quarta-feira, 7 de outubro de 2015

PROJETO DE LITERATURA DE CORDEL II



 Conteúdo
Leitura

Objetivos 
- Conhecer literatura de cordel. 
- Ler por prazer. 
Conteúdo
- Leitura e interpretação de cordel 
Anos 
4º e 5º. 
Tempo estimado 
Um mês.
Material necessário 
Cópias do cordel O Romance do Pavão Misterioso, de José Camelo de Melo Rezende.
Flexibilização
Para alunos com deficiência auditiva
Ter um intérprete de libras em sala é muito importante para o desenvolvimento do aluno com deficiência auditiva. De qualquer modo, proponha ao aluno que sente nas carteiras da frente e fale pausadamente, articulando bem as palavras, para auxiliar aqueles capazes de fazer a leitura orofacial. Antecipe o cordel que será trabalhado na sequência para o aluno surdo e faça marcações com cores diferentes nas terminações de palavras que rimam e em palavras escritas na variedade popular (como são faladas). Preparar uma espécie de 'glossário com as palavras da língua falada e com a sua grafia na variedade padrão da Língua Portuguesa ajuda o aluno a compreender melhor a proposta do cordel. As ilustrações também contribuem para a aprendizagem desses alunos. Amplie o tempo de realização das etapas da sequência e conte com a ajuda do AEE para que o aluno trabalhe a interpretação do cordel na língua de sinais. 
Desenvolvimento 
1ª etapa
Prepare-se para uma conversa com a turma sobre a literatura de cordel: sua origem, o porquê do nome, seu desenvolvimento no Brasil, o preconceito que pesou sobre o gênero no passado, sua valorização nos dias de hoje etc. Em seguida, estude o cordel O Romance do Pavão Misterioso, também com a intenção de preparar a leitura em voz alta que você fará para os alunos na 3ª etapa. 
2ª etapa
Compartilhe com os estudantes as informações reunidas sobre a literatura de cordel. Informe-os de que você vai ler com eles um dos maiores clássicos do gênero – nada menos que o folheto mais vendido de todos os tempos. Caso você tenha conseguido um exemplar original, aproveite para mostrá-lo à sala, deixando que as crianças explorem a ilustração da capa. Se não conseguiu, explique que muitas obras de cordel estão disponíveis na internet e que foi de lá que saiu o texto. Em seguida, avise que você lerá em voz alta a primeira parte do cordel, mas que, no decorrer da atividade, todos poderão desempenhar esse papel. 
3ª etapa
Leia em voz alta da estrofe 1 à 25. Em seguida, promova uma discussão com perguntas do tipo: na estrofe 5, o autor afirma que João Batista "pensou pela vaidade". O que isso quer dizer? Proponha que as crianças releiam as 25 estrofes e ajude-as a adequar a entonação e o ritmo da fala. Por fim, informe que, antes de cada uma das sessões de leitura que virão a seguir, elas receberão a cópia de mais uma parte do cordel para que possam preparar a leitura em casa. 
4ª etapa
Na segunda sessão, trabalhe com as estrofes 26 a 42. Depois que elas forem lidas por você e pelos alunos, conduza a discussão com perguntas que estimulem a interpretação. Por exemplo: o que o autor quis dizer quando se referiu a "capitalista"? Repita o procedimento nas etapas seguintes. 
5ª etapa
Sessão 3 (estrofes 43 a 62): o que a palavra "azougada" significa?
6ª etapa
Sessão 4 (estrofes 63 a 82): o que a personagem Creuza quis dizer com "se és vivo ou encantado"?
7ª etapa
Sessão 5 (estrofes 83 a 104): o que o personagem Evangelista quis dizer com "levo essa estrangeira"?
8ª etapa
Sessão 6 (estrofes 105 a 121): o que Creuza quis dizer com "um rapaz para me ver precisa ser encantado"?
9ª etapa
Sessão 7 (estrofes 122 a 141): o que as crianças acharam do fim da história?
Avaliação 
Verifique se os alunos conseguiram interpretar adequadamente o cordel e analise o compromisso deles com a preparação da leitura.

Consultoria: Ana Flávia Alonço Castanho
Formadora do Projeto Entorno, de São Paulo.


