- Refletir sobre o funcionamento do sistema alfabético de escrita.
- Acionar estratégias de leitura que permitam descobrir o que está escrito e onde (seleção, antecipação e verificação).
- Estabelecer correspondência entre a pauta sonora e a escrita do texto.
- Usar o conhecimento sobre o valor sonoro das letras (quando já sabido) ou trabalhar em parceria com quem faz uso do valor sonoro convencional (quando ainda não sabido).
Leitura na alfabetização inicial. Anos
1º e 2º. Tempo Estimado
Uma aula de 30 minutos em dias alternados aos de atividades de escrita, durante todo o ano.
1ª etapa
Selecione parlendas, poemas, quadrinhas e canções que considere interessantes. Distribua uma cópia para cada estudante e leia com a classe. Para que os leitores não-convencionais participem da atividade, garanta que saibam o texto de cor.
O aluno pode levar o texto para casa, pedindo auxílio de leitura aos pais ou ao AEE, para que possa se antecipar na memorização dos textos.
Informe onde se inicia o texto e proponha que todos leiam juntos, acompanhando o que está escrito com o dedo enquanto cantam ou recitam. O desafio será ajustar o falado ao escrito.
Adapte uma prancha de apoio para que o texto fique visualmente acessível. 3ª etapa
Peça que procurem algumas palavras e socializem com o grupo as pistas usadas para encontrá-las. Faça com que justifiquem as escolhas e explicitem o procedimento para descobrir o que estava escrito. Nessas atividades são utilizados textos que já se sabe de cor para antecipar o que está escrito e letras e partes de palavras conhecidas para verificar escolhas.
Forneça o texto em tamanho amplo para facilitar a indicação das palavras com o dedo. Ajude-o caso ele encontre dificuldade em realizar a tarefa.
4ª etapa
Uma variação da atividade é entregar as poesias recortadas em versos ou em palavras e pedir que sejam ordenadas. Para dar conta da tarefa, a garotada terá de acionar os conhecimentos que possui sobre o texto, os procedimentos de leitura já adquiridos e utilizar pistas gráficas (letras iniciais, finais etc.).
Registre suas observações sobre a participação dos pequenos: quais foram as pistas utilizadas e como eles justificaram escolhas. Anote também quais foram as suas intervenções mais importantes para a orientação da turma. Essas observações são fundamentais para o planejamento das atividades que virão a seguir.
As rodas de biblioteca devem ser realizadas como uma atividade planejada e permanente de leitura na escola (semanal ou quinzenal), em que se converse sobre as leituras que as crianças realizaram em casa (com o empréstimo de livros) e abra-se um espaço para que elas indiquem o livro que leram para alguns colegas, levando em conta características da obra e as preferências leitoras dos amigos.
Essa atividade, ao ser inserida no cotidiano da classe, traz em si o potencial de ajudar a construir uma comunidade de leitores e escritores na escola, em que as crianças tenham múltiplas oportunidades de explorar novos livros, escolher suas leituras, apreciar os efeitos que cada uma delas lhes traz, falar sobre essas sensações, recomendar leituras e analisar as recomendações recebidas dos colegas a fim de seguir aquelas que parecem mais interessantes, desenvolvendo, ao longo do processo, gostos e preferências por obras, gêneros e autores.
Objetivos
- Ampliar o repertório literário;
- Interagir com o livro de maneira prazerosa, reconhecendo-o como fonte de múltiplas informações e entretenimento;
- Compartilhar experiências leitoras;
- Confrontar interpretações;
- Estabelecer relações com outros textos;
- Ampliar os conhecimentos acerca de um determinado autor, utilizando-os como critério de seleção na escolha dos livros a serem retirados/recomendados e enriquecendo as possibilidades de antecipações e interpretações;
- Ampliar os conhecimentos acerca de determinado gênero, utilizando-os como um critério de seleção/indicação na escolha dos livros a serem retirados/recomendados e enriquecendo as possibilidades de antecipações e interpretações;
- Conhecer diferentes ilustradores e ilustrações, compartilhando o efeito que uma ilustração produz, confrontando interpretações e considerando tais conhecimentos na seleção/indicação de livros;
- Conhecer diferentes coleções, ampliando os conhecimentos acerca das características desse tipo de publicação e utilizando-os como um critério de seleção na escolha dos livros a serem retirados ou em sua indicação.
Flexibilização para deficiência intelectual
Se o aluno não for alfabetizado, estimule sua observação sobre as ilustrações dos livros. Há vários livros infantis com muita riqueza de imagens. Assim, a leitura visual deve ser encarada como outra maneira de interpretar a história.
Conteúdos
- Valorização da leitura como uma fonte de prazer e entretenimento.
- Interesse por compartilhar opiniões, ideias e preferências acerca dos livros lidos.
