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quinta-feira, 23 de abril de 2015


Transtorno na aprendizagem da lectoescrita

Aprender a ler e escrever proporciona liberdade à criança, pois é por meio da leitura que ela descobre um mundo novo e por meio da escrita pode transmitir idéias e sentimentos, pôr em palavras suas emoções e comunicá-las quando desejar.
 
Habilidades necessárias para a leitura
Para que o processo de aprendizagem da leitura ocorra de forma adequada é necessário que haja maturidade adequada das bases neurofuncionais, uma vez que esta aprendizagem não envolve somente uma simples associação de neurônios, mas também a integração das diferentes destrezas que o cérebro utiliza para processar a informação dada pelos grafemas e fonemas que são percebidos pela visão e pela audição. Os dois hemisférios cerebrais intervêm neste processo.
O hemisfério direito ajuda a reconhecer a palavra como um todo, recolhe os dados sensoriais e forma imagens; não é regido pela lógica. As imagens mentais têm grande conteúdo afetivo.
Este hemisfério cria esquemas novos sem a necessidade de relacionar com os anteriores, faz a função de sintetizar, não de analisar.
O hemisfério esquerdo processa os dados simbólicos, compara os dados novos com os pré-existentes, trabalha analiticamente, é regido pela lógica.
Conforme as ações se automatizam, há maior intervenção do hemisfério esquerdo na velocidade e qualidade do processamento, enquanto o direito continua processando a nova informação que entra e utiliza os aspectos criativos necessários para a atividade. A aprendizagem da lectoescrita é muito complexa pela variedade de processos psicocognitivos envolvidos. Podemos dividi-los em três fases.
Fase logográfica: refere-se ao reconhecimento de palavras a partir de sua forma.
Fase alfabética: a criança estabelece relação de grafemas com os respectivos fonemas.
Fase ortográfica: a criança pode reconhecer a palavra sem que precise realizar uma análise fonológica.

Habilidades necessárias para a escrita
Para aprender a escrever, o gesto deve submeter-se à lei da escrita, perder sua espontaneidade e adaptar-se a uma convenção humana.
Assim como a leitura, a escrita faz parte do processo de ensino na escola. No entanto, antes disto a criança já começou a comunicar-se no papel por meio dos rabiscos ou sinais aos quais atribui um significado.
Para Ajuriaguerra “é a soma da praxia e linguagem e unicamente pode acontecer a partir de certo grau de organização da psicomotricidade que envolve uma fina coordenação de movimentos e um desenvolvimento espacial”.

Evolução do grafismo
Por volta dos 18 meses são detectados os primeiros grafismos da criança, denominados de garatujas e trata-se de um jogo motor.
Por volta dos 20 meses detectam-se movimentos de vaivém pois já começa a existir a independência do cotovelo.
Por volta dos 2 anos e meio observa-se que a criança já possui maior controle do punho e do movimento de pinça; isto já permite a realização de movimentos independentes.
Por volta dos 4 anos a criança já anuncia o que vai desenhar e planeja. Surge a figura humana em forma de girino.
Por volta dos 7 anos é o momento máximo do desenvolvimento do desenho como jogo.
Por volta dos 8 anos o desenho da figura humana revela assimilação completa do esquema corporal, aparecendo detalhes como o pescoço.
Por volta dos 10 anos já aparece perspectiva.


O desenvolvimento da habilidade manual, por meio do exercício, permitirá que os movimentos sejam organizados e tornem-se automáticos. O domínio da mão sobre o instrumento, neste caso o lápis, envolve:
  • Ajuste tônico do braço e uma adequada pressão sobre o instrumento.
  • Preensão digital localizada e continuada do instrumento de escrita.
  • Ajuste óculo-manual e visodigital sobre o movimento realizado.
O fato de a mão estar desenvolvida para a escrita não é suficiente para que a criança comece a escrever; pois escrever envolve o desenvolvimento de um novo código de comunicação, para o qual deve ser desenvolvida a especificidade de certas áreas neuropsicológicas. É necessário que a criança compreenda as convenções sociais da escrita.
 