O Romance do Pavão Misterioso, de José Camelo de Melo



1
Eu vou contar uma história
De um pavão misterioso
Que levantou voo na Grécia
Com um rapaz corajoso
Raptando uma condessa
Filha de um conde orgulhoso.
3
O velho turco era dono
Duma fábrica de tecidos
Com largas propriedades
Dinheiro e bens possuídos
Deu de herança a seus filhos
Porque eram bem unidos.
5
Um dia João Batista
Pensou pela vaidade
E disse a Evangelista:
– Meu mano eu tenho vontade
de visitar o estrangeiro
se não te deixar saudade.
7
Respondeu Evangelista:
– Vai que eu ficarei
regendo os negócios
como sempre eu trabalhei
garanto que nossos bens
com cuidado zelarei.
9
João Batista prometeu
Com muito boa intenção
De comprar um objeto
De gosto de seu irmão
Então tomou um paquete
E seguiu para o Japão.
11
João Batista entrou na Grécia
Divertiu-se em passear
Comprou
 passagem de bordo
E quando ia embarcar
Ouviu um grego dizer
Acho bom se demorar.
13
– Mora aqui nesta cidade
um conde muito valente
mais soberbo do que Nero
pai de uma filha somente
é a moça mais bonita
que há no tempo presente
15
– De ano em ano essa moça
bota a cabeça de fora
para o povo adorá-la
no espaço de uma hora
para ser vista outra vez
tem um ano de demora.
17
Os estrangeiros têm vindo
Tomarem conhecimento
Amanhã quando ela aparece
No grande ajuntamento
É proibido pedir-se
A mão dela em casamento.
19
Logo no segundo dia
Creuza saiu na janela
Os fotógrafos se vexaram
Tirando o retrato dela
Quando inteirou uma hora
Desapareceu a donzela.
21
O fotógrafo respondeu:
– Lhe custa um conto de réis
João Batista ainda disse:
– Eu compro até por dez
se o dinheiro não der
empenharei os anéis.
23
Então disse Evangelista:
– Meu mano vá me contando
se viste coisas bonitas
onde andaste passeando
o que me traz de presente
vá logo entregando.
2
Residia na Turquia
Um viúvo capitalista
Pai de dois filhos solteiros
O mais velho João Batista
Então o filho mais novo
Se chamava Evangelista.
4
Depois que o velho morreu
Fizeram combinação
Porque o tal João Batista
Concordou com o seu irmão
E foram negociar
Na mais perfeita união.
6
– Olha que nossa riqueza
se acha muito aumentada
e dessa nossa fortuna
ainda não gozei nada
portanto convém que passe
um ano em terra afastada.
8
– Quero te fazer um pedido:
procure no estrangeiro
um objeto bonito
só para rapaz solteiro;
traz para mim de presente
embora custe dinheiro.
10
João Batista no Japão
Esteve seis meses somente
Gozando daquele império
Percorreu o Oriente
Depois voltou para a Grécia
Outro país diferente.
12
João Batista interrogou:
– Amigo fale a verdade
por qual motivo o senhor
manda eu ficar na cidade?
Disse o grego: – Vai haver
Uma grande novidade.
14
– É a moça em que eu falo
Filha do tal potentado
O pai tem ela escondida
Em um quarto de sobrado
Chama-se Creuza e criou-se
Sem nunca ter passeado.
16
O conde não consentiu
Outro homem educá-la
Só ele como pai dela
Teve o poder de ensiná-la
E será morto o criado
Que dela ouvir a fala.
18
Então disse João Batista
– Agora vou me demorar
pra ver essa condessa
estrela desse lugar
quando eu chegar à Turquia
tenho muito o que contar.
20
João Batista viu depois
Um retratista vendendo
Alguns retratos de Creuza
Vexou-se e foi dizendo:
– Quanto quer pelo retrato
porque comprá-lo pretendo.
22
João Batista voltou
Da Grécia para a Turquia
E quando chegou em Meca
Cidade
 em que residia
Seu mano Evangelista
Banqueteou o seu dia.
24
Respondeu João Batista:
– Para ti trouxe um retrato
de uma condessa da Grécia