- Desenvolvimento de estratégias de argumentação para defender ideias e pontos de vista sobre os livros lidos.
- Desenvolvimento de critérios de escolha e de indicação de livros.
Ano
1º e 2º.
Tempo estimado
Atividade permanente ao longo do ano ou do semestre, com frequência quinzenal ou semanal.
Material necessário
Livros de literatura infanto-juvenil constantes do acervo da Escola.
Providencie alguns exemplares em áudio e/ou
Desenvolvimento
1ª etapa
Organize as rodas de leitura e aproveite as perguntas abaixo, retiradas do livro Dime, de Aidan Chambers, a o professor criar um movimento de troca de ideias, considerações e indicações entre os pequenos, usando, quando necessário, uma pergunta ou outra com cada criança na roda. Com o tempo, as crianças vão construindo uma autonomia cada vez maior para compartilhar essas impressões sobre as leituras realizadas e, com isso, assumindo um protagonismo cada vez maior na troca.
Marque a atividade com um símbolo no quadro de rotina e leve o aluno até ele um pouco antes do início, antecipe o comportamento esperado dele e estimule sua participação no preparação da sala para o momento da leitura. Faça perguntas direcionadas a esse aluno condizentes com suas competências de leitor. Valorize a leitura das imagens.
- Houve alguma coisa de que vocês gostaram nesse livro?
- O que chamou especialmente a atenção?
- Você gostaria que algo tivesse acontecido de forma diferente?
- Houve alguma coisa de que você não gostou?
- Houve uma parte que você achou cansativa?
- Você pulou alguma parte? Qual?
- Se você parou de ler, em que parte isso aconteceu?
- Houve alguma coisa que causou espanto?
- Houve algo que você achou maravilhoso?
- Encontrou alguma coisa que você nunca havia visto em um livro?
- Você se surpreendeu com alguma coisa?
- Alguma coisa não combinava ou não ficou bem explicada?
- A primeira vez que você viu esse livro, antes de ler, como pensava que ele seria?
- O que o fez esperar isso?
- Depois de ler, foi o que você esperava?
- Você já leu livros como este?
- Você já leu esse livro antes? (Se sim) Foi diferente dessa vez?
- O que você diria a seus amigos sobre esse livro?
- Há quanto tempo vocês acham que aconteceu essa história?
- Sobre quem é essa história?
- Que personagem você achou mais interessante?
- Em que lugar se passa a história?
Ao final da roda, organize com a turma novos empréstimos de livros e combine a data da próxima roda.
Veja se a escolha de livros que o aluno está fazendo é adequada e o auxilie quando for necessário.
Avaliação
Observe se os alunos:
- Compartilham impressões, opiniões e passagens preferidas sobre os livros e as situações de leitura em casa.
- Recomendam a leitura do livro que leram levando em conta suas características e os gostos da pessoa para quem a recomendação é feita.
- Estabelecem relações entre a história lida em casa e outras conhecidas.
- Ampliaram seus critérios de escolha.
Além disso, o acompanhamento dos avanços das crianças deve orientar o planejamento de intervenções individualizadas, quando necessário. Para alunos de inclusão, isso é ainda mais fundamental. A ideia é sempre criar condições e demandas para que todos tenham a oportunidade e o espaço de participar das conversas sobre a leitura. Assim, eles terão melhores critérios para selecionar títulos para o empréstimo, avançando em seus comportamentos leitores.
Projeto
Aprender a ler para saber a aprender(Projeto interdisciplinar)
1. Introdução
Quando pensamos em leitura, logo nos vem à mente a ideia de atividade mecânica de decodificação dos signos. No entanto,ler é mais que isso, é atribuir um significado ao texto, seja ele verbal ou não verbal, o qual é entendido como processo e não produto, já que é construído na interação. Além do mais, a leitura é uma forma de percepção, posto que ela não se reduz ao texto,mas também à realidade, ao mundo que nos rodeia, que é, inclusive, objeto de nossas primeiras leituras, como assegura Paulo Freire.
Todavia, afirmam Silva e Abjadid (2005) que quando nos referimos à leitura de textos, é importante sabermos que só há atribuição de significados quando o leitor associa ao conhecimento de mundo um conhecimento linguístico. É o que se chama de interação de diferentes níveis de conhecimento. Ao se apropriar desses saberes, o leitor ficará apto à leitura e, conseqüentemente, terá mais chances de alcançar o conhecimento.
Desse modo, quando mais conhecimento de mundo e mais conhecimento da língua alguém possua, mas apto estará para ler. O projeto que se propõe traz essa discussão quando recomenda mais leitura nas aulas ministradas por professores. A ideia principal é, em colaboração com professores de português, criar metodologias em que a leitura seja a meio principal de acesso ao conhecimento. Para isso, o que se pretende é integrar professores de áreas diversas,para discutir, elaborar e aplicar estratégias que visem desenvolver as competências leitoras nos alunos.
