Publicado em 22 Outubro 2014
Toda pessoa adulta, goste ou não do sabor, sabe o que é alho e muito provavelmente já ouviu, pelo menos uma vez na vida, o provérbio “não confunda alhos com bugalhos”. No entanto, poucos se dão conta de que, afinal, significa bugalho. Ao buscar essa palavra em um dicionário, aprendi que bugalho é a excrescência de qualquer parte do vegetal, produzida pela ação de fungos ou insetos. Em outras palavras, o provérbio popular sugere que se separe o produto desejado, no caso o alho, sem confundi-lo com algum caroço de discutível semelhança.
Esse provérbio, de certa forma, ajusta-se à teoria das inteligências múltiplas e solicita, portanto, que não se confunda o conceito de inteligência com o de competência, o de habilidade ou ainda o de construtivismo. Não há mesmo razão alguma para confundi-los.
Inteligência é um potencial biopsicológico que, no ser humano, o ajuda a resolver problemas. Dessa forma, é atributo inato à espécie, e assim nascemos com nossas diferentes inteligências, cabendo ao ambiente no qual se inclui naturalmente a escola estimulá-las.
A competência não é inata e, portanto, é um atributo adquirido. Representa a capacidade de usar nossas inteligências, assim como pensamentos, memória e outros recursos mentais, para realizar com eficiência uma tarefa desejada. Se ao buscarmos um destino qualquer descobrimos que a estrada foi interrompida, nossas inteligências e levam à certeza de que devemos buscar outra saída. Contudo, a forma como faremos determina o nosso grau de competência. Como podemos perceber, a competência é a operacionalização da inteligência e a forma concreta e prática de colocá-la em ação. Assim, ao trabalhar as diferentes inteligências humanas, o professor pode ativar diferentes competências. Percebemos, dessa maneira, que a noção de competência surge quando aparece ou é proposto um problema, pois esse desafio mostrará a melhor forma de superá-lo. Superar um problema com competência, entretanto, não implica que tenhamos habilidade para fazê-lo.
A habilidade é produto do treino e do aprimoramento de nossa destreza. Para que esses conceitos se ajustem à prática, vejamos o seguinte exemplo: o automóvel que nos leva à praia empaca em meio à estrada; nossas inteligências detectam esse problema e a necessidade de superá-lo. Se tivermos competência para isso, apanhamos a caixa de ferramentas e colocamo-nos em ação. Se não a temos, ao menos precisamos ter outra competência: a de chamar depressa um mecânico. Supondo que saibamos consertar a peça defeituosa e, dessa forma, resolvamos de forma pertinente o problema que nos empaca, o faremos com maior ou com menor habilidade. Se o problema é histórico em nosso carro e em nossa vida, provavelmente já conquistamos habilidade maior em substituir ou consertar a peça defeituosa.
Levando-se esse exemplo para a sala de aula, podemos, ao ensinar um ou outro conteúdo, explorar suas implicações linguísticas, lógicas, matemáticas, espaciais, corporais, entre outras. Podemos ainda, ao propor desafios e arquitetar problemas, treinar competências nossas e de nossos alunos, verificando que alguns as usam com notável habilidade, outros com menos, mas que, com persistência, poderá crescer.
O trabalho com inteligências múltiplas em sala de aula pressupõe reflexão construtivista, voltada para o despertar progressivo de competências e a sua transferência para a vida prática por meio do desenvolvimento de muitas habilidades que aos poucos se aprimoram. Essa concepção se opõe à ideia de que o saber transfere-se de uma pessoa para outra como algo que, estando pronto, vem de fora e se encaixa na mente do aluno.
Regina SEMED
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