moça que tem fino trato
custou-me um conto de réis
ainda achei muito barato.
25
Respondeu Evangelista
Depois duma gargalhada:
- Neste caso meu irmão
pra mim não trouxe nada
pois retrato de mulher
é coisa bastante usada.
27
João Batista retirou
O retrato de uma mala
Entregou ao rapaz
Que estava de pé na sala
Quando ele viu o retrato
Quis falar tremeu a fala.
29
Respondeu João Batista
- Creuza é muito mais formosa
do que o retrato dela
em beleza é preciosa
tem o corpo desenhado
por uma mão milagrosa.
31
Respondeu Evangelista
- Pois meu irmão eu te digo
vou sair do país
não posso ficar contigo
pois a moça do retrato
deixou-me a vida em perigo.
33
- Teu conselho não me serve
estou impressionado
rapaz sem moça bonita
é um desaventurado
se eu não me casar com Creuza
findo meus dias enforcado.
35
Deram o balanço no dinheiro
Só três milhões encontraram
Tocou dois a Evangelista
Conforme se combinaram
Com relação ao negócio
Da firma se desligaram.
37
Logo que chegou na Grécia
Hospedou-se Evangelista
Em um hotel dos mais pobres
Negando assim sua pista
Só para ninguém saber
Que era um capitalista.
39
Os hotéis já se achavam
Repletos de passageiros
Passeavam pelas praças
Os grupos de cavalheiros
Havia muito fidalgos
Chegado dos estrangeiros.
41
Quando Evangelista viu
O brilho da boniteza
Disse: - Vejo que meu mano
Quis me falar com franqueza
Pois esta gentil donzela
É rainha de beleza.
43
No outro dia saiu
Passeando Evangelista
Encontrou-se na cidade
Com um moço jornalista
Perguntou se não havia
Naquela praça um artista.
45
Evangelista entrou
Na casa do engenheiro
Falando em língua grega
Negando ser estrangeiro
Lhe propôs um bom negócio
Lhe oferecendo dinheiro.
47
Respondeu-lhe Edmundo
- Na arte não tenho medo
mas vejo que o amigo
quer um negócio em segredo
como precisa de mim
conte-me lá o enredo.
26
- Sei que tem muitos retratos
mas como o que eu trouxe não
vais agora examiná-lo
entrego em tua mão
quando vires a beleza
mudará de opinião.
28
Evangelista voltou
Com o retrato na mão
Tremendo quase assustado
Perguntou ao seu irmão
Se a moça do retrato
Tinha aquela perfeição.
30
João Batista perguntou
Fazendo ar de riso:
- Que é isso, meu irmão
queres perder o juízo?
Já vi que este retrato
Vai te causar prejuízo.
32
João Batista falou sério:
- Precipício não convém
de que te serve ir embora
por este mundo além
em procura de uma moça
que não casa com ninguém.
34
- Vamos partir a riqueza
que tenho a necessidade
dá balanço no dinheiro
porque eu quero a metade
o que não posso levar
dou-te de boa vontade.
36
Despediu-se Evangelista
Abraçou o seu irmão
Chorando um pelo outro
Em triste separação
Seguindo um para a Grécia
Em uma embarcação.
38
Ali passou oito meses
Sem se dar a conhecer
Sempre andando disfarçado
Só para ninguém saber
Até que chegou o dia
Da donzela aparecer.
40
As duas horas as tarde
Creuza saiu à janela
Mostrando a sua beleza
Entre o conde e a mãe dela
Todos tiraram o chapéu
Em continência à donzela.
42
Evangelista voltou
Aonde estava hospedado
Como não falou com a moça
Estava contrariado
Foi inventar uma ideia
Que lhe desse resultado.
44
Respondeu o jornalista:
- Tem o doutor Edmundo
na rua dos Operários
é engenheiro profundo
para inventar maquinismo
é ele o maior do mundo.
46
Assim disse Evangelista:
- Meu engenheiro famoso
primeiro vá me dizendo
se não é homem medroso
porque eu quero custar
um negócio vantajoso
48
- Eu amo a filha do conde
a mais formosa mulher
se o doutor inventar
um aparelho qualquer
