Publicado em 17 Novembro 2014
A aula expositiva sempre foi e sempre será uma gostosa maneira de ensinar, pois permite ao professor transmitir a mesma mensagem para muitos, impõe a tirania do discurso, enaltece a vaidade de sentir-se proprietário do saber e do conhecimento. Como não enaltece o protagonismo, obriga a plateia à onipresença do silêncio e, de tantas vezes repetidas, impõe a quem pensa que ensina uma rotina que, quando ocasiona cansaço, é apenas o esgotamento físico de se falar inutilmente a mesma coisa, inúmeras vezes. Mas, se esse sistema de aula tão popular e antigo é sinônimo de conforto ao emissor, representa a pior maneira de aprender, desde quando foi possível observar a mente humana em processo de transformação causada pelo conhecimento.
O que aqui se afirma não representa opinião pessoal de quem sempre foi inimigo dessa estratégia hostil. Estudos neurológicos que celeremente avançam mostram que a exposição de alunos a repetidos discursos nada representa para sua cognição e inteligência e significa muito pouco para a memória e a materialização do aprender em fazer. A aula expositiva é saboroso conforto para professores que odeiam se transformar, mas é, ao mesmo tempo, galopante frustração para alunos que buscam se transformar. Se, por exemplo, um professor dividir seus alunos em três grupos, sugerir ao primeiro que insista em repetir um conceito muitas vezes, propor ao segundo que imagine esse mesmo conceito envolvido em ações cotidianas do dia a dia, solicitar ao terceiro que busque transformar o conceito em imagens, como se o assistisse em um filme ou novela, e, depois de algum tempo, avaliar o desempenho de cada grupo, repetindo essa avaliação em uma semana e, depois, em um mês, descobrirá que o primeiro grupo apresentará resultado pífio e memória apagada em detrimento do poder de conexões e domínio de memorização dos demais grupos.
Experiências como essas não são inéditas. Encontram-se ao alcance e foram realizadas em lugares de todo o mundo, com alunos de todas as idades. Diante da cristalina certeza das vantagens dos segundo e terceiro grupos em relação ao primeiro, descobre-se a inutilidade enervante da aula expositiva e a solene e incontestável superioridade da aprendizagem pelos caminhos da imaginação ou do domínio perceptivo ocasionado pelo exercício da contextualização. E, então, onde fica o professor em tudo isso?
A resposta é simples: escorado na comodidade da ação saborosa que não serve para coisa alguma ou apoiado pela certeza de que ensina a pensar, imaginar, transferir e se transformar. O que vale mais? Ser inútil e não ajudar ninguém a nada ou descobrir sua identidade e semear o saber?
Nenhum comentário:
Postar um comentário