20% do tempo é utilizado para acalmar os alunos e organizar a classe
- 13% do tempo é utilizado para lidar com assuntos burocráticos
- 67% do tempo, pouco mais da metade, é usado para a aula propriamente dita
Para ter uma ideia da situação, a média do OCDE é de 13% para as questões disciplinares.
A pesquisa, segundo dados divulgados pelo G1, também revela outros números: 60% dos professores apontam ter alunos-problema e o Brasil lidera o ranking de intimidação verbal entre alunos e professores.
O QUE É UM ALUNO-PROBLEMA?
Um aluno que conversa muito? - Que tem um comportamento agressivo ou expansivo que acaba atrapalhando a aula?
- Que foi mal alfabetizado e tem dificuldades na escrita?
- Que apresenta algum transtorno de aprendizagem?
- Que tem hiperatividade, TDAH ou Síndrome de Asperger?
Ao certo não há um consenso sobre quais são as características de um aluno-problema.
Rotular os alunos como sendo um problema e transferir a culpa do fracasso escolar para o próprio educando parece ser algo perverso, sabendo que lidamos com crianças e adolescentes que, muitas vezes, têm dificuldades em compreender o que sentem e explicar ou resolver seus conflitos de maneira madura.
A indisciplina escolar pode começar sendo tratada assim: despindo os alunos de rótulos e tendo uma visão mais otimista sobre a educação.
Fazer longos discursos em sala de aula sobre a importância de estudar, lembrar aos alunos que o conhecimento é para eles e não para o professor, passar 20 minutos dando bronca, são atitudes que vão contribuir para a indisciplina pelo simples fato de isso gerar tédio nos seus alunos.
Sim, você pode estar deixando seus alunos entediados e, como citado anteriormente, são crianças e adolescentes que não conseguem compreender que sentem tédio e o que devem fazer para lidar com isso.
Ao invés de toda essa chatice da sua parte, professor, que tal motivar os alunos para uma atividade dinâmica e desafiadora que instigue a sua curiosidade?
O QUE É INDISCIPLINA ESCOLAR?
A conversa pode atrapalhar a aula, mas pode ter certeza de que uma turma que não conversa é bem pior para desenvolver conhecimentos. Quando há conversa, há diálogo, troca de vivências, relacionamento entre os educandos e entre o professor também.
Partindo da ideia de que, numa boa partida de futebol, quem corre é a bola e não o jogador, o professor deve falar menos e deixar que os alunos produzam mais: conversar, debater, discutir, propor soluções, trocar ideias, opinar, problematizar, analisar, e aprender significativamente.
Professor que fala muito acaba se desgastando e desperdiçando aqueles 67% do tempo que sobra para a explanação do conteúdo, pois a média de atenção do aluno é de, no máximo, um minuto e meio para cada ano de idade.
Portanto, um aluno de 10 anos só consegue ouvir o professor com atenção por, no máximo, 15 minutos (1,5 x 10). Isso explica por que aquela sua aula expositiva não funciona.
O PROFESSOR TEM CULPA PELA INDISCIPLINA?
Colega professor: somos profissionais. Desde o início da nossa formação sempre soubemos com quais ossos do ofício deveríamos lidar.
Se coloco todas essas questões para questionamento, é pelo fato de ser nosso trabalho.
Claro, existem casos de indisciplina que não são fáceis de lidar e devem contar com um acompanhamento especializado.
A profissão que escolhemos exige constante aperfeiçoamento, um eterno buscar saber mais e, devido a isso, imagino, você está lendo este texto e refletindo comigo.
O que precisamos fazer imediatamente é, como diz Sílvia Gasparian Colello, parar de jogar o “jogo da culpabilização”:
- a escola culpa a família que não educa;
- a família culpa a escola;
- família e escola culpam as mudanças na estrutura familiar causadas pelas imposições da atualidade.
No meio desse jogo, está o nosso aluno pedindo ajuda, olhar e atenção.
Fica o meu convite: vamos repensar nossa prática pedagógica?
COMO COMBATER A INDISCIPLINA
A reflexão sobre nossas ações deve ser parte do cotidiano, não apenas no âmbito profissional. Repensar significa comemorar os acertos e corrigir os erros — este é o caminho que nos leva ao sucesso.
Há uma série de ações, das mais simples às mais complexas, que precisamos pensar a respeito de nossa prática dentro e fora da sala de aula.
A lista abaixo propõe caminhos que vão lhe ajudar em sua própria organização, proporcionando a segurança necessária aos alunos em relação à figura de autoridade que está diante deles. Isso irá contribuir para combater os principais problemas de disciplina, seja na Educação Infantil, Ensino Fundamental ou Médio.
1. ESTABELEÇA AS REGRAS DESDE O PRIMEIRO DIA DE AULA
“A primeira impressão é a que fica”. Quem não conhece esse ditado? Pois é, ele traduz exatamente a postura que o professor deve ter desde o primeiro dia de aula.
Dite as regras do jogo para que os alunos saibam jogar. Dizer o que se espera da criança ou do adolescente é o primeiro passo para que façam o que é estabelecido.
Exigir silêncio e compromisso quando já ninguém respeita é impossível.