que eu possa falar com ela
pago o que o senhor quiser.
49
– Eu aceito o seu contrato
mas preciso lhe avisar
que eu vou trabalhar seis meses
o senhor vai esperar
é obra desconhecida
que agora vou inventar.
51
Enquanto Evangelista
Impaciente esperava
O engenheiro Edmundo
Toda noite trabalhava
Oculto em sua oficina
E ninguém adivinhava.
53
Movido a motor elétrico
Depósito de gasolina
Com locomoção macia
Que não fazia buzina
A obra mais importante
Que fez em sua oficina.
55
Quando Edmundo findou
Disse a Evangelista:
– Sua obra está perfeita
ficou com bonita vista
o senhor tem que saber
que Edmundo é artista.
57
Foram experimentar
Se tinha jeito o pavão
Abriram a lavanca e chave
Encarcaram num botão
O monstro girou suspenso
Maneiro como balão.
59
Então disse o engenheiro:
– Já provei minha invenção
fizemos a experiência
tome conta do pavão
agora o senhor me paga
sem promover discussão.
61
Edmundo ainda deu-lhe
Mais uma serra azougada
Que serrava caibro e ripa
E não fazia zuada
Tinha os dentes igual navalha
De lâmina bem afiada.
63
À meia-noite o pavão
Do muro se levantou
Com as lâmpadas apagadas
Como uma flecha voou
Bem no sobrado do conde
Na cumeeira pousou.
65
Chegou no quarto de Creuza
Onde a donzela dormia
Debaixo do cortinado
Feito de seda amarela
E ele para acordá-la
Pôs a mão na testa dela.
67
Então Creuza deu um grito:
– Papai um desconhecido
entrou aqui no meu quarto
sujeito muito atrevido
venha depressa papai
pode ser algum bandido.
69
De um lenço enigmático
Que quando Creuza gritava
Chamando o pai dela
Então o moço passava
Ele no nariz da moça
Com isso ela desmaiava.
71
Ajeitou os caibros e ripas
E consertou o telhado
E montando em seu pavão
Voou bastante vexado
Foi esconder o aparelho
Aonde foi fabricado.
50
– Quer o dinheiro adiantado?
Eu pago neste momento
– Não senhor, ainda é cedo
quando terminar o invento
é que eu digo o preço
quanto custa o pagamento.
52
O grande artista Edmundo
Desenhou nova invenção
Fazendo um aeroplano
De pequena dimensão
Fabricado de alumínio
Com importante armação.
54
Tinha cauda como leque
As asas como pavão
Pescoço, cabeça e bico
Lavanca, chave e botão
Voava igualmente ao vento
Para qualquer direção.
56
– Eu fiz o aeroplano
da forma de um pavão
que arma e se desarma
comprimindo em um botão
e carrega doze arroba
três léguas acima do chão.
58
O pavão de asas abertas
Partiu com velocidade
Coroando todo o espaço
Muito acima da cidade
Como era meia noite
Voaram mesmo à vontade.
60
Perguntou Evangelista:
– Quanto custa o seu invento?
– Dê me cem contos de réis
acha caro o pagamento
o rapaz lhe respondeu:
Acho pouco dou duzentos.
62
Então disse o jovem turco:
– Muito obrigado fiquei
do pavão e dos presentes
para lutar me armei
amanhã a meia-noite
com Creuza conversarei.
64
Evangelista em silêncio
Cinco
 telhas arredou
Um buraco de dois palmos
Caibros e ripas serrou
E pendurado numa corda
Por ela escorregou.
66
A donzela estremeceu
Acordou no mesmo instante
E viu um rapaz estranho
De rosto muito elegante
Que sorria para ela
Com um olhar fascinante.
68
O rapaz lhe disse: – Moça
Entre nós não há perigo
Estou pronto a defendê-la
Como um verdadeiro amigo
Venho é saber da senhora
Se quer casar-se comigo.
70
O jovem puxou o lenço
Ao nariz da moça encostou
Deu uma vertigem na moça
De repente desmaiou
E ele subiu na corda
Chegando em cima tirou.
72
O conde acordou aflito
Quando ouviu essa zuada
Entrou no quarto da filha
Desembainhou a espada
Encontrou-a sem sentido
Dez minutos desmaiada.

