− Que bicho esquisito é esse?
− É o bule, mamãe, que eu transformei em passarinho.
− Clara Luz! E agora? Onde vou coar o pó da meia noite para fazer o nosso café? E que idéia é essa de fazer passarinhocom três asas? Ao menos ponha só duas asas nele!
− Mas mamãe, ele gosta de ter três asas!
O passarinho furioso entrava na conversa:
− Não gosto não senhora! Faça o favor de me consertar já!
Clara Luz não acertava e quem acabava consertando era a Fada Mãe e o passarinho agradecia muito:
− Se não fosse a senhora eu não sei como seria! Essa sua filha é muito intrometida. E saía pela janela resmungando ainda.
− Veja só inventar que eu gosto de ter três asas!
Mas essas eram as idéias menores de Clara Luz. Havia outras bem maiores.
A maior amiga de Clara Luz era Vermelhinha, uma estrela cadente e por ser cadente Vermelhinha podia ir onde queria no céu. Ela e Clara Luz corriam sem parar brincando de esconder atrás das nuvens.
− Minha filha, porque você não arranja uma amiga mais calma, heim? − perguntava a Fada Mãe, às vezes muito tonta com as travessuras de Clara Luz e Vermelhinha.
Mas perguntava por perguntar, pois gostava muito de vermelhinha. Tanto que, no aniversário da estrela resolveu dar uma festa.
            Vermelhinha ia fazer nove milhões de anos, o que para uma estrela é bem pouco.
            Clara Luz, que adorava festas, estava felicíssima, ajudando a mãe muito direitinho que justamente na véspera da festa teve que sair para desencantar uma princesa.
            − Não faz mal − disse a Fada Mãe − Está tudo quase pronto. Você pode ir fazendo a massa dos bolinhos de luz, enquanto eu vou ver a tal princesa. Acho que já sabe faze-los sozinha.
            − Sei fazer muito bem.
            − Ótimo! Amanhã cedo faço o bolo de aniversário. É só o que está faltando.
            E a Fada Mãe abrindo suas asas cor de prata saiu voando pela janela, então Clara Luz correu para a cozinha e abriu o livro de receitas na página dos bolinhos:

Bolinhos de Luz

250 g de raio de sol
250 g de raios de luar
1 c de chá de fermento de relâmpago
Maneira de fazer:
Mistura-se bem os raios de sol e de luar, até saírem faíscas.
Junta-se então o fermento de relâmpago.

− Que fácil! − pensou Clara Luz. − Não sei como certas pessoas podem achar difícil
fazer bolo!
E foi tirando os raios de sol e de luar dos potes onde estavam guardados, nas prateleiras. Despejou tudo num tacho e mexeu, como a receita mandava. A cozinha inteira começou a brilhar, faiscar e fazer barulho.
Quando chegou a hora do fermento, Clara Luz teve uma idéia:
− Fermento é que faz o bolo crescer. Se em vez de uma colher de chá, eu puser um relâmpago inteiro, vai sair um bolão enorme. Mamãe amanhã nem vai precisar fazer o bolo das velas.
É claro que não havia relâmpago inteiro em casa. Clara Luz não se atrapalhou:
− O jeito é eu ir para a janela e pescar o primeiro que passar.
Mas não foi fácil. Nenhum relâmpago concordava em entrar no bolo:
− Eu não, ora essa! Tenho mais o que fazer!
Afinal passou uma família inteira de relâmpagos: pai, mãe e cinco filhos. Ninguém deu confiança à Clara Luz mas, o menor de todos, um relampagozinho muito esperto ia no fim da fila.
− Pssiu! − chamou Clara Luz. − Você quer entrar no meu bolo?
− Eu não, que não sou bobo. Pensa que quero ser comido em festa de aniversário?
− Clara Luz pensou um pouco:
− Você entra e depois sai. É só para fazer o bolo crescer.
O relampagozinho começou a gostar da idéia:
− Puxa! Deve ser divertido mesmo...
E aí a confusão ficou do tamanho certo!

Fernanda Lopes de Almeida



A FÁBULA DA CONVIVÊNCIA



Durante uma era glacial, muito remota, quando parte do globo terrestre esteve coberto por densas camadas de gelo, muitos animais não resistiram ao frio intenso e morreram indefesos, por não se adaptarem às condições do clima hostil.
Foi então que uma grande manada de porcos-espinhos, numa tentativa de se proteger e sobreviver, começou a se unir, a juntar-se mais e mais. Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro.
E todos juntos, bem unidos, agasalhavam-se mutuamente, aqueciam-se, enfrentando por mais tempo aquele inverno tenebroso.
Porém, vida ingrata, os espinhos de cada um começaram a ferir os companheiros mais próximos, justamente aqueles que lhes forneciam mais calor, aquele calor vital, questão de vida ou morte.
E afastaram-se, feridos, magoados, sofridos. Dispersaram-se, por não suportarem mais tempo os espinhos dos seus semelhantes. Doíam muito...
Mas, essa não foi a melhor solução: afastados, separados, logo começaram a morrerem congelados. Os que não morreram voltaram a se aproximar pouco a pouco, com jeito, com precauções, de tal forma que, unidos, cada qual conservava certa distância do outro, mínima, mas o suficiente para conviver sem ferir, para sobreviver sem magoar, sem causar danos recíprocos.
Assim suportaram-se, resistindo à longa era glacial.
Sobreviveram!
É fácil trocar as palavras... difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado... difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto... difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos... difícil é reter seu calor!
É fácil sentir o amor... difícil é conter a sua torrente!

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