Sabemos que a língua portuguesa utiliza diferentes recursos para criar novas palavras. Conhecê-los é importante não apenas para compreender a estrutura interna dos vocábulos, mas também entender como os diferentes processos de formação interferem no sentido dos enunciados.
Quanto a sua formação, as palavras da língua portuguesa podem ser consideradas primitivas, derivadas ou compostas:
- Palavras primitivas são aquelas que não foram formadas a partir de outra já existente na língua. Exemplos: flor, pedra, fogo, casa.
- Palavras derivadas são aquela que se formam a partir de outras palavras da língua pelo acréscimo de morfemas derivacionais (prefixos e/ou sufixos). Exemplos: floricultura, empedrar, fogaréu, caseiro.
- Palavras compostas são aquelas que se formam a partir da reunião de duas ou mais palavras (ou radicais). Exemplos: pontapé (ponta + pé); azul-claro (azul + claro), couve-flor (couve + flor) etc.
- Prefixal – É o processo de formação de palavras pelo emprego de um prefixo. Exemplos: subsolo, hipertensão, antecipar, próclise, inválido. regredir, ultrapassagem etc.
- Sufixal – É o processo de formação de palavras pelo emprego de um sufixo. Exemplos: papelada, ferimento, pensativo, crueldade, bicharada, sinusite, vinhedo, ouvinte, chuvisco etc.
- Prefixal e sufixal – É o processo de formação de palavras pelo emprego de um prefixo e sufixo de forma independente. Exemplos: deslealmente, infelizmente etc.
- Parassintética (ou parassíntese) – É o processo de formação de palavras pelo emprego simultâneo de um prefixo e um sufixo. Exemplos: enraivecer, aportuguesar, expatriar, desalmado etc.
- Regressiva – É o processo de formação de palavras que permite derivar o substantivo a partir do infinitivo. Exemplos: o abalo (abalar), a busca (buscar), a perda (perder), a troca (trocar) etc.
- Imprópria (ou conversão) – É o processo de formação em que uma palavra muda de classe gramatical sem que a sua forma original seja alterada. Exemplos: O bonito é ver as pessoas felizes. (O termo “bonito” geralmente funciona como adjetivo, mas, no caso, assume o papel de substantivo).
Observações importantes!
- Os prefixos empregados na derivação das palavras podem ser de origem grega ou latina.
- Com relação aos sufixos, temos os nominais, os verbais e o adverbial.
Alguns exemplos: garfada (nominal), lamaçal (nominal) / florescer (verbal), manusear (verbal) / loucamente (adverbial), incrivelmente (adverbial).
- Em português, o sufixo -mente é o único que deriva advérbios.
Uma dúvida muito comum: Qual é a diferença entre a derivação prefixal e sufixal e a derivação parassintética?
Resposta: Na derivação prefixal e sufixal, os dois afixos (prefixo e sufixo) são colocados de forma independente, ou seja, um deles pode ser retirado e a palavra continua fazendo sentido. Por exemplo: deslealmente. Se retirarmos o prefixo des-, a palavra lealmente continua existindo. Se retirarmos o sufixo -mente, a palavra desleal continua existindo. Na derivação parassintética isso não acontece. Se retirarmos o prefixo ou o sufixo da palavra, a que sobra deixa de ter sentido. Por exemplo: enraivecer. Se retirarmos o prefixo en-, a palavra raivecer não tem sentido. Se tirarmos o sufixo -ecer, a palavra enraiv também não tem sentido.
- Composição por justaposição – É o processo de formação de palavras na qual dois ou mais radicais são combinados sem sofrer alteração em sua forma. Exemplos: amor-perfeito, bem-te-vi, flor-de-maio, guarda-costas, girassol, passatempo, porta-bandeira, quebra-cabeça, sexta-feira, vaivém etc.
- Composição por aglutinação – É o processo de formação de palavras na qual dois ou mais radicais sofrem alterações em sua forma ao serem combinados para formar uma palavra. Exemplos: aguardente (água + ardente), embora (em + boa + hora), planalto (plano + alto), pernalta (perna + alta), pernilongo (perna + longo), pontiagudo (ponta + agudo) etc.
Observações importantes:
- As palavras formadas por justaposição podem vir ou não escritas com hífen.
- Ao contrário do que observamos na justaposição, a aglutinação provoca mudança nos fonemas originais e no acento tônico dos radicais envolvidos no processo.
- Os radicais gregos e latinos participam da formação de muitas palavras da língua por meio do processo de composição. (cromoterapia, cronômetro, dicloreto, quilograma, xilogravura etc)
Além da derivação e da composição, a língua portuguesa também faz uso de outros processos de palavras:
- Abreviação (redução) – Criação de palavras através de formas reduzidas. Exemplos: tevê, cine, milico, portuga, delega, boteco, fessor, pneu, fone, metrô etc.
- Siglonimização – Criação de palavras através da união das letras iniciais que compõem um nome. Exemplos: MAM, ONU, PIB, UFRJ, FCC etc.
- Onomatopeia – Criação de palavras que imitam sons de seres animados ou inanimados. Exemplos: bangue-bangue, tique-taque, pingue-pongue etc
- Empréstimo Linguístico (estrangeirismo) – Introdução de palavras vindas de outros idiomas. Exemplos: pizza, link, mouse, blog etc.
- Neologismo – Criação de palavras novas, formadas de outras já existentes, na mesma língua ou não. Exemplos: presidenciável, carreata, roqueiro, deletar, inverdade etc.
- Hibridismo – Criação de palavras com morfemas de línguas diferentes. Exemplos: sociologia (latim + grego), automóvel (grego + latim), burocracia (francês + grego), sambódromo (africano + grego), cibernauta (inglês + latim) etc.
- Palavra-valise (combinação ou amálgama) – Criação de uma palavra a partir da junção de partes de duas ou mais palavras , como um cruzamento lexical. Exemplos: portunhol (português + espanhol), aborrecente (aborrecer + adolescente), showmício (show + comício) etc.
E para terminar:
Não há como não citar Guimarães Rosa (1908 – 1967) e Manoel de Barros (1916 – 2014), quando estudamos a formação das palavras. Os dois escritores brasileiros foram mestres na hora de inventá-las. Dizem até que Guimarães Rosa poderia ter escrito um imenso dicionário com seus neologismos. Já Manoel de Barros, “manobreiro” das palavras, adotava um comportamento de desarrumar palavras. O que mais dava prazer ao escritor era “fazer defeitos nas frases”.
Regina SEMED
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