73
Percorreu todos os cantos
Com a espada na mão
Berrando e soltando pragas
Colérico como um leão
Dizendo: – Aonde encontrá-lo
Eu mato esse ladrão.
75
Disse o conde: – Nesse caso
Tu já estás a sonhar
Moça de dezoito anos
Já pensando em se casar
Se aparecer casamento
Eu saberei desmanchar.
77
E Creuza estava deitada
Dormindo o sono inocente
Seus cabelos como um véu
Que enfeitava puramente
Como um anjo de terreal
Que tem lábios sorridentes.
79
A moça interrogou-o
Disse: – Quem é o senhor
Diz ele: – Sou estrangeiro
Lhe consagrei grande amor
Se não fores minha esposa
A vida não tem valor.
81
Como eu lhe tenho amizade
Me arrisco fora de hora
Moça não me negue o sim
A quem tanto lhe adora!
Creuza aí gritou: – Papai
Venha ver o homem agora.
83
Ouviu-se tocar a corneta
E o brado da sentinela
O conde se dirigiu
Para o quarto da donzela
Viu a filha desmaiada
Não pode falar com ela.
85
– Minha filha, eu já pensei
em um plano bem sagaz
passa essa banha amarela
na cabeça desse audaz
só assim descobriremos
esse anjo ou satanás.
87
Evangelista também
Desarmou seu pavão
A cauda, a capota, o bico
Diminuiu a armação
Escondeu o seu motor
Em um pequeno caixão.
89
Já era a terceira vez
Que Evangelista entrava
No quarto que a condessa
À noite se agasalhava
Pela força do amor
O rapaz se arriscava.
91
Evangelista sentou-se
Pôs-se a conversar com ela
Trocando o riso esperava
A resposta da donzela
Ela pôs-lhe a mão na testa
Passou a banha amarela.
93
E logo Evangelista
Voando da cumeeira
Foi esconder seu pavão
Nas folhas de uma palmeira
Disse: – Na quarta viagem
Levo essa estrangeira.
95
Disse o conde: – Minha filha
Parece que estás doente?
Sofreste algum acesso
Porque teu olhar não mente
O tal rapaz encantado
Te apareceu certamente.
74
Creuza disse: – Meu pai
Pois eu vi neste momento
Um jovem rico e elegante
Me falando em casamento
Não
 vi quando ele encantou-se
Porque me deu um passamento.
76
Evangelista voltou
Às duas da madrugada
Assentou seu pavão
Sem que fizesse zuada
Desceu pela mesma trilha
Na corda dependurada.
78
O rapaz muito sutil
Foi pegando na mão dela
Então a moça assustou-se
Ele garantiu a ela
Que não eram malfazejos:
– Não tenha medo donzela.
80
Mas Creuza achou impossível
O moço entrar no sobrado
Então perguntou a ele
De que jeito tinha entrado
E disse: – Vai me dizendo
Se és vivo ou encantado.
82
Ele passou-lhe o lenço
Ela caiu sem sentido
Então subiu na corda
Por onde tinha descido
Chegou em cima e disse:
– O conde será vencido.
84
Até que a moça tornou
Disse o conde: – É um caso sério
Sou um fidalgo tão rico
Atentado em meu critério
Mas nós vamos descobrir
O autor do mistério.
86
– Só sendo uma visão
que entra neste sobrado
só chega à meia-noite
entra e sai sem ser notado
se é gente desse mundo
usa feitiço encantado.
88
Depois de sessenta dias
Alta noite em nevoeiro
Evangelista
 chegou
No seu pavão bem maneiro
Desceu no quarto da moça
A seu modo traiçoeiro.
90
Com um pouco a moça acordou
Foi logo dizendo assim:
– Tu tens dito que me amas
com um bem-querer sem fim
se me amas com respeito
te senta juntos de mim.
92
Depois Creuza levantou-se
Com vontade de gritar
O rapaz tocou-lhe o lenço
Sentiu ela desmaiar
Deixou-a com uma síncope
Tratou de se retirar.
94
Creuza então passou o resto
Da noite mal sossegada
Acordou pela manhã
Meditava e cismada
Se o pai não perguntasse
Ela não dizia nada.
96
E Creuza disse: – Papai
Eu cumpri o seu mandado
O rapaz apareceu-me
Mas achei-o delicado
Passei-lhe a banha amarela
E ele saiu marcado.