2.Justificativa
A prática escolar tem-nos comprovado que sem leitura torna-se quase impossível ao aluno o prosseguimento nos estudos como rege a LDB 9.394/96, art. 35, dentre outras finalidades que ali se propõe. O relativo número de alunos que evadem de nossa escola, que reprovam, bem como o baixo índice do IDEB nos inquietou, levando-nos a questionar nossas práticas e a rever nosso papel social na escola. Levando em conta o já citado, constatou-se que uma das causas que mais contribuem era a dificuldade de leitura entre os alunos. A unanimidade dos colegas em relação a isso nos deu fôlego e impulso para elaborar este projeto, já que tal situação não poderia continuar a existir.
A ausência de estratégias, ou mesmo de atividades, de leitura direcionadas, em detrimento de aulas de gramáticas, que pouco favorecem o uso efetivo da língua (seja por meio da leitura seja por meio da escrita), e nem desenvolvem a competência crítica discursiva dos alunos, posto que se centralizam na memorização de nomenclaturas,PA classificação de elementos, dentre outros conteúdos ineficazes do ponto de vista funcional e pragmático da língua, conforme Antunes (2003), têm deixado as aulas de português um tanto quanto “improdutivas”. Por causa disso, sobra pouco, ou quase não sobra, tempo para atividades de leitura, produção de textos, atividades orais, as quais permitiriam ao aluno um domínio muito maior do conhecimento da língua. Soma-se a isso a concepção de que ensinar a ler e a escrever sejam tarefas apenas do professor de português. São poucos os professores de outras áreas do saber que se preocupam com aspectos textuais dos trabalhos de seus alunos, por exemplo.
É evidente que não se aprende a ler, nem dominar estratégias de leitura, de uma hora para outra. Daí o porquê de a escola primar por esse aprendizado ao longo do currículo pelo qual o aluno deva passar. E mais, atividades dessa natureza não devem ocorrer de forma individualizada, mas devem ser incorporadas por todos os professores para que surtam resultados positivos, visto que nenhuma disciplina prescinde desse saber. O aluno que saber ler tem chances enormes de transitar por qualquer área do conhecimento sem maiores dificuldades: será capaz de interpretar problemas matemáticos; aplicar fórmulas adequadas em questões de física;compreender melhor as relações químicas; associar conhecimentos históricos, filosóficos, e até sociológicos, com os de literatura, ou de outras áreas;criar, a partir do que ler, seus próprios conceitos; produzir textos com mais facilidade, posto que será capaz de organizar de forma lógica o que aprende;perceber que determinadas construções da língua, se utilizadas em situações e com intenção diferentes, implicarão sentidos inversos, como no caso da ironia; e tantas outras situações e atividades que poderíamos enumerar aqui. Tornando-se um bom leitor, o aluno terá mais acesso às informações, podendo exercer de fato sua cidadania. Do exposto é que se justifica a implantação e execução deste projeto.
3. Objetivos:
Geral: Desenvolver a competência leitora nos alunos, a fim de favorecer o aprendizado e diminuir a reprovação e a evasão escolar.
Específicos:
• Montar oficinas para os professores sobre como utilizar as estratégias de leitura em favor da construção do conhecimento. • Incentivar o professor a ler, para ampliar seus conhecimentos e poder auxiliar o aluno no processo de ensino- aprendizagem. • Utilizar nas aulas diversas estratégias de leitura e com os mais variados gêneros textuais; • Auxiliar o aluno na leitura de textos a partir de mecanismos de coesão. • Desenvolver atividades para as quais a leitura seja o meio principal. 4.Metodologia: Para a realização deste projeto, várias ações devem ser desenvolvidas, tais como: Realização das oficinas: para esse momento, devem-se reservar pelo menos duas horas-aula como momento de encontro entre professores para estudo, discussão, elaboração de aulas, escolha dos recursos, textos, e de ambientes em que poderão ocorrer as aulas, como laboratório das TIC, biblioteca, sala de aula, ou outro espaço. Os professores envolvidos no projeto deverão ser divididos em dois grupos heterogêneos, conforme as disciplinas, que se reunirão a cada quinze dias de forma alternada, evitando a dispensa dos alunos, os quais poderão ter suas turmas agrupadas, se necessário.
Após esses primeiros encontros, já esclarecidos os objetivos, as técnicas, os caminhos a serem trilhados pelo professor com os alunos, passa-se a etapa subseqüente. No entanto, vale lembrar que, periodicamente, os professores se reunirão para socializar suas experiências, rever estratégias, discutir o processo, criar seus textos, etc.