  • A direção da escrita: da esquerda para a direta/de cima para baixo
  • Localização correta das letras pela sua orientação espacial: d b
  • Reconhecimento de um espaço limitado e reduzido (folha de papel)
  • Concentração na tarefa por tempo prolongado, com postura adequada.
  • Letra legível.
  • Aceitação de que a linguagem escrita segue regras convencionais. Assim, é estabelecida uma diferença fundamental com a linguagem oral, já que esta não tem o mesmo sistema ortográfico.
Agora que já sabemos como se dá a aquisição da leitura e da escrita, fica claro que qualquer problema que ocorra durante este processo pode resultar em dificuldade de aprendizagem. As mais conhecidas nesta linha são: dislexia, disgrafia e disortografia.

Dislexia

É um dos termos mais utilizados dentro das dificuldades de aprendizagem. Ocorre quando a criança encontra dificuldades na aprendizagem da leitura apesar de ter desenvolvimento intelectual adequado para esse processo.
Podemos dizer que não existe uma criança disléxica, pois cada criança que apresenta dislexia é um caso único. Devido ao que foi mencionado anteriormente sobre a complexidade do processo, se existe uma disfunção numa área cerebral e suas respectivas conexões com áreas corticais, os sinais que aparecerão terão traços particulares.

Devido à complexidade do assunto e ao grande número de dúvidas este tema será abordado mais a frente com maiores detalhes e esclarecimentos.
Acompanhe postagem de 10/07/10

Disgrafia
 
É um transtorno psicomotor que costuma surgir como parte da síndrome dispráxica ou dentro do quadro da debilidade motora.
Será disgráfica toda criança cuja escrita seja defeituosa, quando não tem algum déficit neurológico ou intelectual importante que os justifique.
Existem diferentes tipos de disgrafia:
 
Disgrafia postural: as dificuldades na escrita se originam da má postura ao escrever; apoiar-se sobre a mesa, agarrar-se a cadeira, folha virada, etc.
Disgrafia de preensão: a criança pega o lápis com o polegar e os três ou quatro últimos dedos. O polegar está em cima do indicador, dificultando a escrita.
Disgrafia de pressão: letras “asas de mosca” com traços muito fracos; letras “amassafolha” com pressão excessiva no traço ao escrever e letra parkinsoniana, pequena e trêmula.
Disgrafia de direcionalidade: descendente; ascendente; serpenteante.
Disgrafia de giro: as letras que necessitam de traços circulares na sua execução como a, o, d, g, f, e q são feitas com giros invertidos, ou seja, no sentido horário, dificultando o traçado da letra e sua ligação com a letra seguinte.
Disgrafia de ligação: falta de ligação entre as letras na escrita cursiva; ligação simbiótica, ou seja, escrita das letras coladas entre si, sem as linhas de união definidas; ligação elástica na qual as letras são separadas e unidas obrigatoriamente com linhas que parecem sobrecarregadas.
Disgrafia figurativa: mutilação de letras e distorções de letras.
Disgrafia posicional: verticalmente caída para trás; letras em espelho; confusão de letras simétricas como: b e d.
Disgrafia relacionada com o tamanho: macrografia e micrografia.
Disgrafia espacial: interalinhado irregular; texto margeado à esquerda.

Disortografia
A disortografia pode ser definida como o conjunto de erros da escrita que afetam a palavra, mas não o seu traçado ou grafia. A disortografia é a incapacidade de estruturar gramaticalmente a linguagem, podendo manifestar-se no desconhecimento ou negligência das regras gramaticais, confusão nos artículos e pequenas palavras, e em formas mais banais na troca de plurais, falta de acentos ou erros de ortografia em palavras correntes ou na correspondência incorreta entre o som e o símbolo escrito, (omissões, adições, substituições, etc.).

Características
  • Troca de letras que se parecem sonoramente: faca / vaca, chinelo / jinelo, porta / borta.
  • Confusão de sílabas como: encontraram / encontrarão.
  • Adições: ventitilador.
  • Omissões: cadeira / cadera, prato / pato.
  • Fragmentações: en saiar, a noitecer.
  • Inversões: pipoca / picoca.
  • Junções: No diaseguinte, sairei maistarde.
  • Omissão - adição de “h“.
  • Escrita de “n“ em vez de “m“ antes de “p“ ou “b“.
  • Substituição de “r“ por “rr“.
Orientações: Estimular a memória visual através de quadros com letras do alfabeto, números, famílias silábicas. Não exigir que a criança escreva vinte vezes a palavra, pois isso de nada irá adiantar. Não reprimir a criança e sim auxiliá-la positivamente
 


Livro:Dificuldades de aprendizagem, detecção e estratégias de ajuda
Autoras: Ana Maria Salgado (Psicóloga )

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