97
O conde disse aos soldados
Que a cidade patrulhassem
Tomassem os chapéus de
Quem nas ruas encontrassem
Um de cabelo amarelo
Ou rico ou pobre pegassem.
99
Os soldados lhe disseram:
– Cidadão não estremeça
está preso a ordem do conde
e é bom que não se cresça
vai a presença do conde
se é homem não esmoreça.
101
Evangelista respondeu:
– Também me faça um favor
enquanto vou me vestir
minha roupa superior
na classe de homem rico
ninguém pisa meu valor.
103
Seguiu logo Evangelista
Conversando com o guarda
Até que se aproximaram
Duma palmeira copada
Então disse Evangelista:
– Minha roupa está trepada.
105
Evangelista subiu
Pôs um dedo no botão
Seu monstro de alumínio
Ergueu logo a armação
Dali foi se levantando
Seguiu voando o pavão.
107
Então mandaram subir
Um soldado de coragem
Disseram: – Pegue na perna
Arraste com a folhagem
Está passando na hora
De voltarmos da viagem.
109
Voltaram e disseram ao conde
Que o rapaz tinham encontrado
Mas no olho de uma palmeira
O moço tinha voado
Disso o conde: – Pois é o cão
Que com Creuza tem falado.
111
Disse Creuza: – Ora papai
Me prive da liberdade
Não consente que eu goze
A distração da cidade
Vivo como criminosa
Sem gozar a mocidade.
113
– O rapaz que me amou
só queria vê-lo agora
para cair nos seus pés
como uma infeliz que chora
embora que eu depois
morresse na mesma hora.
115
Às quatro da madrugada
Evangelista desceu
Creuza estava acordada
Nunca mais adormeceu
A moça estava chorando
O rapaz lhe apareceu.
117
O rapaz disse: – Menina
A mim não fizeste mal
Toda a moça é inocente
Tem seu papel virginal
Cerimônia de donzela
É uma coisa natural.
119
– Se o senhor é homem sério
e comigo quer casar
pois tome conta de mim
aqui não quero ficar
se eu falar em casamento
meu pai manda me matar.
98
Evangelista trajou-se
Com roupa de alugado
Encontrou-se com a patrulha
O seu chapéu foi tirado
Viram o cabelo amarelo
Gritaram: – Esteja intimado!
100
– Você hoje vai provar
por sua vida responde
como é que tem falado
com a filha do nosso conde
quando ela lhe procura
onde é que se esconde.
102
Disseram: – Pode mudar
Sua roupa de nobreza
A moça bem que dizia
Que o rapaz tinha riqueza
Vamos ganhar umas luvas
E o conde uma surpresa.
104
E os soldados olharam
Em cima tinha um caixão
Mandaram ele subir
E ficaram de prontidão
Pegaram a conversar
Prestando pouca atenção.
106
E os soldados gritaram:
– Amigo, o senhor se desça
deixe de tanta demora
é bom que não aborreça
senão com pouco uma bala
visita sua cabeça.
108
Quando o soldado subiu
Gritou: – Perdemos a ação
Fugiu o moço voando
De longe vejo um pavão
Zombou de nossa patrulha
Aquele moço é o cão.
110
Creuza sabendo da história
Chorava de arrependida
Por ter marcado o rapaz
Com banha desconhecida
Disse: – Nunca mais terei
Sossego na minha vida.
112
– Aqui não tenho direito
de falar com um criado
um rapaz para me ver
precisa ser encantado
mas talvez ainda eu fuja
deste maldito sobrado.
114
– Eu sei que para ele
não mereço confiança
quando ele vinha aqui
ainda eu tinha esperança
de sair desta prisão
onde estou desde de criança.
116
O jovem cumprimentou-a
Deu-lhe um aperto de mão
A condessa ajoelhou-se
Para pedir-lhe perdão
Dizendo: – Meu pai mandou
Eu fazer-te uma traição.
118
– Todo o seu sonho dourado
é fazer-te minha senhora
se quiseres casar comigo
te arrumas e vamos embora
senão o dia amanhece
e se perde a nossa hora.
120
– Que importa que ele mande
tropas e navios pelos mares
minha viagem é aérea
meu cavalo anda nos ares
nós vamos sair daqui
casar em outros lugares.
121
Creuza estava empacotando
O vestido mais elegante
O conde entrou no quarto
E dando um berro vibrante
Gritando: – Filha maldita
Vais morrer com o seu amante.
123
Ouviu-se o baque do conde
Porque rolou desmaiado
A última cena do lenço
Deixou-o magnetizado
Disse o moço: – Tem dez minutos
Para sairmos do sobrado.
125
Com pouco o conde acordou
Viu a corda pendurada
Na coberta do sobrado
Distinguiu uma zuada
E as lâmpadas do aparelho
Mostrando luz variada.
127
Os soldados da patrulha
Estavam de prontidão
Um disse: – Vem ver fulano
Aí vai passando um pavão
O monstro fez uma curva
Para tomar direção.
129
O conde olhou para a corda
E o buraco do telhado
Como tinha sido vencido
Pelo rapaz atilado
Adoeceu só de raiva
Morreu por não ser vingado.
131
Em casa de João Batista
Deu-se grande ajuntamento
Dando vivas ao noivado
Parabéns ao casamento
À noite teve retreta
Com visita e cumprimento.
133
Dizia o telegrama:
"Creuza vem com o teu marido
receber a tua herança
o conde é falecido
tua mãe deseja ver
o genro desconhecido."
135
De manhã quando os noivos
Acabaram de almoçar
E Creuza em traje de noiva
Pronta para viajar
De palma, véu e capela
Pois só vieram casar.
137
Os noivos tomaram assento
No pavão de alumínio
E o monstro se levantou-se
Foi ficando pequenino
Continuou o seu voo
Ao rumo do seu destino.
139
Na tarde do mesmo dia
Que o pavão foi chegado
Em casa de Edmundo
Ficou o noivo hospedado
Seu amigo de confiança
Que foi bem recompensado.
141
Disse a velha: – Minha filha
Saíste do cativeiro
Fizeste bem em fugir
E
 casar no estrangeiro
Tomem conta da herança
Meu genro é meu herdeiro.