Atividades práticas: para essa etapa, deve ficar claro que cada professor precisará ser dinâmico e criativo e possibilitar o contato dos alunos com todos os tipos de gêneros textuais que irão facilitar a construção do conhecimento (slides, charges, imagens, textos dissertativos, histórias, transparências, gráficos, painéis, álbum seriado, vídeos, blogs, mapas, etc...). O uso desses recursos deve estar pautado nas estratégias de leitura, que serão diferentes, dependendo do tipo de texto a ser utilizado e da metodologia a ser aplicada. O uso da biblioteca, dos ambientes das TICs, ou de outro pré-estabelecido, irá depender da metodologia que o professor programe o encontro com os alunos. E é interessante que aja, inclusive, mobilidade quanto aos ambientes de aprendizagem, com já propõem várias teorias contemporâneas, pois isso dinamiza e torna as aulas menos corriqueiras. Vale lembra que, cada professor, deve ter em mente que o foco não é o conteúdo da aula, mas a leitura desse conteúdo, ou seja, facilitar, auxiliar o aluno à leitura desses conteúdos, fazendo inferências, questionamentos, discutindo opiniões, indicando pistas linguísticos, etc. Tudo para fazer o aluno construir o conhecimento a partir do que ler, tornado-o mais independente.
Avaliação:
Não deve haver uma fórmula de avaliação. E nesse caso, deve-se primar pelo caráter qualitativo,ou seja, participação dos alunos nas atividades, suas possíveis leituras, inferências, construção de textos realizados a partir de suas leituras, etc. As estratégias de leitura são diversas, mas deve-se ter cuidado para não reduzir à avaliação a momentos isolados. A melhor avaliação, nesse caso, deverá ocorrer ao longo do processo de ensino-aprendizagem.
CRÉDITOS:
AUTORES:
Aldeíza
Antônio Ney
Éric Ferreira
Júlia Pinho
Luiz Carlos
Por que ler histórias para crianças?
Em primeiro lugar, porque isso lhes dá prazer. Elas também aprendem com as histórias outras culturas, conhecem seus valores, modos de ser e viver. E, quando uma criança pede repetidamente que lhe contem uma história, provavelmente, encontre, nos fatos narrados, acontecimentos que se relacionam com sua vida, seus medos e seus desejos. Na escuta das histórias e “causos”, as crianças também aprendem a separar o que faz parte da realidade e o que é da ordem do imaginário. E, nesse sentido, desenvolvem a imaginação, inventam e sabem que no mundo do “faz de conta” tudo é possível. Com isso vão entendendo, ainda que de forma sutil, a passagem do tempo, a ideia de passado e de memória.
Muitos estudos mostram que o adulto tem papel fundamental para que a criança coloque a leitura e a escrita como foco de atenção. É a companhia do adulto que a atrai para folhear um livrinho, imaginar cenas de uma história, perguntar o que está escrito ou prestar atenção na narrativa lida.
Por isso, é importante que as crianças possam vivenciar a escuta de histórias interagindo com um adulto. Nesses momentos, o adulto lê alguns trechos, conta outros, dramatiza a voz de alguns personagens, chama a atenção para a ilustração. Nessa situação faz vários jogos verbais.
Essa prática possibilita que a criança passe do papel de ouvinte participante para o leitor. Aos poucos será capaz de ocupar esse lugar, apoiando-se na ilustração, na memória e na colaboração de alguém mais experiente.
Crianças gostam de ler: por que perdemos este prazer mais tarde?
Curiosamente, as crianças até a quarta-série (atual quinto ano) recebem bem os livros. Mas, conforme observa o arte-educador Mauricio Leite, é comum o fenômeno de as crianças chegarem à adolescência odiando os livro e a leitura. Leite conta que, certa vez, ouviu uma mãe chocada por constatar que o filho de 12 anos revelara detestar livros, depois de frequentar boas escolas, ir muito ao teatro, ao cinema, etc. “Sempre comprei livros para ele, ele trazia outros da escola... Eu estava certa de que ele gostava de ler”, disse a mãe ao educador. Diante da lembrança, Leite aponta que ter livros e conviver com eles não é o suficiente. Várias atividades podem ser feitas na escola, a criança pode frequentar biblioteca informatizada, ter uma bela estante em casa, ouvir contações de histórias freqüentes e ainda assim não se sentir atraída pelo assunto.
A Boa Escolha
O gosto pela leitura é construído no contato com bons textos e no carinho com que os adultos tratam os livros e a leitura. Os textos literários, acima de tudo, devem ser atrelados à arte, ao sentimento, à emoção das crianças. Peter O’Sagae, leitor crítico e editor do site Dobras da Leitura, lembra que na escola, por muitos anos, só encontrou textos “pendurados no livro didático”. Na sétima série, enfim, percebeu a literatura fazendo as pazes com a escola: “com a minha professora Yolanda, veio a descoberta de que um texto escrito possui um ritmo, sonoridades escondidas na página impressa e um voo qualquer de imagens interessantes. Talvez, fosse isso que eu já pressentisse em leituras anteriores, mas aquela professora tornou todo esse universo muito nítido, com uma voz muito clara e modesta para leituras em voz alta, com algumas estratégias de fazer os significados do texto serem compreendidos durante a leitura”.
