Parece que para todas essas perguntas a resposta seria – Não! Não é possível a escola abolir a alfabetização, condição da leitura, porque o papel da escola é transmitir conhecimento socialmente estruturado e a alfabetização, a escrita e as leituras formam a tríade dessa dinâmica. A leitura, principalmente a crítica, aquela realizada em textos clássicos, vindos de tantas culturas, é uma das maiores bandeiras da escolarização formal e como tal, é sobre ela que se edifica a formação humana, sua socialização e principalmente sua profissionalização.
Mas, não se pode esquecer que haveria sim outra forma de retransmitir esses saberes, de uns aos outros, que não fosse pela leitura de texto – a oralidade, por exemplo. No entanto, como transmitir conhecimentos múltiplos, de forma oral, em uma sociedade em que, os humanos não têm mais tempo para falar ou para ouvir um ao outro? Seria muito mais difícil que lutar para introduzir o ato de ler, afinal, a leitura é e pode ser um dos grandes prazeres da solidão. No entanto, o conhecimento transmitido de forma oral, pressupõe a inteiração social, tão cara e tão escassa dentre nós, contemporâneos. O Brasil está lutando, há décadas, pra erradicar o analfabetismo da sociedade, na esperança de que, com essa erradicação, possamos também erradicar a falta de questionamento políticos, a apatia diante da participação social engajada e, sobretudo, a falta crônica de altruísmo. Porém, na prática, não é tão simples assim. A alfabetização é tão somente a transmissão de um código formal. Mas, ir além desse código é tarefa de uma prática a que damos o nome de letramento e é aí que o problema aparece. Muitas vezes os alunos sabem decodificar signos, ou seja, eles podem ler infinitas linhas sem parar, mas ao serem interrompidos e questionados sobre o que estão lendo, nada podem dizer, inferir, questionar ou pensar. Ou seja, eles podem acessar os signos lingüísticos, mas nada podem fazer com eles.
Esta alfabetização é morta, sem gosto, sem vida, sem vitalidade e é justamente esta a que mais acontece Brasil afora. O processo de alfabetização ocorre quase sempre pra que a criança ou o adulto atinjam o signo, mas há pouca preocupação para o que ele pode fazer com este signo.
O poder da palavra, a força do pensamento e a maravilha da argumentação ainda não é ponto principal da sala de aula. Muitos professores também possuem dificuldades quando o assunto é letramento, pois para que ele aconteça é preciso leitura constante, formas variadas de entender e de acessar o mundo e reconstrução múltipla da realidade circundante, mas com o tamanho da dificuldade que o Brasil apresenta pra formar um professor e com a carga horária que ele precisa cumprir pra ter um salário digno, pouco tempo acaba sobrando pra que ele busque constantemente este letramento. Além disso, a rotina tão desgastante da escola vai colocando o professor no lugar d o executor cego, ativo somente na prática da estar fisicamente na sala de aula, mas passivo no pensamento. Esta passividade, que aceita a tudo sem questionar, é repassada ao aluno em limitação intelectual.
Assim, podemos concluir que letrar é importante, mas antes de pensarmos em alfabetização com letramento do aluno, é preciso pensarmos em alfabetização pedagógica com letramento do mestre educador, pois como já dizia os mais antigos, ninguém podem falar ou amar aquilo que não experimenta.
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