sábado, 6 de junho de 2015
Unknown
11:29
O discurso de posse da presidente Dilma Rousseff, reeleita para mais quatro anos à frente do governo federal, ainda repercute entre nós, professores, por conta do lema escolhido para o novo mandato: “Brasil, pátria educadora”. Se por um lado esse posicionamento parece sinalizar que a Educação será finalmente prioridade (algo longamente reivindicado), por outro, nosso instinto é – escaldados por décadas de descaso – desconfiar que possamos mais uma vez ficar somente no discurso, sobretudo no que diz respeito aos Jovens e Adultos.
Será que o slogan vale também para a EJA? Caso sim, precisaremos de um grande esforço para enfrentar de fato os problemas dessa modalidade de ensino. Isso é o que comprovam os dados:
Em termos de alfabetização, o país ainda precisa abrir espaço para que cerca de 13,3 milhões de brasileiros acima de 15 anos aprendam a ler e escrever, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2013, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para ter uma ideia do tamanho do problema, segundo o Censo Escolar 2013, há apenas cerca de 3,8 milhões de alunos matriculados na EJA. Isso significa que, para dar conta da população não alfabetizada, a oferta de cursos precisaria mais do que triplicar. Um desafio e tanto!
Ao considerarmos a Educação Básica como um todo, o buraco é ainda mais embaixo: cerca de 83 milhões de pessoas com 18 anos ou mais não concluíram o Ensino Fundamental ou o Médio, de acordo com o Censo Demográfico 2010, o que corresponde à quase metade dos brasileiros.
Em um país com déficits educacionais acumulados por anos, como o Brasil, volta e meia reaparece a discussão se deveríamos investir na EJA: Será que não seria mais interessante priorizar a Educação das crianças, que ainda têm toda a vida profissional pela frente? Esse investimento não “daria mais retorno”? É como se tivéssemos de escolher entre elas e os adultos. Esse argumento é empregado com frequência por alguns gestores para desencorajar investimentos no atendimento ao público mais velho.
Por outro lado, há quem defenda a EJA como uma ferramenta de formação de mão de obra mais qualificada. São comuns reportagens sobre empresas que não conseguem preencher as vagas de trabalho por não encontrarem profissionais suficientemente capacitados. Segundo essa perspectiva, acelerar a formação desses adultos é bom para os empregadores, para o governo e para os futuros funcionários, que conseguiriam melhores ocupações e salários.
Porém, anterior a qualquer debate, há outro aspecto ainda mais essencial, que é o do direito à Educação. Se, como afirma a Constituição Federal, todo brasileiro tem direito à Educação Básica, então o estado deve prover condições para que isso aconteça, mesmo no caso de quem não teve condições de estudar quando criança. Isso significa proporcionar uma situação propícia para que essas 83 milhões de pessoas estudem e concluam uma etapa de aprendizado que lhes é de direito.
Como escreveu o cientista político Daniel Cara, até agora nossa postura como país foi aguardar que as pessoas analfabetas envelheçam e, consequentemente, morram. A perspectiva da EJA como instrumento para prover o direito à Educação ainda não foi encampada historicamente no Brasil. Será que conseguiremos mudar essa postura? Seremos, de fato, uma pátria educadora para todos?
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