Para os pais que, do lado de fora das salas de aula, querem saber se existe uma professora Yolanda diante dos filhos, para os que querem descobrir se o amor pelos livros está de fato sendo despertado nas crianças, nada melhor do que observar a relação destas com os livros. A criança lê em casa? Pede livros de presente em datas especiais? Tem vontade de visitar livrarias? Conversa sobre livros com os amigos? Na infância da pedagoga Elizabeth Serra, por exemplo, tudo isso acontecia: “Em meio às brincadeiras, eu parava para ler sozinha ou partilhando com minhas amigas. Elas também gostavam de ler e isto fazia parte das nossas vidas”. Se seu filho terá um dia essa experiência, é impossível saber. Aos pais, no entanto, cabe incentivá-lo nesse caminho. Observando o comportamento da criança em relação aos livros, trocando opiniões sobre o assunto com a escola, lendo e se informando sobre o universo literário infantil e juvenil, você certamente ajudará seu filho a construir belos capítulos iniciais de uma história literária.
Fonte: http://revistacrescer.globo.com/
Lucila Pastorello
Está no rádio, tevê, jornais e revistas: em toda parte se diz que ler é importante e que é preciso que as crianças leiam, sempre. Por quê? Porque sim.
Se todo mundo fala a mesma coisa deve ser verdade.
Pois é justamente essa resposta — “porque sim” — que um bom leitor jamais aceita. Ler é importante, sim, ler desde sempre e para sempre.
Imagine quantas coisas a gente pode ler e quantas coisas acontecem(e deixam de acontecer) quando lemos.
Carta de amor e de demissão. Lista de supermercado e de casamento.
Receita de bolo. Gibi e propaganda. E-mail e bilhete escrito no guardanapo de papel. Documento importante e revista de fofoca. Livro sério,divertido, emocionante, maluco. Livro de escola, de faculdade, de trabalho.
Notícia daqui, de lá e de outros mundos. Nome de gente, de bicho, de pedra. Poesia que rima, que combina e que se movimenta. Direção a seguir, destino de ônibus. A leitura permite que a gente chegue lá. E o “lá”pode ser um endereço qualquer na cidade ou o futuro com que se sonhou um dia.
Até aqui, tudo bem. Mas você pode estar pensando: por que ler para crianças pequenas? Não é na escola que a criança aprende a ler? É disso que trata este texto e, depois de lê-lo, você poderá descobrir novos
significados para a palavra “leitura”.
Leituras
Ser alfabetizado é diferente de ser leitor.
Para ler um texto qualquer, é preciso que você domine a técnica de“decifrar” as letras e palavras — e isso depende de um aprendizado que,normalmente, acontece na escola: a alfabetização.
Mas ser alfabetizado não é o mesmo que ser leitor. A leitura é o aprendizado de uma técnica, sim, mas é muito mais que isso. Ler é também uma prática social, um modo de estar no mundo.
Quando lemos qualquer coisa, não estamos apenas decifrando as letras,mas atribuindo sentido àquilo que está escrito.
E...
... cada um lê à sua maneira, pois somos seres singulares
7 bons motivos para ler para crianças pequenas
Você já reparou como duas pessoas podem ler as mesmas palavras e interpretá-las de modo muito diferente?
Um livro que seu amigo adorou e você detestou?
“Te vejo hoje à noite no lugar de sempre.”
Essa frase, escrita em um bilhete, pode significar muito para a pessoa certa e absolutamente nada para o destinatário errado.
Tornar-se leitor depende das relações que estabelecemos com o escrito.
Como, quando, onde, por que e para que usamos nossa leitura.
Quanto mais lermos coisas diferentes em situações diferentes, melhores leitores nos tornamos. Mais “letrados” nos tornamos.
Assim é fácil perceber que não é da noite para o dia que viramos leitores.
É possível começar a tornar-se leitor a qualquer momento e, como veremos,podemos iniciar as crianças desde bebês. Não vamos fazer bebês lerem, naturalmente. Mas seguindo a leitura deste texto você descobrirá pelo menos 7 bons motivos para ler em voz alta para crianças pequenas.
É provável que você mesmo encontre mais motivos.
Reparta com a gente!
Algumas observações antes de mergulhar nos bons motivos para ler para crianças:
Ler para crianças pequenas (bebês e até barrigas de qualquer idade estão incluídos) não é a mesma coisa que contar histórias para as crianças. São atividades muito diferentes e muito importantes em suas diferenças.