Fonte:
http://revistaescola.abril.com.br









  























122
O conde rangendo os dentes
Avançou com passo extenso
Deu um pontapé na filha
Dizendo: – Eu sou quem venço
Logo no nariz do conde
O rapaz passou o lenço.
124
Creuza disse: – Eu estou pronta
Já podemos ir embora
E subiram pela corda
Até que sairam fora
Se aproximava a alvorada
Pela cortina da aurora.
126
E a gaita do pavão
Tocando uma rouca voz
O monstro de olho de fogo
Projetando os seus faróis
O conde mandando pragas
Disse a moça: – É contra nós.
128
Então dizia um soldado
– Orgulho é uma ilusão
um pai governa uma filha
mas não manda no coração
pois agora a condessinha
vai fugindo no pavão.
130
Logo que Evangelista
Foi chegando na Turquia
Com a condessa da Grécia
Fidalga da monarquia
Em casa do seu irmão
Casaram no mesmo dia.
132
Enquanto Evangelista
Gozava imensa alegria
Chegava um telegrama
Da Grécia para Turquia
Chamando a condessa urgente
Pelo motivo que havia.
134
A condessa estava lendo
Com o telegrama na mão
Entregou a Evangelista
Que mostrou ao seu irmão
Dizendo: – Vamos voltar
Por uma justa razão.
136
Diziam os convidados:
– A condessa é tão mocinha
e vestida de noiva
torna-se mais bonitinha
está com um buquê de flor
séria como uma rainha.
138
Na cidade de Atenas
Estava a população
Esperando pela volta
Do aeroplano pavão
Ou o cavalo do espaço
Que imita um avião.
140
E também a mãe de Creuza
Já esperava vexada
A filha mais tarde entrou
Muito bem acompanhada
De braço com o seu noivo
Disse: – Mamãe estou casada.








          

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