2. TENHA CERTEZA DE QUE SEU ALUNO SABE O QUE PODE E O QUE NÃO PODE FAZER
Essa dica está relacionada à anterior.
As regras devem ser claras e devem ser de conhecimento de todos. Afinal, é fácil cometer algum deslize quando desconhecemos alguma regra e, dessa maneira, criam-se as controvérsias, pois abre-se espaço para o “disse-e-não-disse”.
Por via das dúvidas, vamos deixar tudo esclarecido, não é mesmo?
3. ASSUMA AS REGRAS DA ESCOLA
Não fui eu quem decidiu assim, foi a diretora.
Se a escola estabelece regras e o professor não cumpre, por que um aluno irá cumprir uma regra estabelecida pelo professor?
Não deseduque seus alunos. Seja profissional. Assuma as regras da sua instituição de ensino, juntamente com toda a equipe.
A escola, por sua vez, deve ser um espaço para troca de experiências entre os professores, por isso algumas regras devem ser estabelecidas democraticamente, não serem uma imposição inquestionável.
4. NÃO CHEGUE ATRASADO
O professor que costuma se atrasar, quando chega, é uma decepção para o aluno.
A turma já estava em euforia pensando que teria uma aula extra de Educação Física e lá está você, chegando atrasado. Pronto. Sua aula, que você demorou para preparar e que tem atividades dinâmicas e divertidas, já começou sendo uma frustração.
5. PROFESSOR BONZINHO NÃO É EDUCADOR
Educar é podar. Quem é pai ou mãe sabe muito bem a quantidade de “nãos” ditos diariamente para seu tesouro mais precioso.
Quando não podamos nossos alunos, quando somos bonzinhos e permissivos, deixamos que uma criança ou um adolescente tome as rédeas e decida pelo que bem entende. Não deve ser assim.
6. ASSUMA QUE O ALUNO DIFÍCIL É UM DESAFIO PEDAGÓGICO E NÃO “UM SACO”
Quem nunca presenciou os professores numa sessão desabafo no momento do intervalo?
Geralmente os alunos difíceis, aqueles que nos incomodam e nos tiram do sério, tornam-se uma pedra no sapato e acabamos despejando culpas sobre eles.
Quando temos um caso assim, devemos tomar como um desafio a ser superado, pensar de que maneira resolver esse quebra-cabeça. Tome como um desafio pessoal ou profissional.
No momento em que você considerar o aluno “um saco”, pode ter certeza de que isso prejudicará ainda mais a relação entre vocês e vai afetar a aprendizagem. Conquiste seus alunos. Faça-os jogar no seu time.
7. TENHA PAIXÃO PELO CONHECIMENTO
Um colega meu, professor de Geografia, ao longo de suas aulas, despertou a curiosidade dos seus alunos para o saber que ele adquiriu ao longo da sua trajetória de magistério.
Os educandos começaram a pesquisar, por conta própria, capitais de países para questionar o professor. Eles sonham com o dia em que o mestre não saberá uma resposta.
Esse meu colega é um professor fantástico: sabe muito e, por ter paixão pelo conhecimento, conquista o respeito dos seus alunos e desperta neles o gosto pela aventura do saber.
8. FAÇA DA SALA DOS PROFESSORES UM LUGAR PARA APRENDER MAIS SOBRE SEUS ALUNOS
Voltamos à sala dos professores. Imagine um lugar em que todos, em meio a cafezinhos, dividam experiências que dão certo em determinadas turmas.
Sem medo de repartir conhecimentos e informações, professores que são uma equipe ajudam-se mutuamente.
Às vezes a experiência que o colega divide pode mudar o rumo dos nossos planos de aula e mudar o comportamento dos educandos. Não custa tentar.
9. EVITE COMPARAÇÕES
Os alunos não gostam e não merecem comparações.
Em primeiro lugar, por que a educação não é nenhuma competição. O mundo por si só estimula a competir o tempo todo, não precisamos reforçar essa premissa. Segundo, pois as comparações nada mais são que um escorregão ético.
As informações sobre alunos, turmas e professores devem ser divididas apenas entre os profissionais envolvidos com o processo educativo.
10. TENHA O HÁBITO DE FAZER REGISTROS
Nem precisa fazer essa atividade/assinar esse recado. Até a semana que vem, o professor já vai ter esquecido mesmo!.
Ai, ai. Com essa frase o respeito para com o professor já era. Tenha o hábito de fazer anotações e cumpra o que foi estabelecido, faça memória do que foi dito, exija do seu aluno. Nada pior do que um professor esquecido.
11. SEJA UM CUMPRIDOR DE PROMESSAS
Estabelecendo uma relação com a dica anterior: tudo que foi dito deve ser cumprido.
Quando uma exigência vira falácia, acaba-se o respeito também. Como uma mãe que diz: “se fizer isso vai ficar de castigo”. Pode funcionar por um tempo, mas se a mãe não cumprir, a criança não mais a respeitará quando usar esse bordão.
Então, aí está um detalhe importante: não diga o que não vai cumprir.
A criança e o adolescente estão aprendendo sobre como viver em sociedade e precisam saber das consequências de seus atos. Isso é uma coisa séria. No momento em que qualquer fantasia mirabolante for a sua promessa, você estará afastando o educando da realidade, da consciência crítica, da capacidade de decidir.
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