CONTAR é isto: você pode contar histórias que aconteceram com você,com seus amigos e familiares, coisas que você ouviu outras pessoas contarem,“casos” que são contados por seu avô e o avô de seu avô... De boca em boca, coisas que fazem parte do que chamamos de Tradição Oral. Você pode inventar histórias alegres, tristes e engraçadas, ou pode recontar famosas histórias infantis como o O Chapeuzinho Vermelho e Os Três Porquinhos. E com certeza cada um conta um pouquinho diferente. Ou,ainda, você pode montar uma história com as crianças, tornando a criação uma atividade interativa. Toda essa variedade de formas de contar histórias pode ser praticada com total liberdade na sua expressão vocal,
facial e corporal. Você pode usar músicas, desenhos, roupas e qualquer acessório que quiser para dar um colorido especial para suas histórias.
Certamente, você já notou que algumas pessoas têm mais facilidade
que outras para contar histórias...
LER é outra coisa: ler em voz alta é servir como ponte entre o livro e a criança. Como a pessoa que lê fica no meio entre dois elementos – o livro e o ouvinte –, muitas vezes chamamos o "ledor" de mediador, exatamente para diferenciá-lo do contador de histórias. Ao ler, é preciso ser fiel ao texto escrito. Não dá para mudar as palavras. Isso não significa que sua leitura deva ser monótona e sem cor. As variações na sua voz, o ritmo da leitura, com sons e silêncios, vão dar cor e temperatura à leitura, fazendo com que o livro fique vivo.
Agora, vamos aos bons motivos!!!
1. Ouvir alguém ler ajuda o desenvolvimento da linguagem falada.
Quando estamos lendo em voz alta para outras pessoas, várias coisas acontecem ao mesmo tempo:
- Estamos transportando as letras do papel para o ouvido de outra pessoa através do nosso corpo.
- Estamos comprometidos em uma atividade que envolve a atenção ao outro e a todos.
- Ouvimos nossos próprios sons e o texto que estamos lendo.
- A leitura oral assim pensada é um gesto de oferta ao outro.
- Oferecemos nosso corpo e nossa atenção ao livro.
- Oferecemos o livro a quem nos ouve.
Na leitura, oferecemos a linguagem. A criança ouve palavras novas e maneiras ainda não experimentadas de falar, de colocar as palavras em relação.
Sons e imagens do livro ocupam espaços que a criança não poderia experimentar sozinha ou nas relações cotidianas.
O livro abre uma porta para novas possibilidades de língua e linguagem.
Mas... E se a criança não entende nem metade das palavras que a gente fala?
Pois é exatamente por isso que devemos ler e ler mais!
Repare como falamos com bebês. As mães, especialmente, falam uma forma “fofa”, cheia de melodias. Mas falamos sobre tudo: a comida, a troca de fraldas, o que pode estar acontecendo com o papai que não chega, como o preço das roupas está um absurdo e que cara-de-pau daquela vizinha que mandou um presentinho usado!!! Será que os bebês estão entendendo tudo isso? Mas eles riem, olham, reparam, ouvem e,como por milagre, começam a falar e a falar cada vez mais. E logo, logo você pode vê-los brincando com bonecos e dizendo “Já falei mais de mil vezes que não é para a senhorita mexer no fogão”. De onde será que veio isso senão da oferta que lhes fizeram, desde seu nascimento? Imagine o que seria das crianças (e de todos nós) se as mães só falassem com seus filhos aquilo que eles já sabem?
2. Ler para crianças pequenas facilita a aprendizagem da escrita.
Anne-Marie fez-me sentar a sua frente, em minha cadeirinha; inclinou-se, baixou as pálpebras e adormeceu. Daquele rosto de estátua saiu uma voz de gesso.
Perdi a cabeça: quem estava contando? O quê?
A quem? Minha mãe ausentara-se; nenhum sorriso, nenhum sinal de conivência, eu estava no exílio. Além disso, eu não reconhecia sua linguagem.
Onde é que arranjava aquela segurança? Ao cabo de um instante, compreendi: era o livro que falava. Dele saíam frases que me causavam medo; eram verdadeiras centopeias, formigavam de sílabas e letras, estiravam seus ditongos, faziam vibrar as consoantes duplas:cantantes, nasais, entrecortadas de pausas e suspiros, ricas em palavras desconhecidas, encantavam-se por si próprias e com seus meandros, sem se preocupar comigo; às vezes desapareciam antes que eu pudesse compreendê-las, outras vezes eu compreendia de antemão e elas continuavam a rolar nobremente para o seu fim sem me conceder
a graça de uma vírgula.
Trecho de As palavras, de Jean-Paul Sartre
Se a criança que ouve alguém ler pode aprender mais sobre como falar,com certeza pode também aprender muito sobre a própria leitura e escrita.
