terça-feira, 1 de setembro de 2015

FELICIDADE CLANDESTINA

COMO PROVAR QUE LER É O QUE SE FAZ A CADA INSTANTE ?




FELICIDADE CLANDESTINA
Há sempre tempo para se ter esse prazer de  . . . esse conto de CLARICE LISPECTOR dirá o que....

COMO PROVAR QUE LER É O QUE SE FAZ A CADA INSTANTE ?

Bastaria, em princípio, a prática de um gênero pouco cultivado nas escolas e fora dela:o relatório. Registrar o que se lê a  cada instante.
De fato,ao se registrar cada ato praticado desde que acordamos , ou apenas durante um período do dia, estaríamos registrando também tudo o que “lemos” nesse período.
Logo ao abrirmos os olhos, vemos – ou lemos –a página do quarto : quais os móveis, a disposição deles, as cores. Se quisermos entender essa experiência, no sentido de uma leitura crítica, podemos até fazer algumas considerações a respeito dessas primeiras leituras diárias, ou de nossas reações diante delas: o prazer que nos causa o sabor de um café bem quente, ou a indignação que nos invade diante de mais um recente escândalo de corrupção de políticos noticiado nas páginas dos jornais do dia.
Ao programarmos o que fazer nas próximas horas, mais uma etapa da leitura: ler o que a memória registrou e nos legou como “coisas a fazer”, e outras tantas, que criamos especialmente para essas próximas horas, próximas semanas, próximos meses ou anos.. . Nesse repertório entram os deveres – estudo, trabalho.e entram as diversões – encontro com amigos , reuniões familiares , festas.
E há as demais leituras, tão necessárias e tão  pautadas na rotina, que, por  vezes, nem nos damos conta de que elas existem : ler recados no celular e ler os sinais de trânsito, ler a expressões de tristezas ou de alegria de colegas e amigos, ler as horas e constatar que estamos em atraso ou adiantados para um compromisso.E há leituras de sinais, apenas sinais,como certas intuições a respeito do que poderá acontecer e ainda não aconteceu.E há leituras de textos abafados nos meandros do sim, desconhecidos de nós mesmos, sem emergir à flor da nossa consciência.
Nessa linha de ação de leitor, fico pensando : o que nos escapa?  O que não seria ato de leitura ao longo do dia ?
Enquanto não se faz esse tipo de relatório, o do que não é, convém ler FELICIDADE CLANDESTINA de Clarice Lispector publicado em um livro de contos que leva esse mesmo título . É esse o melhor conto sobre o assunto que já li até hoje.A autora, Clarice Lispector, nos relata uma história de ... LEITURA..
Mas a personagem, a própria Clarice menina, lê o quê ? E em quais circunstâncias  ? Não vou contar. Afinal, LER – e é essa a última consideração que faço – é  também um ato de construção da própria intimidade, e sob esse aspecto, é também um valioso segredo, que merece ser preservado.
Se você ainda não leu esse conto e não teve essa SUA  “FELICIDADE CLANDESTINA”, ainda está em tempo.Há sempre tempo para se ter esse prazer de . . . o conto dirá o quê.

LER É VIVER.

Nádia Battella Gtlib ( professora, pesquisadora e autora de Clarice)
Carta-Escola Abril 2013

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