A cada nova leitura, bebês de qualquer idade e crianças bem pequenas descobrem mais as relações entre a palavra que sai da boca de quem lê, as letras no papel e a imagem das páginas que são lidas.
Quando lemos respeitando o texto, sem pressa, mas com entusiasmo, deixando que as crianças acompanhem a leitura e vejam as imagens do livro,elas podem aprender que existe um ritmo para a leitura; que é preciso esperar entre uma virada de página e outra, esperar o texto e a imagem.
Crianças bem novas já podem identificar, pela voz do leitor, quando é hora de mudar de página. Deixar que elas ajudem a virar a página pode ser uma ótima ideia para que, desde cedo, elas participem da leitura e percebam seu corpo, ajustem seus movimentos ao livro.
Observando quem lê, a criança pode perceber o que é para ser lido (o texto verbal, as palavras) e o que é para ser visto (as imagens, as ilustrações).
As crianças que são expostas desde cedo e freqüentemente à leitura se arriscam a “ler”: identificam no mundo em que vivem o que é possível ser lido, qual é o contexto e o que supostamente pode estar escrito.
Um exemplo: uma criança de 4 anos diante do banheiro feminino, onde estava escrito “Senhoras”, apontou o dedo para a palavra e começou a“ler”: banheiro!!! Repare e encontrará por aí mais crianças fazendo o mesmo. Isso não quer dizer que as crianças se alfabetizem sozinhas!!!
Algumas vezes elas até podem acertar, mas na verdade não estão lendo,estão apenas supondo e ensaiando, o que certamente vai ajudar na sua aprendizagem da escrita e da leitura.
Outra coisa bem interessante: a exposição à leitura em voz alta é um evento de letramento. Ao ouvir/ver o livro, a criança vai aos poucos percebendo como a escrita tem suas formas próprias de colocar as palavras em relação: falamos de um jeito diferente do modo como escrevemos.
A escrita tem suas regras próprias. Muitas vezes, entender isso é difícil para a criança que está aprendendo a escrever e não tem contato com textos escritos — mas pode ser mais fácil para a criança que ainda não é alfabetizada mas já está mergulhada no mundo letrado.
3. A leitura compartilhada fortalece os laços entre pais e filhos, entre quem lê e quem recebe a leitura.
No início do item 1, vimos que a prática da leitura em voz alta coloca em ação diferentes movimentos entre as pessoas.
Há alguém que ouve e que fica atento para ouvir o livro lido pelo outro.
Há alguém que lê e que usa sua mente e corpo para ser uma ponte para o livro.
Esses gestos já dizem muito:
“Você merece ser ouvido!!”
“Você merece receber minha leitura, minha atenção, meu empenho.”
Estamos falando de relação entre pessoas que, além de compartilharem o momento, passam juntas pelas emoções, aflições, alegrias e surpresas que o livro vai revelando.
Então, também é importante que as crianças vejam os adultos lerem !
Saber que o outro viveu os mesmos momentos me faz pensar:
Ele sente o mesmo que eu?
Ele pensa o mesmo?
Conhecer o outro faz parte de aprender a conhecer a si mesmo. Conversar com o outro sobre o livro, os personagens, as sensações vividas na leitura,é uma forma de estreitar laços entre as pessoas. Comece a ler para as crianças e veja como elas vão pedir cada vez mais leitura e cada vez mais livros, mais tempo com quem lê, mais tempo com os livros. Aliás, não é só para crianças que podemos ler, não é mesmo?
Isso não é ótimo?
4. O contato com diferentes textos dinamiza emoções e contribui para o desenvolvimento emocional das crianças.
Toda vez que a mamãe sai é a mesma história.
Ela me diz o que é para fazer durante o dia e depois me dá um beijo.
Ela só quer meu bem, a mamãe.
Mas esta manhã ela se esqueceu de me dar um beijo.
Mamãe, e o meu beijo?
Mas mamãe já está longe, nem pode me ouvir...
Trecho inicial de O beijo, de Valerie D'Heur
Não confunda
Gorila gigante
Com mochila chocante
Não confunda
Velhota nariguda
Com gaivota bigoduda
Trechos de Não confunda, de Eva Furnari
(...)
E Chapeuzinho Amarelo,
De tanto pensar no LOBO,
De tanto sonhar com o LOBO,
De tanto esperar o LOBO,
Um dia topou com ele
Que era assim:
Carão de LOBO
Olhão de LOBO
Jeitão de LOBO
E principalmente um bocão
tão grande que era capaz
de comer duas avós,
um caçador,
rei, princesa,
sete panelas de arroz
e um chapéu
de sobremesa.
Trecho de Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque
O que acontece quando lemos estes três textos diferentes?
Cada um de nós sente de uma forma: tristeza, solidão, abandono,surpresa, medo, expectativa.
O livro permite que se viva, pois deixar-se emocionar é estar vivo.
As crianças em geral pedem que se leia várias vezes o mesmo livro.
Em cada audição, nova leitura, ela pode exercitar-se na percepção e controle das emoções, na previsão dos caminhos narrativos, na certeza do mesmo fim.A cada nova leitura todos nós evocamos diferentes monstros, princesas e bruxos. A cada nova leitura enxergamos diferentes soluções, um detalhe desapercebido aqui, uma novidade acolá.
Ler de novo nunca é ler a mesma coisa.
5. O contato com os livros estimula a curiosidade, a criatividade,o interesse em conhecer novos livros e o mundo.
Se você ainda não está convencido da importância de ler para crianças pequenas, temos ainda mais motivos...
No item 1, vimos que as crianças usam o material que ouvem e que vêem para construir suas próprias obras, lembra-se? A criança que é exposta com freqüência aos livros e leituras desenvolve naturalmente a curiosidade em saber o que se esconde por trás das páginas de um novo livro, já que sua experiência mostra quanta riqueza pode estar lhe esperando.
A criança que não está habituada à leitura pode ver o livro apenas como um objeto pedagógico, um instrumento de instrução e controle. Muitas vezes esse é o motivo do desinteresse das crianças pelos livros. Elas acabam achando que a leitura é chata, que os livros são enfadonhos, difíceis, impossíveis... Assim, elas vão ler (e mal) por obrigação. Sem prazer.
Por outro lado, para a criança que é introduzida no mundo letrado com livros cuidados, de boa qualidade, sem que se tente usar os livros como instrumentos de padronização e controle, o resultado pode ser bem diferente.
A criança pode ver o livro como fonte criativa, possibilidade de transformação.
As crianças pequenas às vezes usam trechos de histórias, de livros, para arranjar e re-arranjar soluções das suas dificuldades. Dos fragmentos de textos ouvidos, a criança poderá construir seus próprios textos.
A criança que gosta de ouvir os livros tem sede de livros.
E lembre-se: livros podem ser comprados, trocados, emprestados. Procure bibliotecas, exija-as; não abra mão de variedade e qualidade. Dê esta oportunidade às crianças: elas saberão aproveitar!!!
6. Ler para crianças pode ser uma atividade relaxante para quem lê e um momento para conhecer melhor sua voz e seu corpo.
Voltando à ideia de leitura como gesto: uma ação dirigida ao outro. Quem lê usa seus olhos, seu cérebro, seus pulmões, sua laringe, sua boca e também o resto do corpo. Se ler é prazer, deixe que o livro leve seu corpo, que as palavras entrem e saiam de você.
Saboreie as letras.
No início, pode ser estranho emprestar sua voz ao texto.
Leia muitas vezes o mesmo texto, sozinho e acompanhado.
Grave sua leitura.
Ouça a gravação e anote suas impressões.
Conviver de maneira insistente e pacífica com diferentes formas de usar a voz e o corpo pode fazer você descobrir novas formas de expressão.
Procure assinar sua leitura. Deixar sua marca, sem caricaturas ou “fazer tipo”. Não esqueça: se quer fazer da leitura um momento agradável, você deve estar confortável.
Sente-se e acomode-se.
Mude sua posição, se for necessário. Perceba e elimine incômodos e tensões no seu corpo que possam atrapalhar.
Finalmente, ajuste sua voz. O contato com os livros estimula a curiosidade, a criatividade,o interesse em conhecer novos livros e o mundo.
7. A leitura de bons livros é interessante e contribui para o desenvolvimento cultural também dos adultos.
Livros para crianças só servem para crianças?
Determinar uma idade-limite para um livro é diminuir a sua possibilidade de sempre ter um significado, e de modo diferente.
É certo que existem temas e linguagens mais ou menos interessantes para crianças de diferentes idades.
Mas quem estabelece idades para um livro são as escolas e as editoras — não os autores de livros.
Agora, uma última pergunta:
Um adulto sabe tudo?
Claro que não, e ler livro de criança é coisa de gente grande também. Veja
estes trechos:
(...)
Chegou no igapó, onde encontrou um pescador desconhecido que tinha
a seu lado um grande cesto trançado, cheio de peixes. Ele estava usando
o timbó, aquele cipó que solta um líquido que deixa a água branca e
os peixes tontos, fáceis de pegar.
Trecho de O menino e o jacaré, de Maté
(...)
Para a Índia a vovó ia viajar:
— O que você quer ganhar?
— Uma coisa diferente: curry e arroz bem quente, ao som da cítara envolvente.
Trecho de Lembrancinhas, de Jo Ellen Bogart e Barbara Reid
Parece que você está se convencendo de que é muito importante ler para
crianças pequenas. Será? Ou encontrou mais alguns bons motivos?
Fonte: http://www.ecofuturo.com.br/
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